«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Alerta ligado!

 “Existe resiliência muito grande do bolsonarismo”

 Davi Medeiros e Eduardo Kattah 

Entrevista com Miguel Lago

Cientista Político, professor da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia e da École d’Affaires Publiques de Sciences Po Paris 

MIGUEL LAGO

Sem o Bolsonaro, o bolsonarismo se fragmenta. Ele é o fenômeno aglutinador do bolsonarismo

O cientista político Miguel Lago enxerga uma “resiliência muito grande do bolsonarismo” mesmo com a saída de Jair Bolsonaro da Presidência da República. Para ele, a capacidade de mobilização dos apoiadores não depende da máquina pública, mas essencialmente da atuação do ex-presidente no papel de líder oposicionista. “Sem o Bolsonaro, o bolsonarismo se fragmenta”, afirmou Lago, durante entrevista ao Estadão

Estudioso da convergência entre políticas de saúde, tecnologia e democracia, ele lançou recentemente o livro Do que falamos quando falamos de populismo (Editora Companhia das Letras) junto com o também cientista político Thomás Zicman de Barros – um ensaio no qual os dois investigam os diferentes significados que o termo adquiriu ao longo da história e como ele está inserido no atual cenário e no debate político do País. 

Lago, que é professor da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia e da École d’Affaires Publiques de Sciences Po Paris, avalia que tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto Bolsonaro “dividem a sociedade entre povo e elite, o povo sendo uma coisa boa e a elite, uma coisa ruim”. A seguir os principais trechos da entrevista: 

Livro publicado em setembro de 2022, pela editora Companhia das Letras

Bolsonaro perdeu a eleição por margem pequena de votos. O bolsonarismo se tornou nestes últimos quatro anos uma força política real. Vai perder oxigênio sem o poder?

Miguel Lago: Eu acho que não. Existe uma resiliência muito grande do bolsonarismo. Acho que realmente ele conseguiu algo extraordinário, que foi conquistar corações e mentes na sociedade. O bolsonarismo é uma força muito grande. Bolsonaro conseguiu ideologizar grande parte da sociedade brasileira, e isso é um feito único na nossa história. Claro, não tendo o governo, você perde muito da sua capacidade de pautar, vai ser difícil o bolsonarismo aprender a pautar estando na oposição. O governo é que pauta. Em termos de mobilização, vai haver um desafio grande para o bolsonarismo. Mas eu não acho, sinceramente, que seja um movimento que tivesse a sua força unicamente pelo fato de ser Estado, pelo fato de ser governo. A capacidade de mobilização não depende da máquina pública. 

Bolsonaro tem atributos e meios para se manter como principal líder da oposição ao novo governo?

Miguel Lago: Sem o Bolsonaro, o bolsonarismo se fragmenta. Ele é o fenômeno aglutinador do bolsonarismo. Sem ele, a extrema direita vai se fragmentar em algumas extremas direitas. 

Jair Bolsonaro em uma de suas lives semanais

A “máquina” de comunicação de Bolsonaro deixa algum tipo de legado para a forma como se faz política no Brasil? É possível o próximo governo se apropriar dessa estratégia?

Miguel Lago: Lula teria todas as condições, mas eu acho que a própria montagem de governo mostra que não, que ele não está aprendendo com essa forma de fazer política. Tem um elemento aí, que o Bolsonaro soube usar justamente sua força eleitoral como uma maneira de não ceder a certas pressões político-partidárias. O Lula, pela montagem dos ministérios e a entrega de pastas importantes e absolutamente estratégicas nas mãos de partidos completamente descompromissados com o futuro do País, está recorrendo ao presidencialismo de coalizão que a gente sempre viu, muito mais do que um governo do PT. Vários ministérios estratégicos foram entregues por uma questão de loteamento político. 

LULA empossa os seus 37 ministros - dia 1º de janeiro de 2023

Lula discursa contra as “elites” e evoca uma dicotomia entre povo e “mercado”. Bolsonaro termina o seu governo recorrendo ao populismo. Quais características sobrepõem os dois nesse conceito?

Miguel Lago: Existem algumas características, mínimos denominadores comuns do que seria o populismo. Um deles é essa dicotomia de divisão da sociedade entre povo e elite, isso é constante. Tanto Lula quanto Bolsonaro dividem a sociedade entre povo e elite, o povo sendo uma coisa boa e a elite, uma coisa ruim. Só que as elites que o Bolsonaro denuncia são, na realidade, as elites intelectuais, culturais e administrativas. Para Bolsonaro, o povo é quem é “cidadão de bem” nos moldes dele, e tudo que não é cidadão de bem seriam as elites, os maus. Os dois são populistas, mas com graus diferentes, e a significação do que é povo e elite é muito diferente

O ambiente virtual impulsiona o populismo?

Miguel Lago: Totalmente. O populismo é uma lógica política de mobilização da sociedade. Você mobiliza a partir de um antagonismo, de uma rivalidade. O ambiente virtual favorece algumas construções narrativas do bolsonarismo mais popular.

As redes sociais têm uma arquitetura de sociabilidade e maneira de comunicar e interagir que favorecem discursos sensacionalistas, mensagens curtas e potentes.

É uma grande fragmentação de perfil, e a maneira de se conectar com outros perfis seria através de um influenciador. O influenciador desempenha um tipo de engajamento com seus seguidores que se parece com o que seria uma liderança populista. As redes sociais catapultam influenciadores para a política e, portanto, fortalecem uma lógica populista. 

A influência dos NEOPENTECOSTAIS é imensa no universo CULTURAL e POLÍTICO brasileiro e não pode ser menosprezada e ignorada!

O sr. defende que o Brasil vive uma revolução cultural que molda as opções e escolhas políticas nos últimos 20 anos. É um processo em curso ou consolidado? Que alerta essa revolução traz para o futuro governo de Lula e do PT?

Miguel Lago: Está em curso. O bolsonarismo conseguiu encarnar essa revolução social e cultural, por isso acho que Bolsonaro como candidato estava muito mais atualizado com essas mudanças na sociedade brasileira do que a candidatura do Lula. Outras forças políticas, desde a direita democrática até o centro e a esquerda, não conseguiram captar o que a extrema direita de Bolsonaro conseguiu captar na sociedade brasileira e se conectar com isso. Tem muito a ver com uma mudança de perfil religioso, os evangélicos são minoria do ponto de vista estatístico, mas maioria do ponto de vista político. O deputado católico não é comparável a um deputado evangélico pastor. Os neopentecostais ditam grande parte da vida política, hábitos de consumo e disciplinares de maneira que outras igrejas não fazem. Esse é um elemento absolutamente fundamental porque ele é cultural, não religioso. Bolsonaro captou isso como ninguém. Ele identificou esse processo dando ministérios inteiros para essas denominações e passou a significar seus atos como presidente a partir de uma leitura neopentecostal da Bíblia, foi uma inserção da cultura religiosa na política como nunca havia se visto antes. 

Muitos defendem que Lula e o PT deveriam apostar em um governo de transição. Qual a chance de o futuro governo se consolidar realmente como um governo “menos petista”?

Miguel Lago: O governo é menos petista do que se tem falado. Ele não é resultado das forças que apoiaram Lula para ganhar as eleições. Grande parte do PSDB, do Cidadania e partidos que apoiaram Lula no segundo turno não tiveram reconhecimento, no entanto o União Brasil, que na maioria dos Estados estava fechado com Bolsonaro, recebeu (ministério). Essa aliança ministerial responde muito mais aos anseios de governabilidade do que, necessariamente, à frente ampla que se construiu. Grandes figuras do PT não entraram nesses ministérios e tinham essa expectativa, e certamente vai haver tensões no próprio partido ao longo do governo. Claro que houve a correta decisão de chamar Simone Tebet e Marina Silva. É um governo muito menos petista do que o primeiro governo do Lula

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Perspectivas – Segunda-feira, 2 de janeiro de 2023 – Pág. A16 – Internet: clique aqui (Acesso em: 02/01/2023 – às 17h00).

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