«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Redescobrir o Sacramento da Penitência

A penitência: recuperar a experiência
de “misericórdia”

Andrea Grillo
Teólogo italiano
Professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma,
do Instituto Teológico Marchigiano, em Ancona, e do
Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Justina, em Pádua

Uma questão, ainda, aberta pelo Concílio Vaticano II:
renovar o Sacramento da Penitência
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Com um texto eficaz publicado na última edição da revista Il Regno (disponível aqui, em italiano), Ladislas Orsy apresenta de modo sintético uma das questões abertas após o Concílio Vaticano II: a reavaliação da “disciplina penitencial”. E o autor, do alto de uma longa experiência, pode facilmente indicar não só o desenvolvimento histórico do “sacramento da misericórdia”, mas também as expectativas sucessivas ao Concílio Vaticano II (largamente desatendidas) e também as possibilidades abertas no futuro próximo.

Parecem-me apreciáveis a clareza e a parresia [em grego = franqueza] com que o autor expõe muito abertamente os modelos históricos do sacramento e a exigência de reforma que o Concílio fez surgir com clareza. De fato, ele escreve no início do seu texto: “O Concílio julgou que o atual rito e as fórmulas exteriores são expressões inadequadas do dom interior da graça e, por isso, o Concílio pediu que a Igreja busque uma configuração melhor para a administração de sacramento”.

Uma configuração melhor do sacramento, entretanto, não é simplesmente uma operação disciplinar. Também não é apenas uma questão litúrgica. Mas é uma questão doutrinal. O anseio “pastoral” do Concílio nos pede uma renovação do modo com que pensamos sistematicamente o sacramento da confissão. Por isso, o modo de administrá-lo, que precisa de uma grande reavaliação, não pode deixar de corresponder a uma “doutrina” mais adequada do próprio sacramento. Sobre esse ponto, a segunda parte do texto de Orsy é mais uma narração do que uma teorização. E, como narração, revela coisas de grande importância, mas também esconde questões igualmente urgentes.

De fato, a “solução” proposta parece uma espécie de “mediação” entre o segundo e o terceiro capítulo do atual rito. Em essência, seria uma celebração da confissão comunitária, mas com absolvição individual, embora com confissão não específica e analítica e, portanto, pública e não secreta.

Essa proposta, que certamente intercepta uma série de reivindicações presentes no contexto eclesial e social de hoje, porém, parece-me não corresponder à questão central, ou seja, ao significado teológico do sacramento para a cura do batizado. Aqui, parece-me que a proposta permanece largamente aquém daquilo que parece ser não só necessário, mas até, eu diria, suficiente. Tento explicar melhor essa minha perplexidade e o faço esquematicamente, de acordo com uma série de proposições:

a) Os “sacramentos da misericórdia” são, acima de tudo, batismo, crisma e eucaristia. O sacramento da confissão é um sacramento para “recuperar uma experiência da misericórdia” que eu já devo ter conhecido, de uma forma muito maior, na celebração eucarística dominical.

b) Portanto, a função do “sacramento da confissão” é de levar novamente o sujeito batizado, que entrou em uma crise grave, a reencontrar a experiência da misericórdia de Deus. Nisso, portanto, é renovado o dom do perdão (que não é típico desse sacramento), mas com a especificidade de um “trabalho do sujeito”, que responde ao perdão renovado de Deus com a sua palavra, com o seu coração e com o seu corpo.

c) Se o lermos desse modo, o sacramento tem o seu perfil mais típico no fato de “cuidar” da resposta do pecador arrependido à graça que Deus renova sobre ele. Por isso, não existe nenhuma “absolvição geral”, nem uma “confissão geral”, nem um “arrependimento geral” ou uma “penitência geral”, exceto em casos-limite.
 
Sem previsão, no momento,
de publicação em nosso país
d) Isso não significa que não se deva recuperar a dimensão comunitária de fazer penitência. Mas o sacramento permanece no limiar da própria necessidade, se não se ocupar de acompanhar os sujeitos não simplesmente a uma experiência de perdão, mas também ao concreto itinerário verbal, de consciência e operacional com o qual eles respondem à graça do perdão.

Por isso, a recuperação do “fazer penitência” parece-me uma dimensão intrínseca do sacramento, que não se deixa reduzir a uma celebração “mensal”, cuja função de “celebração penitencial” está fora de discussão, mas que, como tal, se assemelha mais a uma preparação e a uma pedagogia do sacramento, e não à sua celebração temporal e espacial na crise dos sujeitos cristãos. Esse é o centro de uma exigência que é pastoral e, ao mesmo tempo, requintadamente teológica. 

Procuramos refletir sobre isso, junto com Daniela Conti, no livro “Fare penitenza. Ragione sistematica e pratica pastorale del quarto sacramento” [Fazer penitência. Razão sistemática e prática pastoral do quarto sacramento] (Assis: Cittadella, 2019), que também inspirou o sentido desta minha consideração.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 30 de julho de 2019 – Internet: clique aqui.

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