Solenidade da Epifania do Senhor – Ano A – Homilia
Evangelho: Mateus 2,1-12
1 Tendo
nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que
alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém,
2 perguntando:
«Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no
Oriente e viemos adorá-lo.»
3 Ao
saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a cidade de
Jerusalém.
4 Reunindo
todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias
deveria nascer.
5 Eles
responderam: «Em Belém, na Judéia, pois assim foi escrito pelo profeta:
6 “E
tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades
de Judá,
porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel,
o meu povo.”»
7 Então
Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando
a estrela tinha aparecido.
8 Depois
os enviou a Belém, dizendo: «Ide e procurai obter informações exatas sobre o
menino.
E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá
adorá-lo.»
9 Depois
que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia
adiante
deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino.
10 Ao
verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
11 Quando
entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele,
e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro,
incenso e mirra.
12 Avisados
em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo
outro caminho.

José Antonio
Pagola
Biblista
e Teólogo espanhol
Responder à luz
De acordo com o grande teólogo Paul Tillich
[1886-1965: alemão-estadunidense], a grande tragédia do homem moderno é ter
perdido a dimensão de profundidade. Não é mais capaz de perguntar-se de
onde vem e para onde vai. Não sabe interrogar-se a respeito do que
faz e deve fazer de si mesmo neste breve lapso de tempo entre seu nascimento e
sua morte.
Estas perguntas não encontram resposta alguma em muitos
homens e mulheres de hoje. Mais ainda, nem sequer elas são colocadas
quando se perdeu essa «dimensão de profundidade».
As gerações atuais não têm mais a coragem de colocar-se estas
questões com a seriedade e profundidade com a qual fizeram as gerações
passadas. Preferem seguir caminhando nas trevas.
Por isso, nestes tempos, temos de voltar a recordar que ser
uma pessoa de fé é, antes de mais nada, perguntar-se apaixonadamente pelo
sentido de nossa vida e estar abertos a uma resposta, ainda que a vejamos
de maneira vacilante e obscura.
O relato dos magos foi visto pelos Padres da Igreja [os
primeiros grandes teólogos do cristianismo] como exemplo de homens que,
ainda que vivendo nas trevas do paganismo, foram capazes de responder
fielmente à luz que os chamava à fé.
São homens que, com sua atuação, nos convidam a acolher toda
graça e todo chamado que nos urge a caminhar de maneira fiel para Cristo.
Nossa vida transcorre, frequentemente, na casca [superfície]
da existência. Trabalhos, reuniões, encontros, ocupações diversas nos
levam e trazem, e a vida vai passando, preenchendo cada instante com algo que
devemos fazer, ver ou planejar.
Corremos o risco de perder nossa própria identidade,
converter-nos em uma coisa a mais entre tantas outras e não saber mais em qual
direção caminhar.
Há uma luz capaz de orientar a nossa existência? Há uma
resposta a nossos anseios e aspirações mais íntimos e profundos? Certamente
essa resposta existe. Essa luz já brilha nesse Menino nascido em Belém.
O importante é descobrir que vivemos nas trevas. Que
perdemos o sentido fundamental da vida. Quem descobre isto já se encontra
muito próximo do verdadeiro caminho.
Oxalá, em meio de nosso viver diário, não percamos jamais a
capacidade de estarmos abertos a toda luz que possa iluminar nossa existência,
a toda chamada que possa dar profundidade à nossa vida.

José María
Castillo
Teólogo
espanhol
Cristianismo: mais que uma religião, um
projeto de vida
O relato dos Magos, que vieram de povo distantes adorar
Jesus, não é um relato histórico. É uma lenda que expressa o que a Igreja
celebra neste dia: a Epifania do Senhor a todas as pessoas da terra. Jesus não
é patrimônio do Cristianismo ou da Igreja. Jesus é patrimônio da humanidade.
Também é dos que não o conhecem. E dos que não creem nele. Jesus é um bem
universal, que transcende as fronteiras e os credos de todas as religiões.
Porque o cristianismo não é uma religião. O cristianismo é um «projeto de
vida»:
* o projeto da honestidade,
* da honradez,
* do bom coração,
* da solidariedade.
Ou seja, tudo aquilo que nos une a todos e nos
iguala a todos. Isso é o que nos dá sentido para esta vida. E esperança de
outra vida sem fim.
Sem dúvida, este relato do Magos não tem valor histórico.
Porém, nos interessa como parábola da vida. Aqui, de fato, ficam claras várias
coisas de enorme importância:
a) A frequente crueldade do poder político quando é
absoluto e se sente ameaçado [versículos 3 e 12: os Magos são
advertidos a não se encontrarem com Herodes].
b) A colaboração que tantas vezes presta o poder
religioso ao poder dominante, sem dúvida porque ambos coincidem em interesses
que lhe são comuns [versículo 4: os sumos sacerdotes servindo de
assessores a Herodes].
c) A utilização que os sacerdotes e seus teólogos fazem
dos livros religiosos (neste caso, a Bíblia) para servir aos interesses do
poder político e econômico [versículos 5-6: os sumos sacerdotes citam a
Bíblia para dizer a Herodes sobre o local do nascimento do Messias].
d) A crueldade dos poderosos com os fracos, como Herodes
se enfureceu, sem piedade, com Maria, José e o Menino [cf. Mateus 2,16-18].
e) Em geral, os que aparecem como os «fracos» têm mais
capacidade de resistência que os «fortes», como Jesus e os seus pais, para
suportar mais e melhor que Herodes [cf. Mateus 2,13-15. 19-23].
f) O poder é cínico, embusteiro e engana a todos que lhe
interessa, como Herodes enganou os Magos [versículos 7-8: Herodes quer que os
Magos lhe informem o local exato para encontrar Jesus, com a mentira de que
iria adorá-lo].
g) Uns estranhos «estrangeiros» (os Magos) foram mais
generosos com Jesus que os poderes políticos e religiosos de seu povo [versículo
11: os Magos adoram Jesus e lhe ofertam presentes].
É fundamental dar-se conta de como tudo isto segue
acontecendo nos dias de hoje! E, a partir do que foi dito, fazer o nosso «projeto
de vida».
Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de
Figueiredo.
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