«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

4º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 5,1-12a 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Aceitar e viver as bem-aventuranças é tornar o Reino de Deus uma realidade

As bem-aventuranças são, sem dúvida, a obra-prima do Evangelho de Mateus, uma obra-prima não só do ponto de vista teológico, veremos sua riqueza espiritual, mas também literária. Então, vamos ver no capítulo 5, no Evangelho de Mateus, esse texto extraordinário. 

Mateus 5,1a: «Ao ver as multidões, Jesus subiu à montanha...»

O evangelista escreve: “Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte”, vendo as multidões Jesus não se afastanão toma distância do povo, mas quer ativá-las, onde? Na montanha. Esta montanha é precedida pelo artigo definido, a montanha, não é qualquer montanha, mas não é dito que montanha é. Qual é o significado disso? A montanha, na tradição bíblica e judaica, indicava e o Monte Sinai, onde Deus, por meio de Moisés, deu e estipulou a aliança com seu povo, mas também significa entrar na esfera, na condição divina. Então Jesus, através da proclamação dessas bem-aventuranças, quer levar as multidões para alcançarem a condição divina, cada pessoa, por isso é um convite válido para sempre. 

Mateus 5,1b-2: «... e sentou-se. Os seus discípulos aproximaram-se dele. Então, abrindo a boca, começou a ensiná-los, dizendo:»

O ato de “sentar-se” é aquele de assumir a atitude de mestre, tanto que Jesus se põe a “ensinar” seus discípulos. E aqui o evangelista apresenta as bem-aventuranças. Mateus fez um trabalho meticuloso: calculou não só o número de bem-aventuranças, mas até a quantidade de palavras para compor essas bem-aventuranças, de acordo com as técnicas literárias da época. As bem-aventuranças são exatamente 8, porque o número 8, na tradição espiritual, no cristianismo primitivo, indicava a ressurreição de Jesus, que ressuscitou no primeiro dia após a semana. Por isso, os batistérios, local onde se recebia o batismo, sempre tiveram a forma octogonal. Então, o número 8 indica vida que não é interrompida pela morte. O evangelista quer indicar que,

... acolhendo estas bem-aventuranças, se tem uma vida dentro de si, que então será capaz de superar a morte.

Mas não é só isso: o evangelista também calcula o número de palavras para compor as bem-aventuranças, e são exatamente 72, e o evangelista só queria criar esse número porque, em determinado momento, vemos que há uma repetição de algo que não era necessário para o texto [cf. Mt 5,10-11]. Por que 72? Porque, segundo o cálculo contido no livro do Gênesis, no capítulo décimo, na versão grega, os povos pagãos, então conhecidos, eram 72. Qual é a intenção do evangelista? Enquanto, no Sinai, Moisés proclamava os mandamentos, que estavam reservados ao povo de Israel, neste monte, que substitui o SinaiJesus não recebe a nova aliança de Deus, mas Ele, que é Deus, proclama a nova aliança, que é válida para toda a humanidade. 

Mateus 5,3aα: «Bem-aventurados...»

primeira das bem-aventuranças é a mais importante de todas, porque é a chave para a existência de todas as outras, e Jesus começa por proclamar: “Bem-aventurados”. Qual é o significado desta expressão? É uma felicidade tão grande que foi considerada inatingível nesta terra. Naquela época, naquela cultura, os bem-aventurados eram os deuses, que gozavam de privilégios não concedidos aos humanos, ou seja, da máxima felicidade. Mas, para compreender as bem-aventuranças, esta aclamação de Jesus “bem-aventurado”, devemos sempre colocá-la após as situações, ou as indicações que ele apresenta. 

Mateus 5,3aβ: «... os pobres no espírito, ...»

Os primeiros bem-aventurados são os “pobres no espírito”. É preciso dizer imediatamente que Jesus nunca proclama bem-aventurados os pobres. Os pobres são infelizes, e é dever da comunidade cristã retirar-lhes da sua situação de infelicidade.

Jesus não pede aos seus discípulos que se juntem aos tantos pobres que a sociedade produz, mas que se comprometam a eliminar as causas da sua pobreza.

Jesus proclama: “Bem-aventurados os pobres no espírito”, ou de espírito. A partícula grega [τ] pode ser traduzida de três maneiras, vamos ver qual pode ser o significado:

a) Pobres “de” espírito, isto é, os que são carentes de espírito, idiotas, mas não é possível que Jesus proclame a estupidez como a mais alta aspiração do ser humano, por isso a descartamos.

b) Pode ser pobre “em” espírito, ou seja, uma pessoa que, embora possua bens, está espiritualmente desligada deles e, coincidentemente, foi justamente esta a explicação apresentada pela Igreja. Mas Jesus não pede pobreza espiritual, mas pede pobreza imediata. Quando ele encontra ou bate de frente com o rico, ele não lhe pedirá que se desligue espiritualmente de suas riquezas, mas pede um desapego imediato e real (cf. Mt 19,16-22; Mc 10,17-22; Lc 18,18-23).

c) Então a terceira possibilidade é pobre “pelo” o espírito, isto é, não aqueles que a sociedade empobreceu, mas aqueles que livremente, voluntariamente, pelo espírito, por essa força interior que possuem dentro, escolhem entrar nessa condição, o que faz não significa, como dissemos, ajuntar-se aos pobres que a sociedade produz continuamente, mas significa diminuir seu padrão de vidaseu nível de vida, para permitir que, aqueles que o têm muito baixo, aumentem um pouco. Estes são os pobres no espírito, são aqueles que aceitam partilhar generosamente o que são e possuem. 

Mateus 5,3b: «... pois deles é o Reino dos Céus.»

Os pobres em espírito, aqueles que fazem esta escolha, Jesus os proclama bem-aventurados “porque deles”, o verbo está no presente, não é uma promessa para o futuro, mas uma possibilidade imediata, no presente, “porque deles é o reino dos céus”. Infelizmente, no passado, este reino dos céus criou tanta confusão, era entendido como um reino no céu, como se fosse a vida após a morte, e, de fato, se dizia aos pobres que eles eram abençoados, porque iriam para o Paraíso. Nada disso. Mateus é o único evangelista que usa a expressão “reino dos céus”, enquanto todos os outros usam a expressão “reino de Deus”. Jesus já havia proclamado o necessário convite à conversão, porque o reino de Deus estava próximo:

... com a aceitação das bem-aventuranças, o reino de Deus torna-se realidade.

Mas o que esse “reino dos céus” significa? Que Deus governa os seus. E como Deus governa seu povo? Não emitindo leis externas ao homem, que ele deva observar, mas comunicando-lhe sua própria capacidade de amar. Então Jesus diz: quem escolhe isso de forma livre e voluntária, bem-aventurado porque, a partir do momento em que faz essa escolha, acolhe esta bem-aventurança, deixa que Deus se manifeste como Pai em sua existência. 

Depois dessa primeira bem-aventurança, seguem todas as demais em séries de três as três primeiras dizem respeito aos sofrimentos da humanidade [aflitos, mansos e puros de coração], os quais a comunidade cristã é chamada a libertar desses sofrimentos.

É preciso ficar bem claro que as bem-aventuranças não são para um indivíduo, são para uma comunidade!

Então, seguem os efeitos, o florescimento do amor nos indivíduos e na comunidade a partir da aceitação dessas bem-aventuranças.  

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 6. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2022. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Eu desejo que você ganhe dinheiro / Pois é preciso viver também / E que você diga a ele, pelo menos uma vez, / Quem é mesmo o dono de quem.”

(Frejat – músico e compositor brasileiro: “Amor Pra Recomeçar”)

As bem-aventuranças de Mateus evidenciam algo que o teólogo espanhol José María Castillo exprime de modo sintético e claro: «O Evangelho não é apenas uma “teoria”, mas além disso – e acima de tudo – é um “modo de vida”».

Isso porque os Evangelhos não narram, apenas, aquilo que disse Jesus e os seus discípulos, mas também o que eles fizeram. Ao invés de “aulas de teologia ou doutrina”, os discípulos tinham “aulas de vida”! Eles aprendiam com a totalidade de sua vida e não apenas pelas suas palavras! 

Portanto, as bem-aventuranças nos trazem as características principais de toda pessoa que deseja ser seguidora de Jesus Cristo, ou seja, discípulo(a) dele! E qual é o traço principal dessa pessoa? Por onde Jesus começa a descrever a pessoa que deseja ser discípula do Reino dos Céus/Deus? 

Aqui, é útil recordar aquela cena do “jovem rico” (cf. Mateus 19,16-26), na qual não cabe dúvidas que além de cumprir os mandamentos da religião (cf. Mt 19,16-20), Jesus lhe propõe a “perfeição” de vida: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me» (Mt 19,21). O gesto mais importante para Jesus, que uma pessoa que deseja segui-lo deve realizar é, justamente, o desprendimento, a liberdade diante dos bens deste mundo! Pedro confirma essa atitude ao dizer a Jesus: «Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos» (Mt 19,27a). 

Agora, somente isso bastou para que os discípulos de Jesus alcançassem a meta que ele desejava? Não! Infelizmente, eles não chegaram ao fim? Despojaram-se do dinheiro, da família, dos bens, da própria segurança, mas não chegaram às profundezas da vida. Eles não alcançaram ao despojamento de seu próprio “eu”, como bem observou o teólogo e psicólogo do profundo Eugen Drewermann. Isso porque após se darem conta do terrível fim que aguardava o Mestre em Jerusalém: prisão, julgamento, condenação e morte (cf. Mt 16,21; 17,22-23; 20,17-19), eles começaram, a partir do segundo anúncio da paixão, a preocupar-se e discutir qual deles era o mais importante ou deveria ser colocado em primeiro lugar! 

A reação de Jesus é imediata: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Quem se fizer pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus” (Mt 18,3-4). É isso que as bem-aventuranças nos propõem: primeiro, “despojar-nos dos bens deste mundo”; em segundo lugar e definitivamente, “despojar-nos de nós mesmos”. 

Se pensarmos seriamente sobre isso, sobre o futuro da Igreja, se pensarmos profundamente no número de cristãos, religiosos, clérigos, religiosos, bispos e cardeais, poderemos ver e constatar, de verdade, que nos despojamos de nossos bens e, mais ainda, de nós mesmos? 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«O Senhor é fiel para sempre, / faz justiça aos que são oprimidos; / ele dá alimento aos famintos, / é o Senhor quem liberta os cativos. / O Senhor abre os olhos aos cegos, / o Senhor faz erguer-se o caído; / o Senhor ama aquele que é justo / É o Senhor quem protege o estrangeiro. / Ele ampara a viúva e o órfão, / mas confunde os caminhos dos maus. / O Senhor reinará para sempre! / A Sião, o teu Deus reinará / para sempre e por todos os séculos!»

(Fonte: Salmo Responsorial – Sl 145(146),7.8-9a.9bc-10)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – IV Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 29 gennaio 2017 – Internet: clique aqui (Acesso em: 26/01/2023).

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