«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O lugar da Bíblia na transmissão da fé hoje

Entrevista com Johan Konings

XIII SEMANA TEOLÓGICO PASTORAL 
(PUC/Rio, IFITEPS e ITF) - 24-26/10/2012:
"Transmissão da Fé em contexto de Nova Evangelização"
PE. JOHAN KONINGS - biblista jesuíta
Na segunda parte do primeiro dia, a assembleia foi presenteada com conferência do conhecido escritor e conferencista Padre Johan Konings, professor da FAJE (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia/Belo Horizonte, MG), sob o tema O lugar da Bíblia na transmissão da fé hoje
Em sua fala destacou que a Transmissão da Fé pressupõe um sempre renovado encontro pessoal com Deus, em Jesus de Nazaré.

1. Informativo Instituto Teológico Franciscano (ITF): Pe. Konings, quais os primeiros passos para uma leitura adequada da Sagrada Escritura (SE) nos dias de hoje?

Pe. Konings: A primeira função da SE, do ponto de vista cristão, é pôr as pessoas em contato com a pessoa e a obra de Jesus de Nazaré.  Costumo aconselhar como primeiro passo: 
  • a obra em dois volumes de Lucas, o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, porque tratam de Jesus e de sua comunidade, que são inseparáveis. Além disso, Lucas é um excelente narrador, um grande romancista, sensível ao ambiente judaico de Jesus, por exemplo na bela evocação da infância, e sensível também à perspectiva dos não judeus, sobretudo em Atos. 
  • Outra abordagem possível é o Evangelho segundo João, sobretudo para pessoas com grande sensibilidade pelo simbolismo e pela contemplação. O que Lucas descreve em cenas vivas, João o diz em palavras de profundidade universal, superando tempos e culturas. 
  • Pode-se começar também com Marcos, que propõe a mensagem em torno de Jesus de modo mais direto e incisivo, deixando o leitor descobrir em que sentido Jesus é o Cristo, a saber: Servo sofredor! 
  • Quanto a Mateus, sua preocupação com a instrução dos fiéis de tradição judaica faz com que não seja tão simples quanto parece. 
  • E não se pode deixar de conhecer o grande pregador Paulo, mas é preciso colocar-se na pele dos seus leitores e não dos teólogos do século XVI! Importa tentar ler com os olhos dos primeiros destinatários! E para isso é preciso migrar para o tempo deles. 
  • Em torno do Jesus do Novo Testamento, deve-se entrar em contato, aos poucos, com o Antigo Testamento, que faz conhecer as tradições culturais e religiosas de Jesus e de seus seguidores – a Torá de Moisés, os Profetas. Para os primeiros cristãos, que eram judeus, o Antigo Testamento serviu de referência para reconhecer a paradoxal missão messiânica de Jesus: em Jesus se cumpriram as antigas Escrituras. 
  • Sobretudo, vale curtir os Salmos, que são a oração de Jesus e de seu povo e continuam oração dos cristãos, apesar de algumas expressões que, à luz de Jesus, precisam de correção. De qualquer maneira, o Antigo Testamento deve ser lido à luz de Jesus.
2. Informativo ITF: O que levar em conta para não fazer uma interpretação fundamentalista da SE?

Pe. Konings: Precisamente o que eu disse: é preciso ler com os olhos dos primeiros destinatários. É assim que se lê, honestamente, uma obra literária ou uma carta de um amigo, levando em consideração o jeito, as estratégias do autor, os interesses do suposto leitor etc. Há grande diferença entre essa atitude literária honesta e o literalismo fundamentalista. Não se deve manipular a Bíblia para, na base da letra, fundamentar expressões dogmáticas. Os dogmas ou pontos de doutrina nascem da crescente consciência que o Espírito suscita na Igreja, não de alguma frase isolada. Uma vez que essa consciência cresceu, algumas páginas da Bíblia a ilustram e iluminam, isso sim, mas não a provam como as premissas a conclusão de um silogismo. Sobretudo, não cabe usar as páginas bíblicas para dirimir questões de Ciência Natural ou Histórica, pois não foram escritas para isso. A verdade da Bíblia é para nossa salvação, não para resolver problemas científicos. Assim, a narrativa da criação do mundo em seis dias, no Gênesis, serve para glorificar a Deus por ter criado todas as coisas boas e o homem e a mulher como obra prima, e, sobretudo, para ensinar a santificação do sétimo dia, o repouso de Deus e dos homens.

3. Informativo ITF: Existe diferença entre SE e Bíblia?

Pe. Konings: A Bíblia é a coleção dos livros religiosos do antigo judaísmo e dos primeiros cristãos: como diz o próprio termo, é uma biblioteca, pois "ta  biblia" [no grego] é um plural que significa "os livros". Por Sagrada Escritura, pelo contrário, entendem-se escritos que são considerados como vindos de Deus, inspirados por Deus. A Bíblia é um fenômeno literário, a Sagrada Escritura um objeto de fé. Assim, os escritos dos primeiros cristãos estão na Bíblia, mas não são Sagrada Escritura para os judeus. Hoje em dia temos muitos biblistas que se ocupam com a Bíblia no aspecto cultural, histórico ou político, mas não a veneram como Sagrada Escritura. 

4. Informativo ITF: Muitos afirmam que a depressão é o mal do século: a que se deveria este fato e em que a fé bíblica pode contribuir para uma vida saudável?

Pe. Konings: Um dos traços fundamentais da SE, tanto da judaica quanto da cristã, é a esperança. Deus tem algo de novo a oferecer à humanidade: “Eu faço novas todas as coisas”, lemos em Isaías e no Apocalipse. Até um autor ateu como o marxista Ernesto Bloch reconhece isso. E segundo as Escrituras cristãs, esse "novo" já se tornou definitivamente presente em Jesus de Nazaré. Por isso ele é chamado de Messias, Cristo. Mas este "novo" aguarda ainda seu pleno desabrochamento. É algo que ultrapassa a morte e mesmo a história humana. A fé judaica e cristã não deixa espaço para o niilismo [doutrina que não vê sentido na vida e no mundo] que está corroendo a nossa cultura e a nossa sociedade. Por isso não se deve ler a Bíblia como coleção de problemas, mas como textos de unção, mesmo quando nos sacodem. Exatamente porque nos confrontam com Deus – e a nós, cristãos, com Deus como ele se dá a conhecer em Jesus –, as Escrituras nos dão um choque de saúde espiritual, e é isso que importa.

5. Informativo ITF: Que mensagem o Sr. daria para os que se interessam pelo estudo de teologia?

Pe. Konings: Ler, ler e ler. Ler as Escrituras e, em redor delas, algumas explicações essenciais, como as notas das boas Bíblias, os comentários indicados pelos professores, e também, introduções históricas e literárias, para poder fazer o que eu disse antes: ler com os olhos dos primeiros leitores. Mas precisa-se algo a mais: confrontar essa compreensão primeira com aquilo que nos ocupa hoje. Fazer das Escrituras um espelho para nossa própria vida, como indivíduos e como comunidade. E isso acontece na Lectio Divina, nos Círculos Bíblicos, na homilia da Liturgia etc. Criar, por assim dizer, uma roda em que os primeiros destinatários estejam junto conosco ao lermos os textos que eles nos transmitiram. 

Fonte: Informativo - Instituto Teológico Franciscano (Petrópolis, RJ) - Matéria enviada por e-mail.

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