O modelo de paz do Papa Francisco
Mensagens
par o dia 1º de cada ano ajudam a compreender o pensamento do Papa
Fonte:
Vatican News – Papa – Acesso em: 02/01/2020 – às 16h45 – Internet:
clique aqui.
Amedeo
Lomonaco
Recordamos, através das palavras do Papa, as
mensagens para o Dia Mundial da Paz de 2014 a 2020. No dia 1º de janeiro,
Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, foi celebrado o 53º Dia Mundial da
Paz
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PAPA FRANCISCO na praça de São Pedro - Vaticano |
Corações banhados pela
fraternidade, vidas libertadas das escravidões, olhares capazes de vencer a
indiferença, sementes de não violência para promover a paz. Mas também mãos
estendidas para os migrantes e refugiados, passos inspirados pela boa política
e caminhos de diálogo e de reconciliação. O olhar que ilumina as mensagens
do Papa Francisco para os Dias Mundiais da Paz é dirigido para esses horizontes
cheios de esperança. Mesmo entrelaçando com a realidade de uma sociedade
deformada por vários vícios, é um olhar sempre ligado à esperança cristã,
ao rosto de Jesus. Dos ensinamentos e das exortações do Papa Francisco
para a paz, destaca-se também o nítido perfil de um denso magistério.

2014: a
fraternidade é fundamento de paz
A primeira mensagem do Papa
Francisco para o Dia Mundial da Paz, em 2014, abre-se com o desejo de formular
a “todos, indivíduos e povos”, votos de uma vida repleta de “alegria e
esperança”. O documento é baseado na fraternidade, que Francisco enuncia
a partir de uma premissa: a fraternidade, que se começa a aprender em
família, é “fundamento e caminho para a paz”. Não apenas as pessoas, mas
também as nações – explica Francisco recordando a encíclica “Populorum
progressio” do Papa Paulo VI – devem se encontrar em “um espírito de
fraternidade”. Referindo-se ao magistério de João Paulo II sublinha que a
paz é “um bem indivisível”: ou é de todos ou não o é de ninguém”.
«A família é a fonte de toda a fraternidade,
sendo por isso mesmo também
o fundamento e o caminho primário para a paz, já
que, por vocação,
deveria contagiar o mundo com o seu amor»
(Papa Francisco, Mensagem para o dia Mundial da
paz de 2014).
Na família de Deus, onde todos são
filhos de um mesmo Pai, não há “vidas descartadas”: a fraternidade, explica
o Papa, é também uma “premissa para derrotar a pobreza”. Mas é preciso de “políticas
eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas o
acesso aos ‘capitais’, aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e
tecnológicos”. Francisco convida também a redescobrir a fraternidade na
economia, a pensar novamente nos “modelos de desenvolvimento” e a
mudar “os estilos de vida”. Com a fraternidade, prossegue Francisco, “apaga-se
a guerra” se cada um reconhece no outro “um irmão a ser cuidado”.
Por fim, observa que a fraternidade ajuda também a “guardar e cultivar a
natureza”.
2015: já
não escravos, mas irmãos
Na mensagem para o dia Mundial da
Paz de 2015, o Papa Francisco se detém nas profundas feridas que atacam a fraternidade
e a vida de comunhão. Entre estas, um “fenômeno abominável” o
flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem. Ainda hoje, recorda
o Santo Padre, “milhões de pessoas são privadas da liberdade e constrangidas
a viver em condições semelhantes às da escravatura”. O pensamento do
Pontífice é dirigido em particular aos trabalhadores e trabalhadoras, também
menores, “escravizados nos mais diversos setores”, aos migrantes
que, “ao longo do seu trajeto dramático, padecem a fome, são privados da liberdade,
abusados física e sexualmente”.
«Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está
uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de a tratar
como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do
seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de ser sentidos como seres de
igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como
objetos»
(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2015).
Por fim o Papa exorta a “globalizar
a fraternidade”. E lança “um veemente apelo a todos os homens e mulheres
de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são
testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para
que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos
sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e
dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo”.

2016:
vencer a indiferença
A mensagem do Papa Francisco para o
Dia Mundial da Paz de 2016 é um convite a vencer as várias expressões de
indiferença. “A primeira forma de indiferença na sociedade humana –
explica o Pontífice – é a indiferença para com Deus”. Da qual
deriva também “a indiferença para com o próximo e a criação”. “Quase
sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros,
pelos seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes
sucede fosse responsabilidade alheia, que não nos compete”. Em uma
sociedade tão dilacerada que assume as feições da inércia e da apatia, a paz
é ameaçada “pela indiferença globalizada”.
«Quando investe o nível institucional, a
indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e
pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o
hedonismo, favorece e às vezes justifica ações e políticas que acabam por
constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar
inclusivamente a justificar algumas políticas econômicas deploráveis,
precursoras de injustiças, divisões e violências»
(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2016).
A indiferença pelo ambiente
natural, sublinha o Papa, “favorecendo o desflorestamento, a poluição e
as catástrofes naturais que desenraizam comunidades inteiras do seu ambiente de
vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas”.
Por fim, Francisco convida a passar da indiferença à misericórdia através da
conversão do coração e a promoção de uma cultura de solidariedade. No
espírito do Jubileu da Misericórdia, anunciado pelo Papa Francisco em 13
de Março de 2015, cada um “cada um é chamado a reconhecer como se
manifesta a indiferença na sua vida e a adoptar um compromisso concreto que
contribua para melhorar a realidade onde vive, a começar pela própria família,
a vizinhança ou o ambiente de trabalho”.
2017:
não-violência como estilo de uma política pela paz
A 50ª mensagem para o dia Mundial
da Paz 2017 é centralizada no tema da não-violência. “Sejam a
caridade e a não-violência a guiar o modo como nós tratamos uns aos outros nas
relações interpessoais, sociais e internacionais”. O mundo, recorda o Santo
Padre, está cada vez mais dilacerado: “Hoje, infelizmente, encontramo-nos a
braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços”.
«Esta violência que se exerce “aos pedaços”, de
maneiras diferentes e a variados níveis,
provoca enormes sofrimentos de que estamos bem
cientes:
guerras em diferentes países e continentes;
terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos
pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano;
a devastação ambiental»
(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2017).
A violência, sublinha o Papa, “não
é o remédio para o nosso mundo dilacerado”: ser verdadeiros discípulos de
Jesus “Hoje, ser verdadeiro discípulo de Jesus significa aderir
também à sua proposta de não-violência”. A não-violência praticada com
decisão e coerência, recorda Francisco, produziu resultados impressionantes: “Os
sucessos alcançados por Mahatma Gandhi e Khan Abdul Ghaffar Khan, na libertação
da Índia, e por Martin Luther King Jr. contra a discriminação racial nunca
serão esquecidos”. “O próprio Jesus – observa o Papa – nos
oferece um ‘manual’ desta estratégia de construção da paz no chamado Sermão da
montanha”: as oito Bem-aventuranças (cf. Mateus 5,3-10) traçam o perfil da
pessoa que podemos definir feliz, boa e autêntica”.

2018: migrantes
e refugiados, pessoas em busca de paz
Na mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2018, Papa Francisco convida a abraçar todos os “que fogem da guerra
e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de
discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental”. “Oferecer
a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma
possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura – escreve
Francisco – exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger,
promover e integrar”.
«Acolher faz
apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não
repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e
violências. Proteger lembra o dever de reconhecer
e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em
busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Promover alude ao apoio para o desenvolvimento
humano integral de migrantes e refugiados. Integrar
significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida
da sociedade que os acolhe» (Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2018).
Observando os migrantes e os
refugiados com um olhar contemplativo alimentado pela fé, sublinha, por fim, o
Santo Padre, descobre-se que “não chegam de mãos vazias”. “Trazem uma
bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos
tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações
que os acolhem”.

2019: a
boa política ao serviço da paz
A mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2019 é dedicada ao “desafio da boa política”. “A boa
política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos
fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um
vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”.
Mas na política, acrescenta o Papa, não faltam os vícios, “devidos
quer à inépcia pessoal quer às distorções no meio ambiente e nas instituições”.
«Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma
vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo
a paz social: a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida
dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito,
a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a
justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da ‘razão de
Estado’, a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa
a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do
lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio»
(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2019).
“Quando o exercício do poder
político visa apenas salvaguardar os interesses de certos indivíduos
privilegiados – afirma o Papa – o futuro fica comprometido e os jovens
podem ser tentados pela desconfiança, por se verem condenados a permanecer à
margem da sociedade, sem possibilidades de participar num projeto para o
futuro. Pelo contrário, quando a política se traduz, concretamente, no
encorajamento dos talentos juvenis e das vocações que requerem a sua
realização, a paz propaga-se nas consciências e nos rostos. Torna-se uma
confiança dinâmica, que significa ‘fio-me de ti e creio contigo’ na
possibilidade de trabalharmos juntos pelo bem comum”. Por isso, conclui o
Papa “a política é a favor da paz, se se expressa no reconhecimento dos
carismas e capacidades de cada pessoa”.

2020: paz
como caminho de esperança
Na mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2020, Francisco indica a paz como “um bem precioso” e uma meta a
ser alcançada apesar dos obstáculos e as provas. “A esperança – escreve
o Papa – é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo
quando os obstáculos parecem intransponíveis”. “A nossa comunidade
humana – acrescenta – traz, na memória e na carne, os sinais das guerras
e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora,
afetando especialmente os mais pobres e frágeis”.
«Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio
muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas,
comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais
nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política.
Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade
política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que
reconciliem e unam pessoas e comunidades»
(Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da
Paz de 2020).
O Sínodo recente sobre a Amazônia,
recorda o Pontífice, “impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em
prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a
memória, entre as experiências e as esperanças”. O Papa convida também a
ser artesãos da paz: “O mundo – explica o Papa – não precisa de
palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao
diálogo sem exclusões nem manipulações”. “O caminho da reconciliação
– sublinha por fim o Papa – requer paciência e confiança. Não se obtém a
paz, se não a esperamos”.
Acesse,
na íntegra, as Mensagens de Papa Francisco
para
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