«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 30 de outubro de 2021

31º Domingo do Tempo Comum – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: Marcos 12,28b-34 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos. Naquele tempo: 28b Um mestre da Lei, aproximou-se de Jesus e perguntou: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» 29 Jesus respondeu: «O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! 31 O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes». 32 O mestre da Lei disse a Jesus: «Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. 33 Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios». 34 Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência, e disse: «Tu não estás longe do Reino de Deus». E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.

Palavra da Salvação. 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Amar é mais importante que tudo!

No Templo de Jerusalém, Jesus acusou a casta sacerdotal governante de ter transformado o Templo em um covil de ladrões [Mc 11,15-19]. Não só isso, mas ele acusou os líderes de serem assassinos que irão matá-lo por causa de seus interesses [Mc 12,1-12]. Claro que eles querem matar Jesus, mas não podem porque têm medo da multidão e, por isso, há toda uma série de ataques contra Jesus para tentar difamá-lo, ataques dos quais Jesus sai cada vez mais forte. Portanto, após o ataque dos fariseus e dos saduceus, é agora a vez do escriba, lemos isso em Marcos, capítulo 12, do versículo 28 ao 34. 

Marcos 12,28b: «Um mestre da Lei, aproximou-se de Jesus e perguntou: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”»

O «então», advérbio que se encontra no início do versículo 28, está ligado a esses ataques a Jesus. Os escribas são os teólogos oficiais da época que já decidiram que Jesus deve ser eliminado. O evangelista disse que estavam procurando uma maneira de fazê-lo morrer. Para se ter uma ideia, já no segundo capítulo do Evangelho de Marcos [2,6-7], eles acusaram Jesus de ser um blasfemador e, portanto, ele tinha que morrer. A pergunta que o escriba põe a Jesus não é para aprender, ele já sabe a resposta, mas quer verificar qual é a posição de Jesus, porque Jesus tem uma atitude bastante distanciada em relação aos mandamentos. Qual é o primeiro de todos os mandamentos?

O primeiro de todos os mandamentos é o mandamento que Deus também guarda e qual é o mandamento que Deus guarda?

O repouso do sábado. Portanto, a observância do descanso no sábado equivale à observância de toda a lei. A transgressão do sábado equivale à transgressão de toda a lei e, por isso, é punida com a morte. E Jesus não guardou o sábado, ele cometeu várias transgressões neste dia. Por essa razão, a questão não visava aprender, mas controlar, acusar. 

Marcos 12,29-30: «Jesus respondeu: “O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força!»

A resposta de Jesus é surpreendente porque o escriba perguntou-lhe qual é o primeiro, o mais importante de todos os mandamentos. Bem, Jesus não menciona nenhum mandamento. Jesus se refere ao credo de Israel, Shemá Israel, «Escuta Israel», a oração que os judeus tinham que recitar duas vezes ao dia, de manhã e à noite, que se encontra no livro de Deuteronômio no capítulo sexto, do versículo 4 ao 5, mas não cita o Decálogo. Jesus acrescenta o possessivo ao texto hebraico: teu Deus, teu coração, tua alma, teu entendimento, tua força. Isso serve para mostrar a imediação, a força desse comando. A expressão «com toda a sua alma», é a vida, a psique em grego. 

Marcos 12,31: «... O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”.»

Mas para ser autêntico o amor a Deus deve ser traduzido em amor ao próximo e, então, Jesus acrescenta a esta oração um preceito retirado do livro de Levítico, no capítulo 19, versículo 18. Portanto, existe um amor absoluto a Deus e um amor relativo ao próximo. Este é o ensinamento para a comunidade judaica, mas não para a comunidade de Jesus. Na comunidade de Jesus um único mandamento será deixado onde o amor a Deus não é necessário porque o Deus de Jesus não absorve os homens, mas comunica suas energias e Jesus dirá: «Deixo-vos um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros», encontramos isso no Evangelho de João, no capítulo 13, versículo 34. E Jesus, depois de ter expressado isso, confirma ao escriba que não há mandamento mais importante do que este. 

Marcos 12,32-33: «O mestre da Lei disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios”.»

Finalmente, o escriba se volta para Jesus chamando-o de «mestre», seu ensinamento é reconhecido. Em sua resposta, o escriba omite a vida [alma]. No entanto, o escriba finalmente entende algo novo: o amor a Deus e ao próximo «vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». O profeta Oséias já havia dito isso, era o Senhor quem falava: «Pois é amor que eu desejo e não sacrifício ritual, conhecimento de Deus mais que holocaustos» [Os 6,6], é isso que o Senhor quer e que Jesus voltou a propor, não um sacrifício a Deus, mas um amor pelos outros. Isso é mais importante do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios. 

Marcos 12,34a: «Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência, e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”.»

Jesus diz ao escriba que ele não está longe do Reino de Deus, porém ele não está perto. Por quê? Porque para entrar no Reino de Deus a conversão é necessária e a conversão baseia-se nas três atitudes que Jesus exige:

a) em vez de acumular para si, partilhar generosamente com os outros;

b) em vez de se elevar acima dos outros, rebaixar-se com os menores; e

c) em vez de mandar, servir, mas tudo isso é difícil para um escriba. 

Marcos 12,34b: «E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.»

O evangelista conclui que ninguém tinha coragem de questioná-lo mais, mas não há reação do escriba, ele não aceita o convite para fazer parte do Reino de Deus. A sua questão era uma questão teórica, uma opinião escolástica, teológica, permanece na sua tradição e não aceita o convite de Jesus. Até porque, para entrar no Reino teria de se rebaixar e pôr-se a servir, e isto, ao ilustre teólogo, a um teólogo oficial que ocupava uma posição importante na sociedade era quase impossível. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

Como é difícil passarmos da “teoria” à “prática”!

Esse pensamento me vem em mente, ao ler e refletir sobre a passagem do Evangelho deste domingo. Há pessoas, dentro e fora da Igreja, que sabem muito bem o que diz a Bíblia, o que dizem os Padres da Igreja (os teólogos dos primórdios do cristianismo), o que diz a doutrina cristã, o que dizem os documentos do Magistério eclesial, o que diz o Catecismo da Igreja Católica. Porém, não conseguem viver, de verdade, aquilo que sabem! 

O mais famoso educador brasileiro, e um dos maiores pedagogos que o mundo recente já teve, Paulo Freire (1921-1997), tem uma frase lapidar sobre essa questão:

«A teoria sem a prática vira “verbalismo”, assim como a prática sem teoria vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a PRÁXIS, a ação criadora e modificadora da realidade.»

É por isso que as ações, meramente exteriores e rituais, tais como os sacrifícios e holocaustos realizados no Templo de Jerusalém, não agradam a Deus nem muda a vida de ninguém! Bem como, as práticas de devoção exteriores e tradicionais, por si só, não salvam e não indicam que seus praticantes sejam seguidores verdadeiros do Mestre, de Jesus Cristo. 

Jesus deixa claro que o fundamental em nossa vida é a vivência do AMOR! Como destaca, corretamente, frei Maggi em seu comentário acima, para Jesus nem há necessidade de se mencionar o mandamento do amor a Deus, pois é o amor ao próximo que determina quem somos e o que fazemos neste mundo! É impossível amar a Deus sem amar ao próximo, como nos adverte a Primeira Carta de João (4,20):

«Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê.»

Aliás, a verdadeira religião, a autêntica fé em Deus é aquela que se traduz em prática, em amor, em cuidado e atenção aos necessitados, em ajuda mútua sem esperar e solicitar NADA em troca. Apenas, pela alegria de aliviar a dor e aumentar a felicidade das pessoas! É isso que nos HUMANIZA, é isso que nos faz ser CRISTÃOS, CRENTES EM DEUS! Ouçamos a confirmação disso, lendo a Carta de Tiago (1,27):

«Religião pura e sem mancha diante de Deus e Pai é esta: assistir órfãos e viúvas em suas dificuldades e guardar-se da contaminação do mundo.»

Concluo citando um feliz e acertado pensamento do teólogo espanhol José María Castillo: “esta força do amor é o que mais nos une aos outros e ao Ser Transcendente, ao sentido último da vida”.


 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Entramos contigo, Senhor Jesus, na terra prometida onde tu mesmo te fazes o nosso “leite” fazendo-nos saborear, aos poucos, o alimento da tua Palavra. Tu, Jesus, és o “mel” que adoça o amargo de estarmos longe de ti. Ensina-nos a amar o Pai com todo o coração e com toda a mente e com toda a força e amar o próximo como a nós mesmos. É a estrada principal dos teus mandamentos, Jesus, nela corremos com a certeza de que, se acolhermos a tua Palavra, “tu e o Pai virão até nós”. Então, não temeremos mais os dias de desventura nem os nossos inimigos; porque tu, Senhor, és nosso apoio, tu nos concedes grandes vitórias e és fiel para sempre. Amém.» 

(Fonte: Carlos Mesters. 31ª domenica del tempo ordinario. In: Anthony Cilia, O.Carm. [Org.] Lectio Divina sui vangeli festivi per l’anno litúrgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 600.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – XXXI Domenica Tempo Ordinario – 04 novembre 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 27/10/2021).

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