«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Forças Armadas comprometidas!

 A impunidade dos generais golpistas

 Silvio Caccia Bava

Diretor do “Le Monde Diplomatique Brasil” – Jornalista 

Jair Bolsonaro foi a ponta de lança para o retorno das Forças Armadas ao poder

A politização das Forças Armadas promovida pelo governo Bolsonaro apenas reforçou a postura de extrema direita que já era dominante

A cúpula das Forças Armadas (FFAA) se movimenta para impedir a prisão dos generais golpistas e a maior degradação de sua imagem institucional, cada vez mais associada à tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, à corrupção e à defesa dos privilégios do oficialato. 

Um dos mais recentes movimentos dos comandantes das três forças – Exército, Marinha e Aeronáutica – foi pedir uma reunião extraordinária com o presidente Lula, ocorrida num fim de semana (19 de agosto), intermediada pelo ministro da Defesa, José Mucio. Qual é a urgência para reafirmar ao presidente sua fidelidade à democracia, sua disposição de punir os infratores? Especula-se que o motivo central tenha sido apresentar o pedido de que os generais incriminados não sejam levados à prisão. Evidentemente, essa agenda não foi a oficial do encontro. 

O Inquérito Policial Militar (IPM) criado para averiguar o envolvimento de militares na invasão da sede do governo não encontrou crimes militares na conduta dos agentes públicos, isentando de responsabilidade os generais e demais membros do oficialato pela tentativa de golpe. Conduzido pelo coronel Robert Julian da Silva Graça, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto, o IPM já tinha seus resultados definidos antes mesmo das averiguações. 

Ocorre que os fatos contradizem essas conclusões. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que reúne Câmara dos Deputados e Senado e apura os acontecimentos de 8 de janeiro, parece ir por outro caminho, baseando-se em vídeos e depoimentos que incriminam vários generais e outros oficiais da ativa e da reserva, e levando à frente suas investigações.  

A iniciativa dos comandantes também leva em conta a deterioração da imagem das Forças Armadas perante o público. Pesquisa Genial/Quaest, de agosto de 2023, identifica uma queda expressiva na avaliação das FFAA por parte dos brasileiros. Em dezembro de 2022, 43% diziam “confiar muito” nas FFAA; esse percentual caiu para 33% em agosto deste ano, ou seja, 10 pontos percentuais. E os percentuais dos que “não confiam” passou de 18% para 23%

É preciso evitar o que aconteceu com a CPI da Pandemia, criada no Senado, cujo relatório final, encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), propunha vários indiciamentos, atribuindo crimes ao presidente, ao general Pazuello e a outras autoridades com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal. A PGR não tomou nenhuma atitude para indiciar quem quer que seja. 

A razão dessa postura dos três comandantes é a forte presença do bolsonarismo nas FFAA, somada à defesa corporativa de seus pares e da imagem das FFAA. Ao que tudo indica, e os dados da CPMI vão corroborando, a tentativa de golpe de Estado era articulada por um núcleo de generais e tenentes-coronéis que não aceitam a vitória eleitoral de Lula, tido como um comunista a ser combatido por todos os meios.    

LULA passando em revista à tropa de fuzileiros navais, o qual, em sua maioria, os militares, jamais lhe foram simpáticos ou acolhedores

Núcleo golpista nas Forças Armadas

As investigações apontam a existência de um grupo de 26 militares de alta patente (23 generais) que participam de um grupo de extrema direita no Twitter, inseridos numa rede de políticos bolsonaristas e influenciadores olavistas, que ainda contam com a participação de 668 políticos, entre governadores, ex-ministros, senadores e deputados.[1]  

O fato de, apenas em abril, oitenta militares, entre eles um general, terem sido chamados pela CPMI para prestar depoimento à Polícia Federal sobre os atos golpistas alertou o alto comando para suas possíveis consequências. 

A politização das FFAA promovida pelo governo Bolsonaro apenas reforçou a postura de extrema direita que já era dominante. É preciso um pouco de história para encontrar as razões pelas quais as FFAA assumem uma postura ideológica de extrema direita e combatem toda forma de dissidência ou discordância.  

Ficou evidente o apoio tácito de muitos militares (Polícia Militar do Distrito Federal, Exército, Polícia Rodoviária Federal e outros) a uma tentativa de golpe contra as eleições de 2022

A “limpeza” feita pelo Golpe Cívico-Militar de 1964

A ditadura militar implantada com o golpe de 1964 puniu ou afastou, de 1964 a 1970:

* 53 oficiais generais,

* 274 oficiais superiores,

* 111 oficiais intermediários,

* 113 oficiais subalternos,

* 936 suboficiais, sargentos, cabos e soldados.

Todos acusados de comunistas, de esquerda,[2] de defensores de uma política nacionalista de desenvolvimento e de soberania para o Brasil. 

Os verdadeiros motivos do golpe de 1964 e a ditadura não foram evitar que o país passasse por um processo de comunização e corrupção.

Foram para viabilizar um modelo de desenvolvimento capitalista de caráter conservador, socialmente excludente e dependente do capital internacional.[3]

Para isso, promoveu-se uma “limpeza” nas FFAA, buscando eliminar todo possível foco de contestação a essa estratégia entreguista. A partir daí, afirmou-se a doutrina do pensamento único. Toda divergência passou a ser tratada como sabotagem, como subversão, e deve ser combatida. É a negação da democracia. 

As consequências dessa “limpeza” se fazem sentir até hoje. A doutrina de defesa do neoliberalismo e combate às ameaças comunistas, que precisam ser erradicadas, orienta a formação dos oficiais nas escolas de formação, a identificação dos “inimigos internos” e as formas de combatê-los. É essa doutrina que dá suporte à maior intervenção das Forças Armadas na política. É essa doutrina a abraçada pelo governo Bolsonaro. 

O Brasil gastou R$ 94 bilhões para pagar pensões a herdeiros de militares nos últimos quatro anos, considerando todas as patentes. Teria sido suficiente para bancar o Bolsa Família a mais quase 3 milhões de famílias pelo mesmo período.

Privilégios da Cúpula das Forças Armadas

Além disso, a permanência do poder nas mãos dos militares por tantos anos lhes assegurou impunidades e privilégios, como as aposentadorias e pensões. As filhas de oficiais, com a morte destes, passam a se beneficiar de uma pensão vitalícia, não importa se estejam casadas ou não. Há casos em que essas pensões ultrapassam R$ 100 mil.

As distorções em favor do oficialato são tais que o custo dos generais da ativa e aposentados são iguais aos dos 90 mil soldados e cabos do Exército brasileiro.[4]

As punições dos oficiais que cometeram crimes contra a democracia e contra a Constituição, que estiveram envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, são essenciais para garantir que não haja novas tentativas de golpe. Da mesma forma é preciso alterar drasticamente os cursos de formação para oficiais, valorizando a pluralidade e a diferença, colocando como eixo a defesa da democracia e dos direitos humanos, como prega a Constituição.   

Notas:

[1] Dados do Laboratório Data_PS, da UFRJ e da UFF.

[2] Projeto Brasil Nunca Mais, que cita “Atos da Revolução de 1964, vol. I, de 9 de abril de 1964 a 15 de março de 1967”, coletânea preparada pelo Ministério da Aeronáutica.

[3] Cláudio Bezerra de Vasconcelos, “Cassação de militares: a ameaça vem de dentro”. Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/208-cassacao-de-militares-a-ameaca-vem-de-dentro.html.

[4] Brasil de Fato, 23 maio 2023. 

Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil - Editorial – Setembro de 2023 – Ano 16 – Edição Nº 194 – Página 3 – Publicado em 1 de setembro de 2023 – Internet: clique aqui – Acesso em: 10/09/2023.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.