Celibato em questão
Compreenda
o que está por detrás da
polêmica
sobre o celibato dos padres
José María Castillo
Teólogo espanhol
Religión Digital
13-01-2020
O celibato sacerdotal jamais foi um dogma da
Igreja Católica, nem algo que não se possa,
querendo, adaptar aos novos tempos e às
novas exigências
Me causa uma tristeza profunda a
notícia da iminente publicação de um livro em que o papa emérito Joseph
Ratzinger e outro clérigo importante, como o cardeal Robert Sarah,
enfrentem o atual Sumo Pontífice da Igreja, o papa Francisco. O motivo do
enfrentamento é o tema do celibato dos padres que, segundo parece, na
opinião do papa renunciado, a Igreja tem que manter como obrigação necessária,
ainda que os cristãos da Amazônia não possam ter padres que presidam a missa
para aquelas pessoas e não possam ajudar aqueles cristãos em assuntos para os
quais a própria Igreja exige a presença de um padre.
Se, efetivamente, é certo que o
papa Ratzinger e seu sócio Sarah querem se opor ao atual pontífice, por manter
(a todo custo) o celibato dos padres, tanto Ratzinger, como aqueles que
concordam com ele nesse assunto, devem ter sempre muito presente que a Fé e a
Tradição secular da Igreja nos ensina que o pensamento e o critério de
governo, que eles defendem, não pode se opor ao critério fundamental da fé e da
unidade da Igreja, que inclui essencialmente a comunhão com o Vigário de Cristo
na Terra, o bispo de Roma. Assim definiu, como questão de “fé divina e
católica” o Concílio Vaticano I (Constituição “Dei Filius”, cap. 3. Denz
– Hün, nº 3011; Constituição “Pastor aeternus”, cap. 3º, Denz – Hün, nº
3060).
Por isso, é incompreensível que
quem destituiu tantos teólogos, por não se submeterem incondicionalmente ao
magistério papal, como foi o caso do cardeal Ratzinger, enquanto esteve no
cargo de Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, agora seja o
mesmo que se opõe ao papa Francisco, em um assunto que não
afeta a fé da Igreja.
Efetivamente, é de suma importância
ter presente que o tema e a obrigatoriedade do celibato eclesiástico não
tenha sido nunca, e não é neste momento, um dogma de fé. Nem sequer é um
dever universal da Igreja. Já que nas Igrejas Orientais nunca se manteve,
nem se mantém, a obrigatoriedade do celibato eclesiástico.
Ademais, a autoridade eclesiástica
deveria ter sempre presente que, nos diversos escritos do Novo Testamento,
se mantém exatamente a doutrina oposta a atual norma do celibato sacerdotal.
Segundo os Evangelhos, Jesus não o impôs aos seus apóstolos. São Paulo, afirma
que ele, como os demais apóstolos, tinham “direito” (“postedade” – exousia)
para serem acompanhados por uma mulher cristã (1Cor 9,5). E nas cartas a
Timóteo e a Tito afirma-se que os candidatos ao ministério eclesiástico,
inclusive ao episcopado, devem ser homens casados com uma mulher, que
saibam governar sua família, porque “quem não sabe governar sua própria
casa, como vai cuidar da Igreja de Deus?” (cf. 1Tm 3,2-5; Tt 1,6).
Ainda mais, sabe-se que inclusive
no Concílio Ecumênico de Niceia, o bispo Pafnucio, da Tebaida
Superior, celibatário e venerado confessor da fé, gritou diante da assembleia “que
não se deveria impor aos homens consagrados esse pesado fardo, dizendo que é
também digno de honra o ato matrimonial e o próprio matrimônio é imaculado;
e que não geraria danos à Igreja exagerando na severidade; porque nem todos
podem suportar a asthesis da ‘apatheia’, nem se proveria equitativamente a
temperança de suas respectivas esposas” (Sócrates, Hist. Eccl., I, XI, p.
67, 101-104).
É evidente que não se pode privar os
cristãos dos sacramentos, sobretudo da eucaristia, por manter uma disciplina
cujas origens foram uma
evidente contradição com
o que nos ensina o Novo Testamento.
Finalmente,
se é que, efetivamente, as ideias de um Papa renunciado enfrentam ao único Sumo
Pontífice, que atualmente governa a Igreja, essa própria Igreja tem que se
perguntar seriamente e tirar as devidas consequências do significado e as
consequências que se pode ter – e está tendo – a presença, no próprio Estado do
Vaticano, de um bispo que foi Sumo Pontífice, porém que já não é mais. Quando
ocorre a possibilidade de falar sobre “dois papas” e dar origem a situações de
confusão e divisões na Igreja, não seria necessário e até urgente que o Papa
renunciado morasse em outro lugar?
Traduzido do espanhol por Wagner Fernandes de Azevedo. Para
acessar a versão original deste artigo, clique aqui.
Fonte:
Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 14 de janeiro de
2020 – Internet: clique aqui.
Posicionamento do papa
emérito
“Não
sou coautor do livro do cardeal Sarah”
KathPress
14-01-2020
“O papa emérito Bento XVI não foi informado
sobre a publicação do livro
que aborda a questão do sacerdócio e do
celibato”,
informa Gänswein, secretário
particular de Joseph Ratzinger.
![]() |
Cardeal Sarah e papa emérito Bento XVI |
O nome e a imagem de Bento XVI devem
ser retirados da capa do livro. No entanto, a parte principal do
livro é “100 por cento Bento”.
No jornal La
Repubblica, 14-01-2020, Gianfranco Svidercoschi, jornalista que durante
mais de 60 anos segue a vida do Vaticano e já foi vice-diretor do Osservatore
Romano, questiona: “Como é possível que um homem nas condições de Ratzinger
possa escrever um texto do gênero? Há a forte suspeita que ele foi usado”.
Fonte:
Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 14 de janeiro de
2020 – Internet: clique aqui.
O
cardeal Sarah usou o papa emérito, Bento XVI, para armar uma nova campanha
contra
Papa Francisco
O Papa emérito não escreveu, não viu, nem
autorizou um livro a
quatro mãos com o cardeal Sarah
![]() |
Arcebispo alemão Georg Gänswein e papa emérito Bento XVI Gänswein é o seu secretário |
Elisabetta
Piqué (jornal argentino “La Nación”) e Juan Vicente Boo (jornal ABC) asseguram
que o cardeal Sarah urdiu uma trama para atacar Bergoglio (Papa Francisco).
“Há alguns
meses, Bento XVI não está em condições de escrever, mas apenas falar, como
constataram pessoas que o visitam”.
Tudo parece
indicar uma grave manipulação de Bento XVI por parte do cardeal guineano,
prefeito da Congregação para o Culto Divino (Vaticano) e um dos principais
opositores visíveis de Francisco, em conivência com seu editor, Nicolas Diat
(França), junto com a editora Fayard da França, Ignatius Press
dos Estados Unidos e Cantagalli da Itália.
Jesús
Bastante do site Religión Digital, da Espanha, escreve:
«Bento XVI
não escreveu um livro a quatro mais com Sarah, nunca viu, nem autorizou a capa,
nem o fato de que se publicara um livro a quatro mãos». Esta é a resposta que
fontes próximas ao papa emérito deram a Elisabetta Piqué, do jornal La
Nación, e que confirmou Juan Vicente Boo no jornal ABC.
Ratzinger estava
escrevendo, como explicam ambos vaticanistas, umas anotações sobre o
sacerdócio, faz alguns meses, as quais Sarah lhe pediu para ver.
Benedito colocou o texto «à sua disposição», apontam os jornalistas, sabendo
que o cardeal estava escrevendo um livro sobre o mesmo tema, o sacerdócio.
«É evidente
que há uma operação editorial e mediática, da qual Benedito se distancia
e se manifesta totalmente alheio», acrescentou a fonte, que pediu anonimato. «É
um ataque a Francisco disfarçado de defesa do celibato», sustenta o vaticanista
do jornal ABC, que sustenta que tudo parece indicar uma grave manipulação de
Bento XVI por parte do cardeal guineano, prefeito da Congregação para o Culto
Divino [Vaticano] e um dos principais opositores visíveis de Francisco, em
conivência com seu editor, Nicolas Diat [França], junto com a editora
Fayard da França, Ignatius Press dos Estados Unidos e Cantagalli
da Itália.
«Há seis meses
– aponta o jornalista Boo –, Bento XVI não está em condições de
escrever, mas apenas falar, como constataram pessoas que o visitam.
Possivelmente, mantenha sua extraordinária lucidez, porém as conversas,
imprecisas, não costumam ultrapassar os dez minutos, para não mencionar as suas
dificuldades de visão, audição e a debilidade geral». Isso torna impossível que
Ratzinger [o papa emérito] seja o coautor do mencionado livro.
Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
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