«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Um conflito inventado, criminoso!

 Fumaça tóxica sobre a Covid-19

 Esper Kallás

Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade 

ESPER KALLÁS

A história tem exemplos de campanhas de desinformação para refutar evidências científicas

Após a primeira guerra mundial, um novo hábito passaria a se tornar cada vez mais popular: o uso de cigarros. Seu uso cresceu, inclusive entre jovens, acompanhado de um aumento de:

* problemas pulmonares graves,

* distúrbios circulatórios e

* câncer de pulmão, doença relativamente rara até então. 

A descoberta de que o fumo causa câncer de pulmão, hoje uma obviedade, trilhou caminho extremamente tortuoso para ser admitida como um fato. Mesmo assim, persiste contestada por poucos, incluindo o recém-falecido Olavo de Carvalho. 

O assunto foi pesquisado em detalhes por dois ingleses: Richard Doll, médico e fumante à época, e Austin Bradford Hill, epidemiologista e estatístico. Juntos, aplicaram questionário em projeto conhecido como The British Doctors Study, a mais de 40 mil médicos, a partir de 1951.

Em 1954 já foi possível perceber a associação do fumo com o câncer de pulmão e, em 1956, com o infarto.

O estudo continuou por muitas décadas e conseguiu mostrar a relação com diversos outros problemas de saúde. 

A indústria do tabaco reagiu ruidosamente, atribuindo o aumento de câncer à poluição e outros fatores ambientais. Não só refutavam a associação, como também investiam grandes somas de dinheiro em propaganda e estudos com metodologias pouco rigorosas para negar o inegável. 

A percepção pela opinião pública também foi lenta. Em 1960, por exemplo, quase metade dos médicos americanos ainda fumavam.

Somente no fim dos anos 1990 que a indústria do tabaco admitiu o cigarro como causa de câncer e outras doenças.

As décadas de negacionismo continuam deixando um rastro de morte e sofrimento. O cigarro é considerado o artefato mais mortal da história, responsável por mais de 8 milhões de mortes ao ano, segundo a OMS.


A polêmica gestou os critérios de Hill: uma série de premissas para avaliar a associação tipo causa e efeito. Tais critérios vêm sendo aprimorados e servem como base para análises rigorosas de evidências científicas e fomentou a discussão sobre as melhores práticas para responder questões relevantes em saúde, inclusive adoção de tratamentos e prevenções biomédicas. 

Muitos anos depois, já vivendo a pandemia de Covid-19, algo parecido se desenrola, envolvendo o tratamento da doença. Após períodos de incertezas, temos um conjunto grande de estudos rigorosos que apontam quais estratégias e medicamentos são úteis ou não. 

A propaganda enganosa, o artifício em se buscar estudos inadequados e usar exceções tentam afastar médicos e opinião pública das diretrizes que deveriam ser preconizadas. A nota da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, ao negar o parecer preparado pela comissão de especialistas e aprovado pela Conitec para o tratamento da Covid-19, faz lembrar os piores momentos da luta contra o tabaco e desconsidera critérios científicos, que deve estar fazendo Hill revirar no túmulo. 

O diversionismo emprega táticas para afastar o observador de evidências sólidas, como fazia Olavo de Carvalho ao questionar a relação entre tabagismo e doenças.

ABSURDO DOS ABSURDOS: pacientes internados no Hospital da Brigada Militar, em Porto Alegre (RS) - foto, receberam o medicamento PROXALUTAMIDA, fabricado na China e tratado por Bolsonaro como a "nova cloroquina". Detalhe: não havia liberação de importação desse medicamento nem para testá-lo em seres humanos!!!

 Dicas para não ser enganado: 

Fazer a opinião pública entender a distorção não é tarefa fácil. Mas seguem algumas dicas:

a) evite usar casos raros para chegar a conclusões, olhe para o todo.

b) Prefira pautar-se por estudos rigorosos, publicados em boas revistas científicas.

c) Busque informações de especialistas sobre o assunto, não oportunistas de ocasião.

d) Finalmente, leia bastante sobre ciência, pois ajuda a construir e exercitar a crítica.

Fazendo isso, fica-se mais próximo da verdade. 

Fonte: Folha de S. Paulo – Colunas e Blogs – Terça-feira, 1º de fevereiro de 2022 – 12h18 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (Acesso em: 01/02/2022).

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