«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

26º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 21,28-32 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Para Jesus, o que se fala não conta; o que importa é o que se faz

Para o evangelista Mateus, os líderes religiosos do povo são doentes terminais! Sim, doentes terminais de poder, para quem não há esperança. A ação de Deus, o poder de Deus torna-se impotente contra eles. Como é que isso? Deus pode tudo com o pecado e com os pecadores, seu amor consegue desmoronar o pecado, mas nada pode fazer contra aqueles que agem por conveniência e é isso que fazem os sumos sacerdotes, os líderes do povo. Houve um precedente, eles estão furiosos com Jesus, porque Jesus, depois do episódio no templo, declarou que o templo é um covil de ladrões e então esses sumos sacerdotes, os anciãos, perguntam a Jesus com que autoridade ele pode fazer isso. E Jesus não responde, mas pergunta-lhes com que autoridade veio João Batista e eles não respondem, por quê? Eles raciocinam entre si, dizendo: se falarmos do céu, ele nos dirá: por que vocês não acreditaram nele; se falarmos dos homens, temos medo das pessoas que acreditam que ele seja um profeta, por isso não respondem. Tudo o que as autoridades religiosas fazem, decidem e agem é para sua conveniência; no momento é conveniente que não respondam. Mas Jesus não desiste e os exorta com esta parábola, que é dirigida aos líderes do povo, aos sumos sacerdotes e aos anciãos. 

Mateus 21,28-30: «Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes e anciãos do povo: “Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, ele disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de opinião e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi.»

Jesus lhes pergunta: “O que vocês acham?”, portanto, os obriga a responder porque ficaram em silêncio: “Um homem tinha dois filhos. Voltou-se para o primeiro e disse: Meu filho”, o termo é cheio de carinho, poderíamos traduzi-lo como “meu filhinho”, porque é a imagem daquele que acaba de sair do ventre materno, “hoje vai trabalhar na vinha”, a vinha que conhecemos é imagem do povo de Israel, portanto o pai pede ao filho que colabore em sua ação, o que o Senhor pede é que colaboremos em sua ação criadora. “E ele respondeu: não estou com vontade”, portanto, respondeu sem pensar, respondeu mal, “mas depois se arrependeu”, ou seja, sentiu remorso “e foi”. “Virou-se para o segundo e disse o mesmo”, ou seja, fez o mesmo convite para trabalhar na vinha. “E ele respondeu: Sim, senhor”, literalmente “eu senhor”, deve-se ter sempre cuidado com aquelas pessoas que dizem “sim, senhor”!Mas ele não foi lá”. Aqui, na denúncia de Jesus, há o apelo de Deus no livro do profeta Isaías, onde o Senhor diz: “este povo me honra com os lábios sim Senhor, mas com o coração”, ou seja, com a mente “está longe de mim” (Is 29,13); ou a censura que Jesus proferiu: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor! Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7,21). 

Mateus 21,31: «Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “O primeiro”. Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo, que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus.»

Jesus complementa com incrível rapidez e veemência, dirigindo-se aos sumos sacerdotes e aos anciãos, aos líderes religiosos do povo: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”, o evangelista ilustra mais uma vez qual é a vontade do Pai. Qual é a vontade de Deus? Que colaboremos em sua própria ação criadora. E como se colabora na ação criadora de Deus? Comunicando vida às pessoas. “Qual dos dois cumpriu a vontade do pai? Eles responderam o primeiro”, eles são forçados a admitir. “E Jesus lhes disse: ‘Verdadeiramente’”, então a declaração de Jesus é solene e deve ser levada a sério: “Eu digo a vocês, cobradores de impostos e prostitutas”. O evangelista apresentou os primeiros da sociedade, as pessoas consideradas mais próximas de Deus, isto é, os sumos sacerdotes e os anciãos, e, agora, os contrasta com os últimos da sociedade, ou seja, os cobradores de impostos e as prostitutas, justamente aquelas duas categorias para as quais o Reino de Deus atrasava por vir, assim diziam os sacerdotes e os fariseus. Portanto, é por culpa dessas categorias que o Reino de Deus não vem. Pois bem, Jesus diz “os publicanos e as prostitutas passam à frente de vocês”, aqui, o verbo usado pelo evangelista, “preceder”, não é apenas uma precedência, é tomar o lugar, portanto eles ocupam o seu lugar, eles tomam o lugar dos líderes religiosos no Reino de Deus! Então Jesus contrastou nesta passagem os grandes, os considerados mais próximos a Deus com os últimos, por que isso? Porque como dissemos no início, Deus nada pode fazer com aqueles que agem por comodidade, egoísmo, ganância e interesse. Aliás, é o interesse o verdadeiro Deus desta casta sacerdotal no poder, tudo o que ela faz, o faz por interesse! Mas Deus pode com os pecadores, aqueles que vivem em pecado. Sua onda de amor pode convertê-los verdadeiramente, por isso ele tem sucesso com publicanos e prostitutas, mas não com líderes religiosos. 

Mateus 21,32a: «Porque João veio até vós, num caminho de justiça, e vós não acreditastes nele.»

Caminho de justiça”, isto é, de fidelidade a Deus, “e vocês não acreditaram nele”, eis a resposta que eles não puderam dar à pergunta proposta por Jesus: a autoridade de João veio do céu ou não? Agora, Jesus lhes dá a resposta: “Vocês não acreditaram nele”. Os líderes religiosos são sempre refratários à ação de Deus, em vão Deus lhes envia mensageiros, envia-lhes profetas, são sempre fechados, não acreditam. É a tragédia: aqueles que teriam de ensinar ao povo a vontade de Deus, eles são os primeiros a não conhecê-la e a não crer nela! 

Mateus 21,32b: «Ao contrário, os cobradores de impostos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes para crer nele”.»

Vocês, pelo contrário, viram essas coisas”, então não há desculpa, “mas vocês nem se arrependeram de modo a acreditar nele”. Jesus está dizendo-lhes: aqueles que vocês consideram excluídos foram atingidos pela mensagem de João Batista. Pela terceira vez aparece o termo arrependimento, arrepender-se, que apareceu nesta parábola, e depois aparecerá para Judas. O evangelista é muito severo:

... o filho da parábola se arrepende, até Judas, o traidor, depois se arrependeu, as autoridades não, são completamente refratárias à ação do Senhor.

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«As únicas pessoas que se enfurecem ao ouvir a verdade, são aquelas que vivem a mentira.»

(Autoria desconhecida)

Importa circunscrever, bem, o contexto no qual se encontra a parábola que Jesus nos propôs neste domingo. Ele entrou em Jerusalém, na última semana de sua vida terrena, e realizou uma ação radical e escandalosa no local do Templo: a violenta expulsão dos comerciantes que exploravam os fiéis naquele lugar que deveria ser de oração e encontro com Deus (cf. Mt 21,1-27). Quando interrogado, pelos líderes religiosos da época — os anciãos e sumos sacerdotes —, com qual autoridade fazia aquelas coisas, Jesus reage com outra questão: “De onde provinha o batismo de João, do céu ou dos homens?” (Mt 21,25). Como esses líderes religiosos não lhe responderam por receio do povo, Jesus os provoca, endereçando-lhes três fortes parábolas: parábola dos dois filhos (Mt 21,28-32), a dos vinhateiros homicidas (Mt 21,33-46) e a do banquete do Reino (Mt 22,1-14). 

Com essas parábolas, Jesus deixa claro três coisas:

1ª) as lideranças religiosas não realizam a vontade de Deus;

2ª) eles se apossaram do poder e matam aqueles que lhes atrapalham;

3ª) por isso, eles não entrarão no banquete do Reino de Deus.

O maior desserviço que as pessoas religiosas e os líderes religiosos podem prestar a Deus é serem gente que fala uma coisa e pratica outra! Jesus se orienta, como nos recorda José María Castillo, teólogo espanhol, pela “ética dos fatos”, não pela ética dos propósitos e palavras. Não por acaso, há um dito muito popular entre nós: “De boas intenções o inferno está cheio!” O que está corretíssimo! 

Nos tempos atuais, assistimos ao triste espetáculo de observarmos cristãos e, principalmente, lideranças cristãs que:

* pregam o desapego ao dinheiro, aos bens materiais, a necessidade de uma vida austera e simples, enquanto se parecem com tudo, menos pessoas humildes e pobres!

* Falam de comunhão, diálogo, participação, porém são pessoas extremamente apegadas ao poder, desejosas que suas decisões, ideias e posicionamentos prevaleçam sempre!

* Criticam violentamente o sexo e as relações libertinas, enquanto ocultam, disfarçam e não assumem a sua própria sexualidade e, até mesmo, protegem delinquentes sexuais! 

Pessoas, assim, são abominadas por Jesus, seja em seu tempo, como nos dias de hoje! Há uma frase dele que exprime bem o estrago que gente desse tipo provoca na comunidade e na sociedade: “Fechais aos outros o Reino dos Céus, mas vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam” (Mt 23,13).

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Sou, também eu, Jesus, como os dois filhos da parábola. Às vezes prometo seguir-te, mas a língua é mais rápida que os fatos, ou a vontade é mais fraca que as situações. Às vezes desisto imediatamente, confesso a ti meu fracasso e meus medos, e então penso nisso, trilhando lentamente o caminho que tu traçaste para mim. Por que somos tão fracos e pouco lineares, tão complexos e confusos por pressões internas e externas? Talvez sejamos os únicos que te desagradamos, iludidos pelo nosso perfeccionismo e gosto pela eficiência. Tu nos entendes muito além da nossa autocompreensão, ignoras os momentos de cansaço, não és tão duro a ponto de querer que sejamos inflexíveis. É por isso que tu elogias a mudança de mentalidade se ela leva ao bem, e alerta sobre a incoerência se leva ao mal. Por isso tu concluis nos escandalizando, citando cobradores de impostos e prostitutas arrependidos, que nos precederão em teu Reino. Se vencermos a tentação do julgamento, nós também teremos algo a agradecer pela tua misericórdia, já que somos tão bons em perceber o cisco e ignoramos lindamente a trave em nossos olhos. Mas, acima de tudo, na tua escola continuaremos crianças, aprendendo a perdoar-nos e a aproveitar o nosso tempo, e a tornar as nossas vidas mais leves e vivíveis. Amém.»

(Fonte: RAIMONDO, Pierfortunato. 26ª Domenica del Tempo Ordinario: orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 549.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 26ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 27 settembre 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 26/09/2023).

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