O outono da civilização
Ou nos preparamos ou sucumbiremos aos problemas climáticos que se aproximam
«Crític» 16-03-2022
Entrevista
com Antonio Turiel
Doutor em Física Teórica, especialista em oceanografia e pesquisador do Conselho Superior de Investigações Científicas – CSIC, na Espanha
ANTONIO TURIEL |
Não faltaram alertas,
estudos e pesquisas! Mas o colapso se aproxima e não é possível manter esse
nosso ritmo de crescimento econômico capitalista!
Acaba de publicar um novo livro, El otoño de la civilización (Escritos Contextatarios, 2022), com prólogo de Yayo Herrero e epílogo de Jorge Riechmann.
De tendência decrescentista
e colapsista, há anos alerta sobre a crise energética e o pico do
petróleo e outras matérias-primas, e suas análises são muitas vezes
críticas, tanto com os defensores dos combustíveis fósseis como também com os
das energias renováveis.
Fora da academia, seu blog The Oil Crash e seu canal no Twitter se tornaram uma referência para ativistas ecologistas. Seu livro Petrocalipsis: Crisis energética global y cómo (no) la vamos a solucionar (tradução: Petrocalipsis: crise energética global e como [não] a iremos solucionar), em 2020, pela Alfabeto, da Espanha, tornou-se quase um best-seller ecologista.
Publicado, em 2022, por Escritos Contextatarios, Barcelona, Espanha. Sem previsão de publicação no Brasil. |
Eis a entrevista.
Falemos do conceito “outono da civilização”, que aparece no título
do novo livro de artigos publicados em coautoria com Juan Bordera. Por que
outono?
Antonio Turiel: O outono é
a última etapa da vida. Até o verão, viemos crescendo: tudo era fácil e
abundante. Agora isto acabou. A civilização, tal como a entendemos hoje,
está chegando a uma fase crucial. Que nossa civilização termine pode
significar que se adapte ao novo cenário e, portanto, surja algo novo, ou pode
ser o nosso final, assim como outras civilizações entraram em colapso antes.
Como dizia Yayo Herrero, o inverno também pode ser uma época de recolhimento até que chegue uma nova primavera. Mas, antes disso, temos que passar por uma prova. Os próximos anos e décadas serão muito duros. Podemos nos preparar para passar este inverno cruel, ou sucumbiremos no inverno. Esta é a grande encruzilhada.
“Estamos
no Século da Grande Prova”, diz sempre o filósofo e ecologista Jorge Riechmann.
Antonio Turiel: Nós, cientistas, há tempos avisamos que as coisas são piores do que são reportadas nos relatórios oficiais, pois alguns governos maquiam as conclusões. A grande questão a ser decidida hoje em dia não é mais o que fazer, mas como fazer a transição ecológica. Hoje, busca-se fazer uma transição continuísta, na qual se tenta substituir a energia fóssil por uma energia renovável elétrica, supondo que isto seja possível.
JORGE RIECHMANN - nasceu em Madrid, em 1962, 59 anos. É poeta, tradutor, sociólogo e ambientalista espanhol muito influente |
Seguindo
com a sua metáfora, em que momento acredita que o VERÃO acabou para nós?
Antonio Turiel: O “verão”
acabou em 2008. O momento culminante de máximo esplendor de recursos seria nos
anos 1960. Nós nem nos preocupávamos com o futuro! Então, começaram a surgir
as primeiras tormentas, como a Guerra do Vietnã... e, sobretudo, a crise do
petróleo de 1973 e a guerra entre o Irã e o Iraque.
Apesar das advertências do Clube de Roma
sobre os limites do crescimento, seguimos adiante sem parar.
Tudo parecia que ia bem, até... 2008. Então, o mundo todo viu que o sistema não podia seguir como até agora, e tudo explodiu. Lembramos daquela crise pelas hipotecas subprime e tudo mais, mas também foi uma crise energética, e foi o momento de pico dos preços do petróleo, que chegou a 147 dólares o barril Brent. Desde então, não levantamos mais a cabeça.
A
tempestade perfeita chega após a covid-19. Em plena pandemia, estouram todas as
crises: escassez de matérias-primas, preços recordes do petróleo e do gás,
alimentos em alta... E a cartada final: a guerra na Ucrânia com o confronto de
fundo entre duas potências nucleares.
Antonio Turiel: Agora,
estão se deflagrando as contradições que tínhamos enterradas há muitos anos. Já
tínhamos muitos desses problemas, mas nós os ignoramos. Há tempo,
cientistas e organizações da ONU dizem que estamos fazendo coisas
insustentáveis, mas seguimos com elas, então, chega um momento em que a
coisa entra em colapso.
Esses problemas eram interpretados
como fenômenos isolados, mas estão conectados. E possuem a sua origem em uma
doença:
o problema da sustentabilidade do sistema
capitalista, que nos leva à autodestruição porque esbarrou nos limites
biofísicos do planeta.
E este choque se manifesta:
* na perda
de biodiversidade,
* na
escassez de água,
* na
degradação do meio ambiente, incluindo as mudanças climáticas, e
* o esgotamento de recursos naturais.
Publicado, na Espanha, pela LOS LIBROS DE LA CATARATA, Madrid, em fevereiro de 2015. Ainda não há tradução para o português, no Brasil |
E agora... a guerra! Em que grau, em matéria energética, de fato,
dependemos da Rússia?
Antonio Turiel: Nem a União
Europeia, tampouco os Estados Unidos podem desconsiderar muito a Rússia porque
dependemos deles. O caso europeu é evidente: 45% do gás e 30% do
petróleo que importamos vem daquele país. Mas, até mesmo nos Estados
Unidos, 22% do diesel que consumiram em fevereiro veio da Rússia.
E nossas fábricas dependem de minerais que os russos possuem, como, por exemplo, ferro, alumínio, titânio, paládio. Por isso, a Rússia se sente forte para fazer o que faz. E, por isso, apesar da retórica de nossos dirigentes, não estamos em guerra contra a Rússia e continuamos comprando gás, petróleo e tudo o que precisamos deles.
Há
uma frase do ativista e pensador Luis González Reyes que considero crucial para
entender o momento: “Muitas coisas que pareciam impossíveis estão acontecendo
ao mesmo tempo. Estamos vivendo as primeiras etapas do colapso”. Concorda com
ele?
Antonio Turiel: O colapso
é um processo, não é um acontecimento instantâneo. Para explicar a queda do
Império Romano, é possível falar do saque de Roma, o do último imperador
romano, mas, na verdade, a queda foi um processo que durou séculos. Contudo, caminhamos
para um processo de colapso mais rápido, que pode durar décadas.
Agora, estamos em um momento de
pró-colapso, ou seja, uma situação que favorece o colapso, em vez de mitigá-lo
ou de atrasá-lo. As sociedades entram em colapso porque se prendem a uma
ideia equivocada:
nossa ideia é querer um crescimento
infinito, em um planeta finito.
Mas também é verdade, e sempre enfatizo, que quase todos os processos de colapso são reversíveis. Não é verdade que nada possa ser feito para detê-lo.
O
preço do petróleo está em números recordes. Você chegou a dizer que, com esses
preços do petróleo, estamos “no limite de resistência da economia mundial”.
Antonio Turiel: O petróleo
representa um terço de toda a energia que consumimos. No caso do transporte,
significa mais de 95% da energia. E, concretamente, o diesel é o
sangue de nosso sistema globalizado. Além disso, o petróleo também é
crucial para derivados como plásticos, produtos químicos e reativos básicos
para a indústria. Portanto, o petróleo é fundamental para a economia atual.
Caso o preço suba demais e isto dure muitas semanas, entraremos em recessão.
O Estado espanhol já está no limite de resistência, e é muito provável que em breve entremos em recessão. A única coisa que poderia nos salvar é a injeção econômica monstro da União Europeia por meio dos fundos Next Generation, e isto injetará de súbito, como se fossem esteroides, maior resistência econômica à Espanha.
Por que o preço da gasolina está aumentando? É por culpa da guerra
na Ucrânia e das sanções na Rússia?
Antonio Turiel: Não! Há semanas, está subindo. Os países da OPEP estão ficando sem capacidade de produção ociosa de petróleo, ou seja, não podem guardar produção para colocá-la no mercado mais tarde e assim controlar os preços. A produção de petróleo cairá de 20% a 50% até 2025. Desde o ano 2014, as empresas petroleiras estão diminuindo sua pesquisa de novas reservas.
Por quê?
Antonio Turiel: Porque
sabem que perderiam dinheiro. O que resta não é rentável. A explicação para o
que está acontecendo, agora, está em que no período de 2011 a 2014 as
petroleiras não aumentaram mais os preços, embora estivessem perdendo muito
dinheiro, porque a economia não teria resistido, e perderam muito
dinheiro.
Um relatório do Departamento de
Energia dos Estados Unidos, publicado em 2014, mostrava como as 127 maiores
empresas de petróleo e de gás do mundo estavam perdendo dinheiro ao ritmo de
100 bilhões de dólares por ano. De fato, a Agência
Internacional de Energia havia avisado, há anos, que os preços do
petróleo aumentariam no período entre 2020 e 2025.
Os economistas clássicos dizem que se as petroleiras ganham dinheiro agora, voltarão a fazer investimentos para prospecções de novas reservas, e que tudo voltará à normalidade, mas as petroleiras já disseram que não buscarão mais e, inclusive, dizem que assim atuam para lutar contra as mudanças climáticas. Mesmo assim, minha intuição é a de que os governos ocidentais tentarão intervir para tapar o buraco.
Os preços dos combustíveis oriundos do PETRÓLEO não devem sofrer grandes reduções, pelo contrário! A tendência é de preços elevados, daqui em diante. |
E
o preço do gás continuará subindo também? A Rússia e a Argélia não abrem tanto
a torneira como abriam antes.
Antonio Turiel:
O gás ainda pode resistir alguns anos a mais do que o petróleo ou o
urânio. Segundo a Agência Internacional de Energia,
a produção mundial de gás pode atingir o teto em torno de 2025. Contudo,
o problema do gás é que o transporte é difícil e caro, e a melhor maneira de
importá-lo é por meio de gasoduto.
Transportar gás em navios significa
levar o gás até uma usina de liquefação, mantê-lo a 160 graus abaixo de zero em
um gaseiro, com um custo energético muito alto, chegar até um porto na Europa
que tenha um terminal de regaseificação. Isto, portanto, tem grandes custos
econômicos e também geraria gargalos em situações de tensão.
Portanto, a melhor opção para a Europa é o transporte por terra, e por terra existem duas opções: a Argélia e a Rússia. O problema é que a produção de gás da Rússia e da Argélia está estagnada há mais de 20 anos. E, além disso, cada vez precisam de mais consumo para eles próprios, já que são países, sobretudo a Argélia, jovens e em crescimento.
E, por último, o preço da luz. Por que está tão alto?
Antonio Turiel:
Aqui, temos dois problemas. O primeiro problema, o sistema marginal para
fixar os preços, que vem imposto por uma diretiva europeia. Basicamente,
funciona assim: pagamos o preço do quilowatt-hora pelo preço da energia mais
cara que entrar no leilão.
E o segundo problema: como o gás na Europa, atualmente, significa a energia mais cara, pelos problemas de escassez, pagamos toda a energia elétrica ao preço do gás. Portanto, esse problema, a curto prazo, teria uma solução fácil: simplesmente, é preciso mudar a regra do leilão de energia, mesmo que as empresas de eletricidade protestem.
A produção de energia elétrica renovável alternativa não é algo tão simples! Ela consome vários tipos de materiais, os quais podem faltar! |
A alternativa está nas energias renováveis, como a hidrelétrica ou
a solar, teoricamente mais baratas e ecológicas. Mas, em seu último artigo no
blog, critica a aposta nas energias renováveis. O título é polêmico: “O fim da
energia renovável barata”.
Antonio Turiel: O nosso
problema é que os sistemas de geração de energias renováveis elétricas se
baseiam na disponibilidade de certos materiais que são extraídos, produzidos e
transportados com combustíveis de origem fóssil. Portanto, a crise de
combustíveis fósseis está provocando, ao mesmo tempo, uma crise de materiais, e
acontece que as energias renováveis precisam de muitos materiais.
E o que está acontecendo? As
matérias-primas estão ficando caras:
* o preço do
silício se multiplicou por quatro,
* mas também
o lítio das baterias e o silício para as placas solares estão ficando
mais caros.
* Mesmo o cimento
e o aço que são utilizados para construir aerogeradores também possuem
preços exorbitantes.
Existem grandes empresas eólicas
que estão perdendo dinheiro agora e empresas como a LG que abandonaram
o mercado de placas solares.
No momento, ninguém conseguiu
fechar o ciclo de produção de energias renováveis, que vai da extração de
materiais até a fabricação e a manutenção de instalações, apenas com
energias renováveis. Para fazer cimento, está sendo utilizado gás natural.
Para fazer aço, está sendo utilizado carvão. Esse é um dos grandes problemas
que virão: conseguir tornar viável o modelo de transição baseado em energia
renovável elétrica.
Mas existem defensores das energias
renováveis que afirmam que no futuro serão encontrados novos materiais para
melhorar a eficiência e gerar mais energia. De fato, nos últimos 10 anos,
cresceram as reservas de alguns desses minerais, como o lítio.
Sim, é o que dizem, e é verdade que
estão sendo feitas pesquisas para fazer baterias de sódio ou cálcio.
Desconhecemos o futuro. Mas o argumento que existem ou existirão novas
reservas para os materiais que se esgotarem é um argumento ruim.
Os defensores da energia nuclear também dizem que existe uma quantidade imensa de urânio no mar. Correto, sim, mas como você o extrai? E também existe lítio no espaço, fora da Terra. Mas a questão é como você o extrai e com que velocidade.
Repassemos
alguns produtos básicos que não aparecem muito, quando falamos em geopolítica,
mas que têm muito mais a ver do que poderíamos imaginar. Comecemos pela ALIMENTAÇÃO.
O que está acontecendo com ela?
Antonio Turiel:
Os preços dos alimentos aumentam. Por quê? Primeiro,
por causa do aumento do custo da energia, já que a agricultura
industrial exige muito combustível fóssil, sobretudo diesel, para toda a
maquinaria e para o transporte. Mas, além disso, agora aumenta de forma
selvagem o preço dos fertilizantes, sobretudo os nitrogenados,
porque boa parte deles são fabricados com gás natural e, além disso, as
empresas produtoras estavam limitando a produção.
E, além disso, não esqueçamos que a China reduziu em 90% suas exportações de fertilizantes nitrogenados, e a Rússia, no dia 1 de fevereiro, antes da guerra, impôs um embargo às importações de fertilizantes. E, para terminar, falta potassa. E sabe quais são os principais produtores de potassa do mundo? A Rússia e a Bielorrússia. Por tudo isso, os trabalhos agrícolas estão ficando caríssimos.
CONFIRA O AUMENTO DE PREÇOS DOS PRINCIPAIS ALIMENTOS DA MESA DO BRASILEIRO, NO ANO DE 2020 - INÍCIO DA PANDEMIA |
E,
aqui, os cidadãos notarão o fato na hora de comprar alimentos básicos?
Antonio Turiel: É claro! Na Espanha [no Brasil, também!], notaremos um aumento nos preços dos alimentos já este ano. Os alimentos básicos podem multiplicar seu preço por dois ou três. Serão mais notados em alguns países dependentes da importação de cereais, como todo o norte da África e o Oriente Próximo, onde a situação pode ser terrível.
Caminhamos para uma crise humanitária de grandes dimensões. Mas, além disso, no momento, nós a notaremos mais ainda por causa da invasão da Ucrânia, que era o celeiro da Europa, um grande produtor agrícola. A Espanha importava da Ucrânia 30% do trigo, 23% do milho e mais de 80% do óleo de girassol. Portanto, daqui a um mês, caso a situação continue a mesma, teremos enormes problemas na Espanha.
Outro
exemplo completamente diferente, mas que também está afetando muitos produtos
que chegam às lojas: falta MAGNÉSIO na Europa!
Antonio Turiel:
A maior parte do magnésio vem da China. A produção de magnésio
consome muita energia e a China está com uma crise energética muito grave
nesse momento. Por quê? Porque a crise do carvão, que é importante
para a China e a Índia, está provocando muitos problemas energéticos lá e, de
fato, está provocando apagões elétricos.
Então, os chineses estão indo para um processo feroz e rápido de transição para as energias renováveis e, para isso, precisam de muitos materiais. Estão guardando o magnésio para produzir alumínio e implementar o processo das energias renováveis, e vão fechando a torneira da exportação para a Europa.
Concordo,
mas o que você não consegue fabricar, caso não tenha ALUMÍNIO? Por que devemos
nos preocupar?
Antonio Turiel:
As janelas de sua casa certamente são de alumínio. Existem partes
dos carros, das motos e das bicicletas que são de alumínio.
Os cabos das torres de alta tensão são de alumínio, pois ficaria muito
caro fazê-los todos de cobre. A fuselagem dos aviões é feita de
alumínio.
Qualquer estrutura metálica que você vê na rua contém, em parte, alumínio. O alumínio tem uma capacidade de resistência e leveza que são essenciais para fabricar muitas coisas hoje em dia.
Falemos
sobre outro material: o VIDRO. Nesse inverno, surgiram várias notícias nos
meios de comunicação que explicam a escassez de vidro para poder engarrafar
vinho, cava e outros licores. Como se explica a falta de vidro, se é um
material reutilizável?
Antonio Turiel:
O vidro também está relacionado diretamente com o gás e, em geral,
com a crise energética. Todos os processos industriais que exigem calor
industrial precisam de grandes consumos de gás. É verdade que o vidro é
reciclável, mas o problema é que produzimos muito mais do que reciclamos.
A demanda é muito alta e crescente. E só a reciclagem não é o suficiente. Será necessário reciclar muito mais, mas, atenção, para reciclar o vidro é preciso fundi-lo novamente e, portanto, precisará ser consumido mais gás.
E
o último exemplo de coisas que estão subindo de preço: o PAPEL.
Antonio Turiel: O papel é um caso diferente. Aqui, reúnem-se muitos fatores que estão provocando um aumento do preço. A causa principal é o aumento no preço do transporte, entre outras coisas, porque tanto as florestas como as grandes fábricas de celulose estão longe e, portanto, contam com custos importantes em transporte. Mas, ao mesmo tempo, existem problemas com os produtos químicos que são utilizados no processo da elaboração do papel, como o cloro, que, de fato, também exige o uso de gás.
Para
terminar, devo dizer a você que “os críticos de Antonio Turiel” o chamam de CATASTROFISTA,
por só ver os problemas presentes na transição para as energias renováveis e
nunca apontar soluções como as que são buscadas constantemente pelos cientistas
e a indústria. Não existe qualquer alternativa?
Antonio Turiel:
Sim, sim. O que eu denuncio é que não podemos manter tudo igual como
até agora, simplesmente substituindo o petróleo
por x. O que os governos e a
indústria estão fazendo é tentar mudar a fonte de energia e manter o nosso
nível de consumo. Eu, e muitas outras pessoas, propomos uma mudança mais
radical.
Existem estudos científicos que demonstram que podemos ter um nível de vida semelhante ao atual, e mais equitativo em todo o planeta, consumindo o equivalente a um décimo da energia que consumimos hoje no Ocidente. Teríamos que estar conscientes de que a maior parte da energia que produzimos, desperdiçamos! Mas isso implica mudar o modelo de consumo.
É urgente mudar nosso ESTILO DE VIDA fundamentado em consumir mercadorias que já tem prazo de duração pré-determinado!!! |
Mas, como? Como é possível reduzir o consumo de energia e manter o
nível de vida?
Antonio Turiel:
Atenção: eu digo manter o nível de vida, não o estilo de
vida. Um bom nível de vida é determinado pelas coisas que nos trazem
bem-estar. Por exemplo, certamente, não teríamos um carro para cada família;
certamente, não teríamos uma máquina de lavar para cada apartamento, mas
compartilharíamos a máquina com todo o bloco de apartamentos. Tais mudanças não
diminuiriam o nosso nível de vida.
As formas de consumir precisam ser
diferentes. Não podemos continuar com um consumo descartável, de
desperdício, de consumismo sem sentido, de obsolescência programada da
maioria dos produtos.
Existem muitos setores tecnológicos que já
possuem os conhecimentos técnicos para fabricar itens praticamente
indestrutíveis.
Já seria possível fabricar um computador praticamente eterno. Podem ser fabricadas lâmpadas quase eternas. Mas isso não acontece, evidentemente, porque o incentivo é para consumir mais. Há muitas pessoas que se irritam quando dizemos isto, pois essa mudança de modelo de vida atenta contra o sacrossanto princípio do crescimento.
Mas,
de fato, ficaremos sem energia? Não vê nenhuma opção para um futuro energético
baseado nas energias renováveis?
Antonio Turiel:
O central é não ficar obcecado em ter energia elétrica renovável, apesar
de ser muito útil em alguns setores, mas também aproveitar a energia
renovável não elétrica, ou seja, a solar para produzir calor, a energia
mecânica do vento e dos rios para fábricas, usar biomassa de
forma moderada para produzir plástico e papel.
E, por último, relocalizar a economia. Mas tal mudança implica acompanhar os ritmos da natureza e não ter uma produção infinitamente crescente. O problema é que não podemos nem começar esse debate, pois implicaria mudanças tão radicais em nosso sistema econômico que são impensáveis hoje.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 21 de março de 2022 – Internet: clique aqui (Acesso em: 21/03/2022).
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