Unidade e comunhão é o que precisamos
Telmo José Amaral de Figueiredo
Padre, teólogo e biblista católico, assessor da Comissão Bíblica Diocesana – Diocese de Jales – SP
Os motivos que levaram à escolha da
Carta aos Efésios são dois: o primeiro deles é a relação com a sinodalidade,
processo pelo qual a Igreja Católica passa em todo o mundo, convocada pelo Papa
Francisco diante do Sínodo dos Bispos (outubro de 2023 e 2024) que refletirá
sobre a Igreja. Efésios fala muito sobre a Igreja e sobre a visão que devemos
ter dela. O segundo motivo é pela questão da iniciação à vida cristã. Essa
carta fala muito sobre o batismo, esse tema é uma das prioridades da Igreja no
Brasil atualmente.
Essa carta pertence à segunda geração
de cristãos, isto é, aqueles que não conviveram pessoalmente com Jesus e seus
discípulos. Uma provável data para a sua redação seria entre os anos 80 e 90 da
era cristã. Algum colaborador/discípulo do apóstolo Paulo deve tê-la escrito
para comunidades localizadas na antiga Ásia Menor, atual território da Turquia.
Éfeso era a capital romana dessa região e há uma menção na carta a um tal de
Tíquico (Ef 6,21), que já havia sido nominado em At 20,4 e 2Tm 4,12, o qual é
situado na comunidade cristã de Éfeso.
A finalidade da carta pode ser buscada, não com absoluta certeza, em um dos seguintes objetivos: o primeiro, restabelecer a unidade, a paz e o bom entendimento entre os descendentes de judeus e os gregos/gentios que haviam se decidido por seguir Jesus. O segundo, estabelecer a reconciliação entre os membros da comunidade, pois não havia mais os apóstolos e discípulos diretos de Cristo para garantirem a unidade das comunidades. O terceiro, destacar os valores evangélicos, a adesão a Cristo e reforçar o compromisso cristão, uma vez que as comunidades daquele tempo conviviam em uma sociedade cujos valores eram contrários ao Evangelho de Cristo.
A Carta aos Efésios deixa claro que a
unidade da Igreja funda-se diretamente em Deus, na Trindade. Afinal, somos
todos filhos e, portanto, irmãos por termos um mesmo Deus Pai, criador do
universo. Jesus, o Filho, é o destinatário de toda a criação, é o Senhor do
Cosmos. Recebe os títulos de: o amado, o eleito, o mediador, o unificador, o
redentor, a cabeça da Igreja. Somente ele conhecia o plano de salvação do Pai
(denominado de “mistério”) e o podia revelar. O Espírito Santo é aquele que
dará o cumprimento da promessa de Deus Pai. Ele confirma o messianismo de Jesus
e, por isso, garante a unidade da comunidade de seus seguidores.
O lema do Mês da Bíblia — “Vestir-se
da nova humanidade” — baseado em Ef 4,24, sintetiza muito bem o que o autor de
Efésios pretende com a sua exortação às comunidades. Pelo nosso batismo
passamos a ser participantes da vida, morte e ressurreição de Jesus, ou seja,
fazemos parte da Igreja, a qual nada mais deve ser do que a comunidade onde se
vive, se pratica e se expande o mistério de amor de Deus Pai, Filho e Espírito
Santo a toda a humanidade. É a vida em comunidade que deve revelar ao mundo o
quanto Deus nos ama. Daí a importância da Igreja, pois Deus ama e cuida do
mundo mediante a comunidade dos seguidores de Jesus, quando essa atua segundo o
Evangelho, é claro!
Por isso, a Igreja, que somos nós, —
aqueles que foram batizados e seguimos Jesus Cristo — sendo fiel a ele,
torna-se esse “homem novo”, despojado do “homem velho”, corrompido pelas
paixões enganadoras deste mundo em que vivemos (cf. Ef 4,22).
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