«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Festa do Batismo do Senhor – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 3,15-16.21-22

 Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

"BATISMO DE CRISTO" - tela a óleo de Vladimir Zagitov (2003)

Batismo: gesto de fidelidade ao plano de Deus

João Batista, no deserto, havia anunciado o batismo como sinal de conversão, ou seja, uma mudança de vida, para o perdão dos pecados. A resposta é inesperada: todas as pessoas se juntam a ele. O povo entendeu que o perdão dos pecados não pode acontecer no Templo, com um ato litúrgico, com um sacrifício ao Senhor, mas com uma mudança de vida.

Mas se o povo acreditou e correu para João Batista, as autoridades religiosas, os líderes não o fizeram, sempre resistindo a qualquer convite para mudar. 

Lucas 3,15-16a:** «O povo estava na expectativa e todos se perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. Por isso, João declarou a todos: “Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias”.»

O povo acredita ter identificado esse profeta no deserto como o esperado libertador de Israel. Mas João, imediatamente, esclarece que não. João respondeu a todos dizendo que mergulhava as pessoas em um líquido que é externo ao ser humano, que é um sinal de mudança de vida para obter o perdão dos pecados. O evangelista usa uma expressão que deve ser inserida no contexto cultural da época para compreendê-la: «Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias».

O que João Batista quis dizer com essa expressão? Havia uma lei na instituição matrimonial da época, que se chamava «do levirato». Sobre o que era essa lei? Quando uma mulher ficava viúva sem filhos, seu cunhado era obrigado a engravidá-la. A criança nascida dessa relação carregaria o nome do marido falecido [cf. Dt 25,5-7]. Era a forma de perpetuar o nome da pessoa.

Quando o cunhado se recusava a engravidar essa mulher [sua cunhada], provavelmente por motivos de interesse, porque a mulher sem filhos, sem descendência, era mandada de volta para o seu clã familiar. Aquele que, na escala social, jurídica, tinha direito depois dele, procedia à cerimônia de descalçamento [cf. Dt 25,8-10], retirava as sandálias dessa pessoa [do cunhado que não quis ter relações com a cunhada viúva], pegava-as e cuspia nelas. Era um gesto simbólico que significava o mesmo que dizer: «seu direito de engravidar essa viúva, agora, me pertence».

Aqui está, então, o significado dessa expressão de João Batista, que encontramos no Antigo Testamento, nas histórias de Rute e nos vários livros. Dizendo-se não ser digno de desamarrar as sandálias daquele que vem e é mais forte que ele, João Batista afirma: «não sou eu que devo fecundar esta viúva!» É bom lembrar que o povo de Israel era considerado uma viúva. Essa será uma tarefa «daquele que virá». 

Lucas 3,16b: «Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.»

Enquanto João imergiu as pessoas na água, símbolo de uma mudança de vida, ele [o messias] irá embeber, imergir, e impregnar os seres humanos da própria vida divina.

Então, aqui, a liturgia corta alguns versículos que indicam a eliminação de João Batista. É a resposta do poder para a conversão. Os poderosos nunca querem mudar! Mas também é a estupidez do poder,...

... porque a perseguição sempre faz a vida florescer, não a extingue.

Sempre que os poderosos desejam apagar uma voz, surge uma ainda mais poderosa e mais forte. 

Lucas 3,21a: «Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo.»

Retomamos nossa leitura no versículo 21. Então o povo entendeu que, entre Jerusalém e o templo onde, por meio de um sacrifício ao Senhor, o perdão dos pecados era obtido, e o DESERTO, por um rito de imersão, era neste último (o deserto) que se encontra a verdade.

Eis que aparece Jesus, que também vai ser batizado. Mas por que Jesus é batizado? O batismo era um símbolo de morte para o povo. Morrer para o passado, aquilo que era um estado, para começar uma vida nova. Também para Jesus, o batismo é um sinal de morte, não para um passado de pecado que ele não tem, mas a aceitação da morte no futuro. Jesus dirá mais tarde, neste mesmo evangelho, que há um batismo no qual ele deve ser batizado e ele está em angústia até este momento chegar. Trata-se de sua morte. Portanto, ...

... para Jesus, ser batizado significa: por fidelidade ao amor de Deus, aceitar a perseguição e até a morte.

Lucas 3,21b: «E, enquanto rezava, o céu se abriu...»

O que esse céu que se abre significa? É a comunicação permanente e definitiva do homem com Deus, o céu indica a realidade divina. Quando há um homem que se compromete a manifestar fielmente o amor de Deus, a comunicação entre Deus e o ser humano é contínua. Com Jesus essa comunicação será ininterrupta. 

Lucas 3,22a: «... e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba.»

O evangelista diz que «o Espírito Santo desceu sobre Jesus». O artigo definido indica a totalidade. O Espírito é a força, a energia do amor de Deus, que desce sobre Jesus. Por que o evangelista indica em forma visível, em forma corpórea? Para dizer que foi algo real, plenamente; como uma pomba. A imagem da pomba recorda vários elementos, diz respeito à criação, quando o Espírito de Deus pairava sobre as águas e na interpretação rabínica dizia-se que era como uma pomba. Então, em Jesus está a nova criação. Acima de tudo, relembra a pomba que saiu da arca de Noé, depois do dilúvio, em sinal de perdão.

Jesus é o perdão de Deus. Mas também lembra um provérbio palestino que diz: «como o amor de uma pomba ao seu ninho». A pomba é um animal que continua afeiçoado, muito apegado ao seu ninho original. Pode-se trocar o ninho dela, fazer um novo, mas ela não quer saber.

Assim, Jesus é o ninho do Espírito, é lá onde a plenitude do amor de Deus se manifesta.

Lucas 3,22b: «E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”.»

Se a voz vem do céu, portanto, vem de Deus. E aqui o evangelista faz uma colagem de vários textos do Antigo Testamento, do profeta Isaías, de um salmo, do livro de Gênesis: «Tu és o meu Filho amado». O filho amado indica o herdeiro, aquele que tudo herda de seu pai.

Portanto, Deus confirma que em Jesus está toda a sua realidade, e o povo só tem que acolhê-lo. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 2. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2016. 

"BATISMO DE CRISTO" - afresco de Giotto di Bondone (Itália - 1305)

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“O batismo é um renascimento. Tenho certeza de que todos nós lembramos da data de nosso nascimento. Todos. Mas me pergunto, um pouco em dúvida, e pergunto a vocês: cada um de vocês se lembra qual foi a data do seu batismo?” 

(Papa Francisco – Audiência Geral da Quarta-Feira, 11/04/2018)

Para haver vida, não pode haver a morte! Isso parece algo óbvio, simples de se compreender. No entanto, essa consciência não está presente em todos nós quando nos referimos ao batismo. O batismo, como vimos acima, é a superação da MORTE, seja a morte do pecado (para nós batizados), seja a morte de cruz como consequência de uma vida coerente de entrega, acolhida e libertação dos mais fracos, humildes e pobres da sociedade (no caso de Jesus). Batismo, portanto, é a superação da morte e de tudo aquilo que a provoca! 

A partir dessa constatação, surgem algumas questões que nos devem intrigar:

* Por que nós cremos em Deus, em Jesus, o Cristo?

* Algo mudou ou muda em nossa vida por acreditarmos ou não em Deus, em seu Filho?

* A fé em Cristo serve para algo? 

Cuidado!!! Muitos poderão responder, por exemplo, dizendo: “Creio porque recebi essa tradição de meus pais e a conservo viva dentro de mim”. Ou então: “Sim, minha vida mudou, pois sou cristão, eu tento levar uma vida cristã”. Ainda: “A fé em Cristo me leva a ter esperança, a crer na vida eterna, a procurar fazer o bem nesta vida terrena”. Não devem se enganar: nem sempre ter sido batizado, dizer-se cristão(ã) e frequentador de uma Igreja cristã indica, de fato, na realidade, que sejamos seguidores e discípulos verdadeiros de Cristo nesta Terra! 

Podemos ter sido batizados na água, mas não no Espírito Santo, como nos disse Jesus (cf. Mt 3,11; At 1,5)! Somos batizados, de fato, e cristãos verdadeiros se orientamos e damos sentido à nossa vida, sempre, a partir daquilo que Jesus Cristo nos ensinou! Somente se fizermos uma experiência autêntica de encontro com Deus, podemos nos considerar batizados, de verdade, e discípulos de Cristo, na realidade!

E como podemos ter certeza de que fizemos ou estamos fazendo esse encontro com nosso Pai e Criador? 

Isso é possível quando:

* sabemo-nos acolhidos por Deus no meio da solidão;

* sentimo-nos confortados por Ele na dor e na depressão;

* nos reconhecemos perdoados do pecado e da mediocridade;

* sentimo-nos fortalecidos na impotência e caducidade;

* nos vemos levados a amar e criar vida no meio da fragilidade;

* nos sentimos impelidos a promover e defender a vida humana e da natureza;

* somos motivados a ser justos e promovermos a Justiça;

* nos sentimos identificados, sempre, com os mais pobres, com os mais fracos, com os mais indefesos da sociedade;

* enfim, nos sentimos e vivemos responsáveis por tudo e todos neste mundo criado e amado por Deus! 

Concluindo, faço minhas as belas e profundas palavras do biblista espanhol José Antonio Pagola:

«Por que acreditar? Para nos atrevermos a ser humanos até o fim; para não afogar o nosso desejo de vida até o infinito; para defender a nossa liberdade sem entregar o nosso ser a nenhum ídolo; para permanecer abertos a todo o amor, a verdade, a ternura que há em nós. Para não perder nunca a esperança no ser humano nem na vida

 
Oração após a meditação do Santo Evangelho

 «Senhor Deus, estou aqui para vos pedir pela minha vocação. Vós me chamastes no Batismo para ser missionário(a) com vosso Filho. Fazei ressoar em meu ouvido e em meu coração vosso terno e suave convite para o serviço de vosso Reino. Despertai-me, em cada dia, para vosso amor que me liberta e me traz paz e confiança. Fazei-me colaborador(a) de vosso Reino pelas minhas palavras, gestos e atitudes. Eu sei que é vosso amor que me liberta. Por isso, depois de ouvir vossa voz que me chama, quero me dispor inteiramente para vosso santo serviço. Quero amar os mais abandonados e rejeitados em nosso mundo. Quero abraçar vossa vontade em minha vida. Quero, em primeiro lugar, cumprir vossa vontade. Para que eu realize esse meu desejo, eu vos peço: Dai-me vosso Espírito Santo, que é vossa luz divina e que me santifica. Maria Santíssima, Mãe do meu Redentor, ajudai-me alcançar o que sinceramente desejo: Servir ao vosso Filho Jesus. Amém.»

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – Maria Santissima Madre di Dio – 1 Gennaio 2017 – Internet: clique aqui (Acesso em: 07/01/2022).

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