«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

1º Domingo do Advento – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 24,37-44 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Para ser acolhido(a) no Reino de Deus, deve-se mudar de vida, vivendo os seus valores

A passagem que a liturgia apresenta no primeiro domingo do Advento, o Evangelho de Mateus, capítulo 24, versículos 37-44, deve ser contextualizada, sob pena de correr o risco de incompreensão e deturpação do sentido daquilo que o evangelista escreve. E qual é o contexto? No templo, Jesus expulsou a todos e denunciou as mais altas autoridades religiosas por terem transformado a casa do Pai em um covil de ladrões e bandidos.

E depois Jesus queixou-se, chorou por Jerusalém, uma instituição que, em vez de reconhecer, acolher e apoiar os enviados de Deus, sempre os matou. Por quê? Para seu próprio lucro, para sua própria conveniência. E Jesus tinha anunciado: “Esta casa ficará deserta” e tinha dito aos seus discípulos que o templo que eles admiravam seria destruído. Por quê?

Uma instituição religiosa que, em vez de ser a favor do povo, o explora para seu próprio interesse, para sua própria comodidade, não tem direito de existir.

Mas isso não será uma coisa ruim. Será o início de uma série de desmoronamentos de todas aquelas formas de poder que dominam o ser humano, até que surja o REINO DO HUMANO, o reino do Filho de Deus. Isso acontece com a proclamação da Boa Nova que, garante Jesus, fará obscurecer a luz do sol, da lua, das falsas divindades, torná-las tais, e das estrelas, isto é, daqueles principados, daquelas potestades que se apoiaram nessas divindades, uma após a outra cairão.

Naturalmente tudo isto não será indolor, mas Jesus garante estar sempre ao lado dos seus discípulos. E Jesus havia assegurado que o céu e a terra poderão passar, mas suas palavras não passarão.

Assim, Jesus nos assegura a vitória do humano sobre tudo o que é desumano.

E no versículo 36, antes da passagem litúrgica, Jesus tinha dito: “Ora, quanto àquele dia e hora”, aqui fala do fim individual dos discípulos, “ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai”. Essa é uma mensagem de grande serenidade e de grande segurança: o fim pessoal do discípulo, de cada indivíduo, o Pai conhece, não diz “Deus sabe”, mas “o Pai sabe”, isto é, destaca essa relação afetuosa, terna, por parte do Pai diante de seus filhos. Por isso convida à máxima serenidade e máxima tranquilidade. 

Mateus 24,37: «A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé.»

Os dias de Noé são os dias da arca, ou seja, o lugar da salvação, onde poucos perceberam a iminência do desastre e foram salvos. Assim, a vinda do Filho do homem, que inaugura o Reino de Deus, será a nova salvação, mas Jesus anuncia que poucos se darão conta. O dilúvio não foi o fim do mundo, mas o início de uma nova humanidade que foi renovada, uma mudança de época que salvará a humanidade. 

Mateus 24,38-39: «Nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem.»

Jesus se refere à rotina normal que, no entanto, nos impede de perceber algo extraordinário está prestes a acontecer. Portanto, é um convite à vigilância porque, assim como o dilúvio foi algo imediato e poucos o perceberam, assim a vinda do Reino de Deus é uma oportunidade para ser pega no ar, mas é uma ocasião que é condicional, e em todo o evangelho o evangelista tratou disso, desde a mudança de vida, desde a rejeição dos falsos valores da sociedade para acolher os novos, que são: a partilha, o serviço e a descida ao nível dos últimos da sociedade. 

Mateus 24,40-41: «Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado, e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada, e a outra será deixada.»

Aqui a tradução põe “um será levado, e outro será deixado”, mas não é “levado [embora]”. O verbo usado pelo evangelista é o mesmo que usou no primeiro capítulo, no momento da Anunciação, quando o anjo diz a José: “Não temas receber Maria, tua mulher” (Mt 1,20). É “tomar” no sentido de acolher/receber. Então esta frase se traduz assim: “Dois homens estarão trabalhando no campo, um será acolhido [recebido], e o outro será deixado”. O mesmo para o exemplo feminino: “Duas mulheres estarão moendo no moinho, uma será acolhida [recebida], e a outra será deixada”. O que isso quer dizer?

O Reino de Deus é uma proposta para todos, mas não é de todos, porque somente aqueles que acolhem os seus valores, somente os que aceitam mudar de vida, nele entrarão e dele farão parte.

O Reino de Deus não é o reino do além, mas uma sociedade alternativa, onde, em vez de acumular egoisticamente para si, se compartilha generosamente com os outros, onde, em vez de dominar, se serve aos outros. 

Mateus 24,42: «Vigiai, portanto, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.»

E aqui está o convite premente de Jesus para “Vigiai”; é o mesmo convite que Jesus fará depois no Getsêmani, no momento da dificuldade, quando todos os discípulos fugirão. “Vigiai”, isto é, “Aderi a mim/Juntai-vos a mim”. O dia do Senhor pode ser repentino, porque Jesus diz que o momento será violento, inesperado, pois os próprios familiares podem se voltar contra os discípulos, pois se trata de ir contra a correnteza.

É uma questão de acolher essa novidade, desafiando a tradição, desafiando a moral, e claro que isso não será indolor!

Mateus 24,43-44: «Sabei, pois, isto: se o dono de casa soubesse a que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós, ficai preparados, pois na hora em que menos pensais, virá o Filho do Homem.»

Assim como a arca de Noé não acolheu todos, mas apenas aqueles que perceberam o desastre iminente, o Reino de Deus é uma salvação para todos, mas não é de todos; então devemos estar atentos à vinda do Filho do Homem. O homem que tem a condição divina, que não é um privilégio exclusivo de Jesus, mas uma possibilidade para todos os crentes. Mas ter a condição divina torna as pessoas livres e o sistema e o poder não toleram os livres, mas Deus sempre estará do lado dos pobres e perseguidos. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Com efeito, muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.”

(Mateus 22,14)

Primeiramente, é preciso ficar claro que o Evangelho deste domingo não pretende transmitir-nos medo, apreensão e angústia, absolutamente! As palavras de Jesus vêm até nós para nos encorajar a fazer já, agora, aquilo que se deve, não postergar, não perder tempo na vida, pois tudo pode mudar de uma hora para outra! Devemos aproveitar o tempo presente, pois não temos mais acesso ao passado e, ainda, não alcançamos o futuro! O que Jesus deseja é a mesma atitude que solicitou a alguns de seus discípulos no horto do Getsêmani, na noite trágica de sua paixão: “Mantende-vos despertos comigo!” (= Vigiai comigo! – Mt 26,38.40.41). Isso não significa viver assustado, temeroso diante de uma possível desgraça ou tragédia! 

A vigilância e a oração são necessárias para que não “cairmos em tentação”, uma vez que: “O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41b). E a pior tentação na qual podemos cair é abandonar e desprezar os valores do Reino de Deus (partilha de bens e de dons, serviço aos outros, dedicação aos últimos e marginalizados da sociedade, promoção da justiça acima de tudo), a fim de abraçarmos os falsos valores do mundo: riqueza, poder, fama, beleza exterior. 

Como bem nos recorda o teólogo espanhol José María Castillo:

«É viver com tanta honestidade, no lugar e no trabalho em que cada um está, que se vive na constante disposição de fazer o que tenho que fazer, e dizer o que tenho a dizer, mesmo que isso represente uma séria ameaça para mim, um perigo que pode ser fatal».

Infelizmente, a maioria dos cristãos pensa que sua principal preocupação, como pessoa que se diz seguidora de Cristo, deve ser com as “obrigações religiosas”, entendendo-se com isso: a frequência aos sacramentos, a observância das normas doutrinais da Igreja e assim por diante. Esquece-se, desgraçadamente, que o principal para um(a) cristão(ã) é: vivenciar os valores do Reino de Deus no mundo e nos ambientes em que vive (família, profissão, estudo etc.). Por isso, em nossa sociedade, ainda hoje, após quase dois milênios de cristianismo, não se respira um ar cristão e não se encontra uma sociedade, verdadeiramente, cristã! 

Nossa fé não muda, não incide, não altera a triste realidade deste mundo! Isso é gravíssimo, pois demonstra que temos uma fé morta, segundo o que nos diz a Carta de Tiago (2,14-17.26):

«Meus irmãos, que adianta alguém dizer que tem fé, se não tem obras? A fé seria capaz de salvá-lo? Imaginai que um irmão ou uma irmã não têm o que vestir e que lhes falta a comida de cada dia; se então algum de vós disser a eles: “Ide em paz, aquecei-vos” e “Comei à vontade”, sem lhes dar o necessário para o corpo, que adianta isso? Assim também a fé: se não se traduz em ações, por si só está morta. [...] Assim como o corpo sem o espírito é morto, assim também a fé, sem as obras, é morta.» 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«São muitas as perguntas sobre o nosso futuro que continuamente surgem na mente: o que será de nós e deste mundo? Aonde estamos indo? Não nos faltam, nem mesmo, perguntas sobre o nosso presente: por que tantos desastres, por que tantas doenças que parecem se multiplicar, por que os crimes brutais cometidos pelos poderosos permanecem impunes, por que os inocentes sofrem e são mortos? Quando tudo isso vai acabar? A única resposta que nos dás, Senhor, é que ninguém sabe o dia e a hora em que tudo isso vai acabar. Nossa única certeza é a tua palavra, palavra de verdade, palavra de vida, palavra de eternidade. É confiar-nos a ti, trabalhando incansavelmente, continuando a dar testemunho do teu evangelho, confiantes de que virás surpreender-nos. Amém.»

(Fonte: VENTURI, Gianfranco. 1ª Domenica di Avvento. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 32) 

Assista ao vídeo com a íntegra da homilia acima, clicando sobre esta imagem: 


Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – I Domenica di Avvento – Anno A – 1º dicembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 23/11/2022).

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