11º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

 Evangelho: Marcos 4,26-34 

Frei Alberto Maggi *

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

O Reino de Deus se manifesta na pequenez

Para que os discípulos e o povo pudessem compreender a novidade que ele, Jesus, trazia, ou seja, o Reino de Deus, uma sociedade alternativa onde é Deus, o Pai, quem governa os seres humanos, não emanando leis que esses devem observar, mas comunicando-lhes o seu amor, Jesus faz uso de parábolas. Marcos, no capítulo 4, apresenta-nos duas a partir do versículo 26. 

Marcos 4,26:** «Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra.»

Este é o início da primeira parábola. A semente já tinha sido apresentada, no capítulo 4, como sendo a mensagem de Jesus. O que isso nos quer dizer? O ser humano e a mensagem são feitos um para o outro! Se não se encontram, permanecem estéreis! Mas, quando se encontram, no ser humano, liberam-se energias que, em contato com essa palavra, com essa mensagem, liberam todas as potencialidades humanas, até a plenitude da maturidade. 

Marcos 4,27-29: «Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”.»

E Jesus continua falando do crescimento do caule, da espiga e do grão, que é normal, praticamente, espontâneo. Portanto, uma imagem que deve ser compreendida no interior da cultura agrícola daquele tempo, aquela da foice e da colheita. A vida dos agricultores era terrível, era sofrimento, dor e mais dor. Um dos poucos momentos do ano que representava uma grande alegria era, justamente, aquele da colheita. Chamava-se os vizinhos, os amigos e todos os parentes que, juntos, colaboravam e era uma grande festa. Nos Salmos, por exemplo, a colheita vem sempre associada à alegria (cf. Sl 126,5: “Os que semeiam com lágrimas, colhem em meio a canções”). O que Jesus quer dizer?

Que quando o homem amadurece a si mesmo, alcança também a plenitude da alegria.

Esse é o motivo da imagem da foice e da colheita. 

Marcos 4,30-31: «E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra.»

Depois, Jesus distancia-se das expectativas nacionalistas e triunfalistas desse Reino de Deus. Ele toma uma imagem do profeta Ezequiel, o qual, no capítulo 17, versículos 22 a 24, imagina o Reino de Deus a um cedro. O cedro era comumente conhecido como o rei das árvores. Esse cedro é plantado sobre o monte mais alto de Israel, e ele é extraordinário, atrai a atenção, até mesmo de longe, devido à sua magnificência. E Jesus diz que: “O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra”. O qual é plantado na horta de uma casa, entre as hortaliças. Portanto, não é algo chamativo, mas algo comum, normal. Na Palestina, na região do lago da Galileia, onde as condições permitem, a mostarda pode atingir até uns dois metros de altura. As suas sementes são minúsculas, microscópicas. Mas, possuem uma particularidade, sendo pequeninas, com o vento, se difundem para todos os lugares.

Então, o que Jesus está dizendo? O Reino de Deus, mesmo no momento de seu máximo desenvolvimento, de seu máximo crescimento, não será algo que atrairá a atenção, não será algo de extraordinário, mas será uma coisa comum, na horta da casa, mas será eficaz

Marcos 4,32-34: «Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”. Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.»

Depois, Jesus diz algo de particular e importante: “os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”. Porque os ramos da mostarda tendem a estender-se na horizontal. Mas, por que menciona os pássaros do céu? Porque eram animais inúteis e desprezados, então, Jesus anuncia que o Reino de Deus é dirigido, justamente, àqueles que foram marginalizados, desprezados, distanciados pela instituição religiosa, pela sociedade. E, no Reino de Deus, encontrarão o seu respiro, o seu alívio. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias.»

(Provérbio africano)

Intriga-nos o fato de Jesus ensinar, narrando parábolas! Por quê? Parábolas, como sabemos, são comparações com situações da vida, do cotidiano. Aí está a chave da resposta! As parábolas ajudavam a vida das pessoas a tornar-se transparente. Porque o extraordinário de Deus esconde-se nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. Por meio das parábolas, Jesus ajudava as pessoas a perceberem a presença misteriosa do Reino de Deus nas coisas da vida. 

Essas duas parábolas, deste domingo, nos desconsertam! Sim, pois elas contradizem o modo como muitos cristãos pensam que evangelizam, nos tempos atuais. Vivemos no mundo do espetáculo, do extraordinário, dos grandes eventos de massa, por isso, evangelizar, para alguns cristãos, tornou-se sinônimo de:

* reunir grandes grupos de pessoas,

* realizar imensas celebrações,

* promover imensos shows musicais gospels,

* ser seguido por milhares e milhões de pessoas nas redes sociais,

* edificar enormes, caríssimos e luxuosos templos para reunir a “massa” de seguidores de Cristo etc. 

Ao contrário de tudo isso, Jesus nos diz, por meio de suas parábolas, que:

1º) O crescimento do Reino de Deus é um processo misterioso, como aquele que faz uma semente tornar-se grão! É preciso tempo. Respeito às etapas. O fruto, o resultado vêm no momento justo, aos poucos. Esse mistério revela que ninguém é “dono” do Reino de Deus, ninguém “comanda”, “dirige” o processo. Ninguém pode prometer ou planejar nada! Somente Deus!

2º) O Reino de Deus jamais será algo espalhafatoso! O Reino de Deus não surge, chamando a atenção das pessoas, fazendo autopublicidade, mas silencioso, como uma planta semeada na horta de uma residência. Uma sementinha, quase imperceptível, mas com a capacidade de se espalhar, de contagiar outros, atingir o máximo de lugares possível! Eis aí o segredo do Reino! Trabalhar com grandes massas de pessoas dá um retorno imediato, mas não duradouro! A massa é fácil de dispersar, confundir e deixar-se seduzir por outros apelos, outras propostas! 

A evangelização que, de verdade, funciona, produz fruto (grão) é aquela que respeita as etapas, respeita o tempo, respeita o ritmo das pessoas, atinge cada um, em particular, em seu íntimo, portanto, convence, converte! 

Quem sabe, justamente por isso, sejam os mais simples, os mais pobres, os mais humildes que dão mais fruto ao receberem essa semente, isto é, a mensagem de Jesus. 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Ó Senhor, o nosso é o mundo do ser humano, um mundo cada vez mais fundado em nossa sabedoria, em nossa programação; um mundo frenético no qual não há espaço nem futuro para a tua Palavra. Não sabemos mais esperar; o nosso é um mundo sem esperança, não sabemos semear sem nos preocuparmos se seremos nós ou outros que colherão. Em vez disso, tua palavra é uma palavra de grande paciência que estimula uma esperança ilimitada: aqueles que semearem entre lágrimas, colherão na alegria, se a semente não morrer não produz frutos, uma medida abundante, a cem por um. Senhor, semeia calma em minha alma, semeia a confiança em ti, a esperança em tua palavra, que é mais eficaz do que toda programação humana. Amém.»

(Fonte: GOBBIN, Marino, O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm [a cura di]. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 406)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – XI Domenica Tempo Ordinario – 13 giugno 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/06/2024).

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