«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Esclarecendo: porque Bolsonaro não dá certo!

Riscos desnecessários

Marco Aurélio Nogueira
Professor titular de Teoria Política
e coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da UNESP

Acima de tudo e de todos, deve-se evitar que o País degringole
e fique sem opções
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA

Falando sem parti pris [do francês = preconceito], o problema político dos brasileiros não é termos um governo de direita ou extrema direita, nem ser Jair Bolsonaro um fundamentalista retrógrado. O problema é que:
* o presidente não conhece o País,
* não respeita princípios democráticos básicos e
* não deseja governar.
Estamos correndo riscos desnecessários.

Desde sua posse o País depende muito mais do empenho da Câmara dos Deputados que do Poder Executivo. Falam mal dos parlamentares, mas sem eles teríamos tido um semestre trágico, estaríamos mergulhados numa sequência de bravatas, provocações e ofensas promovidas por Bolsonaro e seu entorno, que parecem dispostos a tratar todos como inimigos.

Combater a esquerda e o PT é legítimo e aceitável, mas é uma patifaria quando feito na base de mentiras e agressões. A direita e a esquerda fazem parte da vida, o revezamento delas no governo dos países é normal, saudável e produtivo. Liberais, conservadores e socialistas são famílias políticas essenciais, filhos legítimos da modernidade e de suas transformações no correr do tempo. Querer eliminar um deles com argumentos de autoridade é ir contra a lógica das coisas e os parâmetros democráticos de civilidade.
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JAIR BOLSONARO
Presidente da República do Brasil

Atitudes nada inocentes e suas consequências

Debochar de brasileiros do Nordeste, agredir ativistas, professores, artistas, intelectuais e jornalistas, ameaçar a cultura e a educação com a imposição de “filtros” que não passam de censura, tratar a ciência com desprezo, beneficiar o próprio filho – tudo isso, verbalizado com escárnio, faz a Presidência da República evaporar como instância de organização do País e se transforme numa trincheira de combate.

Agindo assim, o presidente prejudica o País e a população, além de criar dificuldades para si próprio. Sua guerra ideológica contra partidos, “velhos políticos” e sociedade civil exaspera os parlamentares, aumentando os custos da transação política na aprovação de medidas e propostas governamentais. Enfraquece as instituições e os órgãos públicos, varrendo-os para a margem. Suas ações não são “folclóricas”, inocentes, mas ferem princípios básicos e fazem o País andar para trás:
* na educação,
* na cultura,
* na política internacional,
* nos direitos,
* na saúde,
* no meio ambiente,
* na economia.
Impactam negativamente a sociedade, fomentando divisões que não ajudam o País a enveredar por uma trilha de progresso, justiça e bem-estar.

Um presidente que se comporta como se fosse chefe de uma facção, não mede as palavras, confunde o público com o particular, move-se pela emoção imediata e por cálculos improvisados é uma tragédia anunciada. Poderá sobreviver ao mandato, e até prolongá-lo, mas de seu período governamental não sairá um País melhor, uma sociedade mais coesa ou um Estado administrativo mais eficiente.

Em vez de nos ajudar a superar a polarização fratricida que reinou nos últimos anos, ele a agrava, a esvazia de dignidade e a empurra para a violência explícita.
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JAIR BOLSONARO COMPARECE EM CULTO DE SILAS MALAFAIA
Período anterior às eleições de 2018

Porque Bolsonaro venceu as eleições

Jair Bolsonaro venceu as eleições de 2018 de forma inquestionável, cristalina. Mostrou senso de oportunidade ao endossar um figurino específico na hora mesma em que o eleitorado demonstrava estar cansado das ofertas políticas usuais. Suas proposições autoritárias, seu estilo informal, o uso abusivo que fez de valores religiosos e moralistas, sua habilidade em utilizar as redes sociais encontraram eco nos eleitores, que viram nele uma opção ou para derrotar o PT e virar a página, ou para depositar esperanças num líder de novo tipo.

Sua vitória, porém, também foi conseguida porque a esquerda petista se mediocrizou e a esquerda democrática não conseguiu abraçar o campo liberal-democrático e, junto com ele, virou farinha, que engrossou o pirão da extrema direita. Foi uma vitória do senso de oportunidade combinado com incompetência política. Sem isso o resultado teria sido diferente.

A vitória eleitoral, no entanto, não deu a Bolsonaro o direito de se comportar como o tirano platônico que se deixa dominar pelos desejos mais baixos e por seus demônios internos, postos em movimento pela paixão que aguça a imoderação. Numa República democrática o presidente deve ser:
* um agente da moderação,
* um construtor de consensos,
* um promotor do diálogo coletivo.
Tem suas preferências, seu credo e seu mapa de navegação, mas não está autorizado a agir por impulso, conforme uma rotina passional que só produz caos e confusão.

A conduta errática e acrimoniosa de Bolsonaro ainda não levou a sociedade à convulsão. Em parte, porque só se passaram seis meses, em parte, porque a população tem conseguido manter alguma coesão, em parte porque o Congresso tem governado o País, construindo consensos e tomando decisões estratégicas.

Faltam entrar em cena os partidos, os movimentos cívicos e os cidadãos ativos perfilados no campo democrático progressista. Até agora, eles parecem trabalhar nos bastidores, em silêncio, dando até mesmo a impressão de estarem a hibernar. A oposição que orbita o PT não consegue produzir propostas e entendimentos, limita-se a mimetizar com sinal trocado a conduta presidencial, valendo-se de uma retórica igualmente passional, que divide e inflama a população. Em vez de se lançar com coragem no mar aberto da renovação procedimental e discursiva, aferra-se a mitos e atitudes defensivas, refratárias ao moderno que se renova em direções inesperadas, surpreendentes e desafiadoras.

Temos de girar a chave e abrir novas portas. Buscar maior interlocução, abandonar projetos parciais de poder e cálculos eleitorais de curto prazo. Pode ser que se tenha de ajudar o governo a governar, a cometer menos erros e a causar menores prejuízos. Não há por que ter preconceito contra isso. Acima de tudo e de todos deve estar a preocupação de evitar que o País degringole e fique sem opções. Resistir é preciso, mas sem medo de olhar para a frente e ousar, correndo riscos que valham a pena.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sábado, 27 de julho de 2019 – Pág. A2 – Internet: clique aqui.
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RICARDO MAGNUS OSÓRIO GALVÃO
Presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
A batalha contra a realidade

Editorial

Como presidente, Jair Bolsonaro deve se ater aos
problemas reais e dar-lhes soluções

Já é sabido que o presidente Jair Bolsonaro não nutre especial apreço por dados estatísticos e científicos quando estes contrariam as suas próprias crenças, seja qual for o assunto. O problema é que os fatos se impõem por si mesmos e, ao fim e ao cabo, a desmoralização recai sobre aqueles que os negam. E quando não nega dados que lhe desagradam, o presidente Bolsonaro trata de desqualificar os métodos de trabalho para sua obtenção, baseando-se em especulações e preconceitos. Não é um bom caminho. A batalha contra a realidade é inglória.

Em pouco mais de 200 dias, o governo de Bolsonaro já desacreditou:
1º) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quando o órgão de insuspeita reputação divulgou dados sobre o desemprego.
2º) Já desqualificou pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre o flagelo das drogas.
3º) Agora, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), instituição científica de grande prestígio dentro e fora do Brasil, é que está sob ataque.

Em café da manhã com correspondentes estrangeiros na sexta-feira passada, o presidente Jair Bolsonaro contestou dados do Deter, sistema de alerta de desmatamento do Inpe, que mostrou que em junho houve um aumento de 57% da área desmatada na Amazônia em relação ao mesmo período no ano passado. De acordo com o Deter, 769 km² na região amazônica foram desmatados no mês passado. Há um ano, foram 488 km².

O presidente Jair Bolsonaro não só desacreditou os dados, mas o próprio Inpe, seu corpo de servidores e o presidente do instituto, Ricardo Magnus Osório Galvão. Aos jornalistas estrangeiros, Bolsonaro insinuou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do Inpe afirmou que Bolsonaro fez “comentários impróprios” e “ataques inaceitáveis”, que mais pareceram “conversa de botequim”. Ricardo Galvão disse ainda que a atitude do presidente da República foi “pusilânime e covarde”. Por fim, o presidente do Inpe afirmou que não pedirá demissão do cargo.
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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ)
Reconhecida e prestigiada internacionalmente - atacada por Bolsonaro

Por meio de nota, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, fez coro às críticas de seu chefe ao Inpe e disse “compartilhar a estranheza” do presidente Bolsonaro sobre a variação do porcentual de desmatamento na Amazônia no último ano. O ministro Pontes, a quem o Inpe está subordinado, disse que irá requerer “mais dados” ao instituto e que convocará Ricardo Galvão a ir a Brasília para “esclarecimentos e orientações”.

Marcos Pontes, embora militar, é um homem com origem na comunidade científica. Dele era esperado que soubesse que, em Ciência, dados são refutados por outros dados, não por especulações, sobretudo as de natureza política. Ao chancelar, na prática, a “tese” do presidente Jair Bolsonaro, segundo a qual as informações sobre desmatamento apuradas pelo Inpe são “mentirosas” e se prestam apenas a “desgastar a imagem do País no exterior”, o ministro faz clara opção por uma política de baixa extração.

Jair Bolsonaro requereu que os dados apurados pelo Inpe passem a ser submetidos a ele antes de serem divulgados. O que pretende o presidente com essa medida? Caso se depare novamente com dados que não estejam a seu gosto irá alterá-los ou, no limite, proibir sua divulgação? Seria inútil, pois os dados de satélite do Deter são acessíveis por uma série de instituições científicas mundo afora. O País, afinal, é pioneiro nesse tipo de monitoramento do meio ambiente.

Afigura-se um padrão de comportamento. O tempo irá dizer se a atitude de negação será uma marca deste governo. Dados que consubstanciem teses “de esquerda”, como supostamente seria a defesa do meio ambiente, não seriam por si sós confiáveis.

A construção de uma realidade paralela pode funcionar muito bem para manter acesa a chama dos núcleos de apoio mais aferrados ao governo. Mas Jair Bolsonaro não preside nichos. Como presidente do Brasil, deve-se ater aos problemas reais e dar-lhes soluções. Um bom começo é admitir que eles existem.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas & Informações – Sábado, 27 de julho de 2019 – Pág. A3 – Internet: clique aqui.

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