«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Sínodo da Amazônia, fique por dentro

As 15 propostas mais audaciosas do “Instrumentum laboris” do Sínodo da Amazônia

José Beltrán
Vida Nueva Digital
17-06-2019

Diferente dos documentos preparatórios para outros fóruns vaticanos, o Instrumentum laboris da Assembleia Especial para a Região Pan-Amazônica do Sínodo dos bispos, que acontecerá de 6 a 27 de outubro, em Roma, foge de qualquer generalidade e aterrissa em medidas concretas e diretas para que sejam debatidas pelos padres sinodais
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Distribuído em três partes, em todos os capítulos da segunda e terceira parte dos textos é destacada, de forma pormenorizada, uma bateria de sugestões a ser adotada pela Igreja com a finalidade de tornar realidade o convite a uma ecologia integral que acolha “o clamor da terra e dos pobres”, conforme a encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco solicita.

Para baixar, na íntegra, esse precioso Documento de Trabalho
do Sínodo Pan-Amazônico, clique aqui

Junto à midiática proposta da ordenação sacerdotal de anciãos com uma família estável, se somam outras iniciativas não menos comprometedoras para a Igreja, não só internamente, como também para uma “nova consciência ecológica” e um ativismo em matéria social, política e econômica para “desmascarar as novas formas de colonialismo presente na Amazônia”.
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O documento sentencia que a Igreja é chamada a “escutar o grito da Mãe Terra, agredida e gravemente ferida pelo modelo econômico de desenvolvimento depredador e ecocida, que mata e saqueia, destrói e despeja, expulsa e descarta, pensado e imposto de fora e a serviço de poderosos interesses externos”.

Para isso, desafia os padres sinodais a “assumir sem medo a implementação da opção preferencial pelos pobres na luta dos povos indígenas, comunidades tradicionais, migrantes e jovens, para configurar a fisionomia da Igreja amazônica”.

1. Denunciar a violação aos direitos humanos e a destruição extrativista

Reiteradamente, o Instrumentum laboris enumera todas as ameaças que a Amazônia padece frente à atual “degradação neocolonialista”, que atenta tanto contra a natureza como aos que habitam nela. Frente a isto, reivindica à Igreja um compromisso permanente em denunciar “a violação aos direitos humanos e a destruição extrativista”, além de promover “linhas de ação institucionais que promovam o respeito ao meio ambiente” e programas de formação.

2. Criar uma agenda de justiça com outros movimentos sociais

Assim, considera uma urgência assumir a denúncia “contra modelos extrativistas” e projetos que danificam o território, violam os direitos das comunidades “e promovem a morte”. Para isso, faz um chamado a trabalhar em rede para “se aliar aos movimentos sociais de base, para anunciar profeticamente uma agenda de justiça”.

3. Exigir dos governos que protejam os povos indígenas isolados

O texto sai em defesa de todas as comunidades nativas, mas dedica um capítulo especial àquelas que decidiram viver à margem da sociedade. A Igreja é chamada a velar por elas, exigindo dos governos que facilitem “os recursos necessários para a proteção efetiva”, como a criação de um censo e de reservas naturais.

Além disso, pede à Igreja uma pastoral específica para estes povos que incida na formação, para que conheçam e façam reconhecer seus direitos. Assim, convoca a “rejeitar a aliança com a cultura dominante”, para promover as culturas e os direitos dos indígenas, dos pobres e do território.
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4. Promover hábitos de consumo Laudato Si’

O texto destaca em vários momentos como a Igreja deve ser caracterizada na hora de promover “hábitos de comportamento, de produção e de consumo, de reciclagem e de reutilização de resíduos”. Neste sentido, propõe criar não apenas itinerários pastorais sobre ecologia integral, como também o “reconhecimento formal, por parte da Igreja particular, como ministério especial, ao agente pastoral promotor do cuidado da Casa Comum”.

5. Criar serviços de acolhida a migrantes indígenas

Conscientes do êxodo migratório em todo o continente, que também atinge os povos indígenas, o Instrumentum laboris pede uma maior coordenação para a acolhida nas Igrejas de fronteiras, nas cidades, assim como a promoção da integração, respeitando sua identidade cultural. Mais uma vez, insta a “pressionar, como comunidade eclesial, os poderes públicos” para que defendam, neste caso, os direitos dos migrantes. Nas cidades, propõe-se uma pastoral específica para os indígenas, com novas estruturas eclesiais que favoreçam a integração.

6. Uma Igreja inculturada frente ao colonialismo

O texto vaticano reflete uma Igreja que valorize e respeite as entidades culturais, o modo próprio de organização comunitária, através de uma pastoral familiar que, a partir das coordenadas da Amoris Laetitia, “acompanhe, integre e não exclua ninguém”, onde a família seja “sujeito e protagonista”.

Desta maneira, se promove uma Igreja inculturada e mais participativa, de tal maneira que se supere “qualquer clericalismo para viver a fraternidade e o serviço como valores evangélicos que animam a relação entre a autoridade e os membros da comunidade”. “Dado que ainda persiste uma mentalidade colonial e patriarcal, é necessário aprofundar um processo de conversão e reconciliação”, destaca.

7. Reconhecer a espiritualidade indígena como fonte de riqueza cristã

Valoriza “a espiritualidade indígena como fonte de riqueza para a experiência cristã” para, a partir daí, reivindicar uma catequese que considera a linguagem e sentido das narrativas das culturas locais em sintonia com as narrativas bíblicas, uma pregação homilética vinculada com a sua realidade.
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8. Celebrações litúrgicas com danças indígenas e tradução da Bíblia

Nesta linha, sugere-se que as celebrações litúrgicas acolham “a própria música e dança, em línguas e com vestimentas autóctones, em comunhão com a natureza e com a comunidade”. Além disso, “pede-se para superar a rigidez de uma disciplina que exclui e distancia, por uma sensibilidade pastoral que acompanha e integra”. Por isso, reivindica-se às Conferências Episcopais que adaptem o ritual eucarístico às culturas, assim como a tradução da Bíblia às línguas originais da Amazônia.

9. Ordenação sacerdotal de anciãos com uma família estável

O Instrumentum laboris sugere que estudem “a possibilidade da ordenação sacerdotal para pessoas anciãs, preferencialmente indígenas, respeitadas e acolhidas por sua comunidade, ainda que já tenham uma família constituída e estável”. A proposta se une a uma maior responsabilidade e formação dos leigos como dinamizadores da comunidade.

10. O diaconato feminino nascerá na América?

Justamente após levar em conta a ordenação dos viri probati [1], o documento também abre a possibilidade de se “identificar o tipo de ministério que possa ser conferido à mulher, levando em conta o papel central que hoje desempenha na Igreja pan-amazônica”. A Igreja entoa um “mea culpa”, na medida em que, “no campo eclesial, a presença feminina nas comunidades nem sempre é valorizada”.

11. Por um organismo e uma “luta” para tornar o Sínodo realidade

Embora já existam organismos efetivos como a REPAM, o documento sinodal estabelece “considerar a necessidade de uma estrutura episcopal amazônica que concretize a aplicação do Sínodo”. Sendo assim, também pede a criação de “um fundo econômico de apoio à evangelização, promoção humana e ecologia integral”.
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12. Criação de meios de comunicação católicos indígenas

O Instrumentum laboris deseja que a Igreja seja alto-falante dos direitos e da cultura indígena, por meio da criação de novos meios de comunicação, como emissoras radiofônicas e televisivas, o aumento da presença na internet e outros meios de comunicação de massa.

13. Formação e protocolo para evitar cair na corrupção

O Instrumentum laboris reúne as dificuldades econômicas das Igrejas da Amazônia, advertindo que se “deve prestar uma especial atenção à procedência das doações”, bem como ao objeto de seus investimentos. Por isso, reivindica às Conferências Episcopais formação e assessoramento para evitar “uma corrupção generalizada”, especialmente frente ao narcotráfico.

O documento é especialmente incisivo ao reivindicar “uma cultura da honestidade”, a formação de leigos para a liderança econômica e política, assim como acompanhar, lado a lado, os povos para evitar que sejam enganados. Nesta linha, também convida a Igreja a buscar aliados “para exigir que as empresas assumam responsabilidades sobre os impactos socioambientais de suas ações”.

14. Seminaristas integrados às comunidades

O documento reivindica a reformulação das “estruturas dos seminários para favorecer a integração dos candidatos ao sacerdócio nas comunidades”, bem como planos de formação que respondam “a uma cultura filosófica-teológica adaptada às culturas amazônicas”.

15. A necessidade de uma teologia indígena pan-amazônica

O Instrumentum laboris pede o aprofundamento em uma teologia indígena pan-amazônica. “Pede-se, por exemplo, levar em conta os mitos, tradições, símbolos, saberes, ritos e celebrações originários, que incluem as dimensões transcendentes, comunitárias e ecológicas”, aponta o documento.

Traduzido do espanhol pelo Cepat.

NOTA:

[1] - Viri probati (tradução: homens provados) é uma expressão, da Primeira epístola de Clemente (44) e retomada pelo Concílio Vaticano II (Lumen Gentium, nº 20), com a qual a lei canônica da Igreja Católica se refere aos homens casados, de vida cristã madura e contrastada, à qual, de maneira extraordinária, se admite a ordenação sacerdotal.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 4 de julho de 2019 – Internet: clique aqui

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