«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

4º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 4,21-30 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Testemunhar o amor e o perdão é perigoso!

O Evangelho deste domingo nos apresenta a primeira pregação malsucedida de Jesus, em Nazaré. O evangelista - já o vimos no domingo passado - apresenta um Jesus em Nazaré que se levanta e lê uma passagem famosa, bem conhecida, aguarda pelo povo, a do capítulo 61 do profeta Isaías, que indicava a vinda do Messias. Mas, chegando ao ponto em que diz «proclamar o ano da graça do Senhor», Jesus interrompe a leitura e não continua com o que era o versículo mais esperado: «e a vingança do nosso Deus».

Era o que o povo esperava, uma vez que era dominado pelos romanos. Então vemos a continuação desta passagem, capítulo 4 de Lucas, dos versículos 21 a 30. 

Lucas 4,21-22a:** «Então, começou a dizer-lhes: “Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura que acabais de ouvir”. Todos lhe davam testemunho...»

O evangelista diz: «Todos», isto é, todos os presentes na sinagoga. E, aqui, devemos traduzir bem este termo, «lhe davam testemunho». O verbo «testemunhar», em grego, é martireo, daí o termo «mártir» que todos conhecemos. Depende-se do contexto para se saber tratar-se de um testemunho a favor ou contra. Aqui, está claramente um testemunho contra. Então é melhor traduzir: «Todos estavam contra ele». 

Lucas 4,22b: «... admirando as palavras cheias de graça que saíam de sua boca.»

Eles ficaram chocados. De quê? Das «palavras cheias de graça», porque Jesus não falou de vingança contra os dominadores, mas apenas de graça. 

Lucas 4,22c: «E diziam: “Não é este o filho de José”?»

Eles não estão questionando a paternidade de José. Mas «filho», na cultura da época, não indica apenas aquele que nasceu do pai, mas aquele que se assemelha a ele no comportamento. Assim, evidentemente, Jesus não se parece com seu pai no comportamento. Provavelmente, José também compartilhava desses ideais nacionalistas violentos. Nos textos hebraicos da época, o apelativo de José era, até mesmo, «a pantera», isso dá a ideia de algo belicoso. 

Lucas 4,23a: «Ele, então, lhes disse: “Sem dúvida, me citareis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’.»

Então, Jesus não se parece com seu pai. Em seguida, Jesus, em vez de acalmar os ânimos, aumenta a dose citando um provérbio. Será algo semelhante ao que lhe dirão na cruz: «A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo» (Lucas 23,35b). 

Lucas 4,23b: «... Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze também aqui, em tua própria terra!”»

E aqui, Jesus, aumentando a dose, fala de uma cidade rival de Nazaré, usando um termo pejorativo «naquela Cafarnaum». Usando o termo «pátria» o evangelista quer deixar claro que o que acontece em Nazaré será, portanto, representativo de tudo o que acontecerá em sua terra. 

Lucas 4,24: «E acrescentou: “Em verdade, vos digo que nenhum profeta é aceito em sua própria terra...»

Quando Jesus inicia uma frase com a expressão «em verdade», isso indica uma afirmação solene. Por quê? O profeta, quem é? É aquele indivíduo que, em sintonia com Deus, não repete as coisas do passado, mas cria as novas. Por isso, ele sempre será vítima da aversão e oposição da classe sacerdotal no poder. E, então, Jesus faz o que não deveria ter feito. Havia dois episódios na história de Israel que se preferia que ficassem no esquecimento, no passado. Foram episódios em que, diante das emergências, Deus não socorreu os judeus, o povo eleito, os que tinham direitos, privilégios, mas foi socorrer ninguém menos que os desprezados, os pagãos. 

Lucas 4,25-26: «Ora, para dizer a verdade, no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses e uma grande fome atingiu toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, o profeta Elias não foi enviado a nenhuma delas, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia.»

Eram dois episódios que se preferia esquecer. Jesus, por outro lado, os remove do esquecimento. Jesus recorda que o profeta Elias é enviado a uma terra pagã. Ele está indicando que o amor de Deus é universal, o que não significa apenas «extensão», ou seja, em todos os lugares, mas «qualidade», é para todos. O amor de Deus não é atraído pelos méritos das pessoas, mas pelas suas necessidades. 

Lucas 4,27: «E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio.”»

Em seguida, Jesus aumenta a dose, novamente. Cita um outro pagão, ainda por cima, um inimigo de Israel. É demasiado! 

Lucas 4,28-29a: «Ao ouvirem essas palavras, todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade.»

Eles literalmente «espumaram» de raiva. O evangelista está antecipando o que mais tarde será seu fim, quando Jesus for morto fora da cidade santa de Jerusalém. 

Lucas 4,29b: «Levaram-no para o alto do morro...»

O morro, aqui, recorda o Monte Sião, onde Jerusalém está construída, portanto, o evangelista, neste episódio, está antecipando o que mais tarde será o fim de Jesus, a rejeição total por parte de seu povo. 

Lucas 4,29c: «... sobre o qual sua cidade estava construída, a fim de precipitá-lo.»

A primeira vez que Jesus prega em uma sinagoga, o resultado é que eles tentarão matá-lo. Para Jesus, que jamais estará em perigo com os pecadores, com a gentalha, com a escória da sociedade, os lugares e pessoas mais perigosos serão os religiosos. Serão estes que tentarão matá-lo, apedrejá-lo, eliminá-lo. 

Lucas 4,30: «Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.»

Por que o evangelista escreve esses dados que parecem um pouco estranhos? Toda a multidão presente na sinagoga tentando capturar Jesus e matá-lo e como ele passa pelo meio dela? O evangelista antecipa o fato da ressurreição: a morte não tomou posse de Jesus, mas ele continua seu caminho.

E conclui a passagem com: «continuou o seu caminho». A caminho de onde? Em direção a Jerusalém. Então, Jesus, a partir desta primeira recusa em sua terra, entendeu que ele encontrará apenas oposição, ele encontrará o perigo de morte. Mas Jesus não desiste, ele deve ser testemunha do perdão de Deus, do amor do Pai mesmo à custa da própria vida. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 3. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2019. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“O que importa é a honradez e a bondade, não a religião a qual tu pertences.” (Papa Francisco)

Há, sempre, um preço alto a se pagar por dizer a verdade, ser sincero, pela coragem de ser coerente, pelo fato de não discriminar e querer o mal a ninguém! É o preço por se viver o ágape, o amor incondicional, o amor-doação sem reservas! Em uma terra fértil para o nacionalismo, uma vez que os habitantes se sentiam humilhados e oprimidos pelos romanos, pelo grande Império, Jesus não traz uma mensagem e gestos que reforçam o ódio, a divisão das pessoas, a violência e a guerra. Ao contrário, ele faz questão de mostrar que Deus é Pai de todos, ama a todos, quer o bem de todos! 

E Jesus não ficou, apenas, em palavras! Ele teve várias atitudes nessa direção. Ele preferiu:

* o centurião romano (Lc 7,2-10 e paralelos);

* a mulher cananeia (Mt 15,21-28; Mc 7,24-30);

* o bom samaritano, por cima do sacerdote e do levita (Lc 10,30-35); e

* o samaritano leproso mais que os nove leprosos judeus (Lc 17,11-19). 

Jesus não é propriedade de nenhuma cultura, raça ou religião! Ele é patrimônio de toda a humanidade.

Jesus foi vítima de uma religião que:

* excluía os mais pobres, os mais fracos e pequenos;

* que privilegiava um povo em detrimento dos demais;

* que alimentava divisões entre puros (= santos) e impuros (= pecadores);

* que formava uma imagem distorcida de Deus na mente e no coração das pessoas;

* que justificava a miséria e a concentração de riquezas;

* que mantinha o povo submisso a uma casta sacerdotal e tradições meramente humanas! 

Jesus é rejeitado porque apresentou-se como Profeta dos pobres, libertador dos oprimidos e perdoador dos pecadores. É bom nos recordarmos, sempre, de uma verdade simples e evidente:

«Deus não se encarnou em um sacerdote, consagrado a cuidar do Templo. Tampouco, em um doutor, ocupado em defender a ordem estabelecida pela Lei. Ele encarnou-se e revelou-se em um Profeta, enviado pelo Espírito para anunciar aos pobres a Boa Nova e aos oprimidos a libertação.»

(José Antonio Pagola)

O grande perigo que corremos, desde sempre e, nos dias atuais, ainda mais, é desprezar, ocultar esse ESPÍRITO PROFÉTICO que é essencial ao cristianismo! Preocupados em «restaurar a religiosidade» de nosso povo diante da secularização e indiferença religiosa dos tempos de hoje, podemos cair no extremo de nos tornarmos uma religião sem incidência na vida concreta das pessoas e da sociedade! 

Se, assim, agirmos, Jesus fará como em Nazaré, «passando pelo meio deles, continuou o seu caminho» (Lucas 4,30). Ele seguirá seu caminho, seu projeto, contando com outros que lhe sejam fiéis e mais eficazes! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor Jesus, pouco foi preciso, naquele dia, em Nazaré, para transformar a atenção e a surpresa em dúvida e, depois, indignação. Está certo que tu eras um deles, mas falavas como jamais haviam escutado. Simples era o teu dizer, mas demasiado novo e inesperado. Impossível seguir-te. Para eles, eras o “filho de José”. O Messias? Sim, ele viria; eles o teriam esperado. Ainda. Não podia ser assim ordinário, cotidiano, popular, laborioso. Onde estava a majestade de Deus? Também nós nos consideramos sabidos, melhores que os outros... E da tua Palavra? Procuramos não ouvi-la, disfarçamos o coração de outras expectativas e outras esperanças. Vem, Jesus, em nossas assembleias e abre o coração de cada um de nós à vontade de Deus Pai, à escuta da tua Palavra... Ajuda-nos a reconhecer a tua presença para acolher a oferta de graça que pode mudar a nossa vida, ainda que isso implique renunciar a tantos preconceitos e ao desejo de impor a Deus as nossas ideias. Amém.»

(Oração de Marino Gobbin)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – IV Domenica del Tempo Ordinario – 03 febbraio 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 28/01/2022).

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