«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

24º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 18,21-35 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)


“Perdoar é dar chance à vida”

Mateus é o evangelista que mais aborda o tema do perdão do que os demais, principalmente neste capítulo 18. Jesus exortou os discípulos e afirmou que, se o irmão não quiser se reconciliar, deve ser tratado como cobrador de impostos (publicano) ou como um pecador. O que não significava excluí-lo do amor, mas que este não era mais um amor mútuo, mas um amor unilateral. Pois bem, nos versículos que comentamos neste domingo, capítulo 18 de Mateus, versículos 21 a 35, Pedro parece ter entendido. No entanto, ele acha que esse amor deve ser limitado e por isso tenta colocar uma contenção! 

Mateus 18,21-22: «Naquele tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.»

E então Pedro – chamado pelo apelido negativo que indica a sua teimosia – aproxima-se de Jesus e diz-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?”. E a legislação rabínica estabeleceu um limite, um máximo de três vezes o perdão. Bom, Pedro tenta abundar, exagerar, dobrar, ele diz: “Até sete vezes?” A resposta de Jesus é: “Não te digo até sete vezes, mas”, e aqui Jesus se refere ao livro de Gênesis (4,24), ao canto do vingativo Lamec que dizia “Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec será vingado setenta e sete vezes”, ou seja, vingança infinita.

Jesus pega esse cântico, mas muda seu significado e diz: “..., mas até setenta vezes sete”. Este número não indica a quantidade, ou seja, ilimitado, mas sim a qualidade deste perdão, isto é, incondicional. E para fazê-lo compreender, Jesus recorre a uma parábola: com os tons típicos da fantasia do Oriente Médio, fala de um rei que quer acertar contas com os seus funcionários. 

Mateus 18,23-26: «Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, levaram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. Como o empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, prostrado, suplicava: ‘Dá-me um prazo! e eu te pagarei tudo!’»

Naquela época todos os dependentes de um rei eram chamados de “servos”, mas aqui vemos que ele é um oficial. Pois bem, ele lhe deve uma soma enorme e desproporcional:10.000 talentos, cerca de 300.000 quilos de ouro, algo impossível. Então Jesus fala justamente desta quantia desproporcional e o servo pede-lhe que tenha paciência para sanar esta dívida. Mas que paciência, uma vida inteira não seria suficiente para isso! Estima-se que seriam necessários aproximadamente 164.384 anos para reembolsar tal quantia! 

Mateus 18,27: «Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida.»

Pois bem, o evangelista escreve que: “O patrão teve compaixão do servo”. A compaixão é o sentimento de Deus, é o sentimento de Jesus com o qual a vida é devolvida a quem não a tem. Este funcionário, este servo já não tinha vida, o rei tinha ordenado que ele, a sua mulher e os seus filhos fossem vendidos conforme a legislação em vigor; ora, este funcionário, este servo tem um perdão absurdo e ilimitado

Mateus 18,28-30: «Ao sair dali, aquele empregado encontrou um dos seus companheiros que lhe devia apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dá-me um prazo, e eu te pagarei!’ Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia.»

Quando ele parte, o fato desse funcionário ter sido objeto desse perdão, dessa misericórdia não provocou nele uma mudança. Ele encontra um de seus companheiros, que lhe deve uma quantia irrisória, 100 denários. Um denário era o salário diário, portanto é uma dívida que compreende pouco mais de três meses de trabalho, o que já é possível de se pagar!Ele o agarrou e começou a sufocá-lo”, estava a ponto de tirar a vida desse companheiro, tal era a sua ganância! E ele, aquele que devia, diz, como o funcionário disse ao rei: “Dá-me um prazo, e eu te pagarei!” E, neste caso, isso é possível, pois são três meses de trabalho. Mas ele não quis, foi implacável e mandou colocá-lo na prisão até pagar a dívida. 

Mateus 18,31-34: «Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão e lhe contaram tudo. Então o patrão mandou chamá-lo e lhe disse: ‘Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida.»

Tendo visto o que estava acontecendo, os companheiros se dirigem ao rei e lhe referem tudo o que se sucedeu. O rei, então, tem palavras muito duras ao seu funcionário, ele diz: “empregado perverso” — literalmente “mal/maligno”, como o diabo — “eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?”.

Portanto, ter sido objeto de misericórdia não trouxe misericórdia para esta pessoa.

E o rei o entrega aos carcereiros “até que pagasse toda a sua dívida”, ou seja, elimina-o para sempre! É claro que é um modo fantasioso, do Oriente Médio, de expressar rejeição. 

Mateus 18,35: «É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.»

Mas esta conclusão de Jesus é importante! Jesus já havia dito anteriormente que o que está ligado na terra também será ligado no céu e o que está desligado será desligado; Deus já perdoa as pessoas, mas este perdão permanece vinculado/inoperante até que se transforme em perdão para com os outros. Então não é que Deus não queira perdoar, mas se uma pessoa, apesar de ter obtido o perdão de Deus, se recusa a perdoar aos outros, essa falta de perdão, esse perdão permanece vinculado, inoperante! Portanto, o convite à comunidade é para dissolver/liberar este perdão, para comunicar o perdão porque, repito, todos nós já somos perdoados por Deus, mas este perdão só se torna operacional e eficaz quando se transforma em perdão para os outros. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Ser cristão significa perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você.»

(Clive Staples Lewis: 1898 a 1963 — escritor irlandês)

Não foi por acaso que o evangelista Mateus afirmou que a Lei e os Profetas, ou seja, o conjunto das Sagradas Escrituras judaicas (o Antigo Testamento, como chamamos), pode ser sintetizado na seguinte máxima: “Tudo, pois, quanto quereis que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles” (Mt 7,12; cf. Lc 6,31). Para não restar alguma dúvida, na oração do Pai-nosso, há uma frase semelhante: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12). Portanto, Deus dispensará a nós, segundo Jesus, o mesmo tratamento que costumamos dispensar às pessoas com as quais convivemos! Deixando ainda mais claro: receberemos de Deus o mesmo respeito, tolerância, estima e capacidade de perdão que demonstrarmos em relação aos nossos irmãos e irmãs, neste mundo! 

No entanto, sabemos por experiência própria o quanto é difícil perdoar, tolerar e conviver com aqueles que nos fizeram mal, que nos prejudicaram muito ou pouco, que seja! Há uma diferença abismal entre Deus e os seres humanos, e as duas parábolas contadas por Jesus, no Evangelho deste domingo, deixa evidente isso: Deus é imensuravelmente misericordioso, por isso, o seu perdão não tem limites! Já, o ser humano é assustadoramente ruim e miserável, como o demonstra o funcionário que, tendo sido perdoado de uma dívida imensa, não consegue perdoar uma dívida pífia de seu companheiro! 

Tem razão Clives Staples Lewis, famoso escritor irlandês, autor das renomadas “As Crônicas de Nárnia”, quando afirma que: “Nenhum ser humano sabe o quanto é mau, até se esforçar para ser bom. Só conhecemos a força do vento quando caminhamos contra ele, e não quando nos deixamos levar”. É disso, mesmo, que se trata: caminharmos contra o “vento” de uma sociedade que nos faz crer que o fundamental na vida é ser: ganhador/vitorioso, bem-sucedido, notado/reparado, famoso, capaz de superar todos os obstáculos. Em um mundo, assim, não há espaço para um Deus-Amor, um Deus-Perdão, um Deus-Misericórdia! Basta observar que jamais se viu tanta mesquinhez e ruindade nas pessoas mais ricas deste planeta! Apenas a insensibilidade, o egoísmo e a ganância sem limites podem explicar o fato de existirem pessoas que, sozinhas, ganham mais que países inteiros! Pessoas que possuem mais do que conseguirão gastar os seus futuros descendentes! Pessoas que não se comovem nem se indignam com tanta fome, miséria, falta de assistência à saúde, de educação de qualidade e de moradia digna a tantos irmãos e irmãs, nesta terra! 

Porém, tais pessoas não são ricas, apenas possuem bens materiais! Somente Deus é rico o bastante para perdoar sempre a quem se arrepende! Nossa Igreja deve ser, mais do que nunca, sinal desse Deus-Perdão para uma sociedade que está se autodestruindo e se fragmentando, cada vez mais, por não saber distribuir, compartilhar, dividir e cooperar! Só a reconciliação e o perdão poderão salvar a humanidade de si mesma! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Pai bom e misericordioso, louvado sejas pelo amor que nos revelaste em Cristo, teu Filho! Tu, misericordioso, chamas todos a se tornarem misericórdia. Ajuda-me a me reconhecer todos os dias necessitado do teu perdão, da tua compaixão, necessitado do amor e da compreensão dos meus irmãos. A tua Palavra mude o meu coração e torne-me capaz de seguir Jesus, de sair todos os dias com Ele para buscar os meus irmãos no amor. Amém.»

(Fonte: MESTERS, Carlos, O.Carm., 24ª Domenica del Tempo Ordinario: orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 527.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – 24ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 13 settembre 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 11/09/2023).

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