2º Domingo do Advento - Ano C - Homilia

Evangelho: Lucas 3,1-6

1 No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; 
2 quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto.
3 E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, 
4 como está escrito no Livro das palavras do profeta Isaías: 
“Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. 
5 Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. 
6 E todas as pessoas verão a salvação de Deus’”.

JOSÉ ANTONIO  PAGOLA
ABRIR CAMINHOS NOVOS

Os primeiros cristãos viram na atuação do Batista o profeta que preparou, decisivamente, o caminho para Jesus. Por isso, ao longo dos séculos, o Batista se converteu numa chamada que continua a nos urgir a preparar caminhos que nos permitam acolher Jesus entre nós.

Lucas resumiu sua mensagem com este grito tomado do profeta Isaías: “Preparai o caminho do Senhor”. Como escutar esse grito na Igreja hoje? Como abrir caminhos para que os homens e mulheres do nosso tempo possam encontrar-se com ele? Como acolhê-lo em nossas comunidades?

Primeiramente, tomando consciência de que necessitamos de um contato muito mais  vivo com sua pessoa. Não é possível alimentar-se somente de doutrina religiosa. Não é possível seguir a um Jesus convertido numa sublime abstração. Necessitamos sintonizar-nos vitalmente com ele, deixar-nos atrair por seu estilo de vida, contagiar-nos de sua paixão por Deus e pelo ser humano.

Em meio ao “deserto espiritual” da sociedade moderna, temos de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde se acolhe o Evangelho de Jesus. Viver a experiência de reunirmos os crentes, os menos crentes, os pouco crentes e, inclusive, os não crentes em torno do relato evangélico de Jesus. Dar-lhe a oportunidade de penetrar, com sua força humanizante, em nossos problemas, crises, medos e esperanças.

Não podemos nos esquecer que nos evangelhos não aprendemos uma doutrina acadêmica sobre Jesus, destinada, inevitavelmente, a envelhecer ao longo dos séculos. Aprendemos um estilo de viver realizável em todos os tempos e em todas as culturas: o estilo de viver de Jesus. A doutrina não toca o coração, não converte nem apaixona. Jesus sim!

A experiência direta e imediata com o relato evangélico nos faz nascer para uma fé nova, não por via de uma “doutrinação” ou de uma “aprendizagem teórica”, mas pelo contato vital com Jesus. Ele nos ensina a viver a fé, não por obrigação, mas por atração. Faz-nos viver a vida cristã não como dever, mas como contágio. No contato com o evangelho recuperamos nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.


Percorrendo os evangelhos, experimentamos que a presença invisível e silenciosa do Ressuscitado adquire traços humanos e recobra voz concreta. De imediato, tudo muda: podemos viver acompanhados por Alguém que traz sentido, verdade e esperança à nossa existência. O segredo da “nova evangelização” consiste em nos colocarmos em contato direto e imediato com Jesus. Sem ele não é possível produzir uma fé nova.

Preparai o caminho do Senhor...


O NOVO GRITO DO DESERTO

Ao narrar o nascimento de Jesus, o evangelho vai enumerando a imponente série de personagens importantes da época. Homens que ocupam os mais altos poderes civis, administrativos e religiosos.
Sem dúvida, é um homem pobre do deserto o único que escuta a palavra de Deus que deve ser ouvida por todo o povo. Um homem que não pertence a nenhuma  hierarquia e não possui poder, dinheiro nem autoridade alguma.

As pessoas deveriam escutar o chamado à mudança e à transformação, não na corte do imperador nem nos círculos seletos dos governadores romanos ou dos sacerdotes judeus. É a um homem do deserto para onde devem ir.

É sempre assim. É ao pobre que se deve escutar para poder ouvir no mais profundo de nosso ser um apelo à mudança e à salvação.

Quando uma pessoa sincera é capaz de aprender a olhar a vida a partir da perspectiva do pobre e do indefeso, sente-se chamado a renovar sua vida. Escutar o ser humano que  nos grita do deserto de sua pobreza, é sempre escutar um chamado à conversão

Quem sabe, se aprendêssemos a ver a vida a partir da necessidade do pobre e aceitássemos compartilhar suas aspirações, suas lutas e sua fome por viver numa sociedade mais humana, começaríamos a entender a existência de uma maneira qualitativamente distinta. Não seria este o melhor caminho para escutar com nitidez o chamado para abrir novos caminhos em nossa vida pessoal e em nossa conduta social? 

Um grito estridente e doloroso se escuta hoje em nossa sociedade contemporânea. É a voz dos marginalizados, dos indefesos, dos abatidos, dos anciãos, dos humilhados, dos manipulados, dos desprovidos de toda defesa diante das injustiças e dos mais poderosos. 

É uma voz que nos interpela a “socializar” mais nossa vida e a nos empenharmos em novos caminhos que nos conduzam a uma sociedade distinta, organizada não em função dos interesses de uns privilegiados, mas das necessidades dos débeis e indefesos. 

A salvação vem sempre de uma palavra de Deus. E esta palavra é dirigida incessantemente aos homens também hoje, ainda que, raramente, encontre alguém que a escute em seu coração.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Segunda-feira, 3 de dezembro de 2012 - Internet: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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