O clericalismo de volta

 Reformar a Igreja é impossível com este clero

 Fabrizio Mastrofini

Jornalista e ensaísta italiano, publicado em «Il Riformista», 08-04-2022 

Muito idealismo, boas intenções, mas pouca coisa prática e realizável para reformar a Igreja

A Edizioni Dehoniane di Bologna (EDB), uma histórica editora católica em processo de falência, mas talvez recuperável, continua as suas publicações – poucas, mas bem escolhidas, por enquanto – e anuncia a publicação de um livro importante, é claro, mas, na minha opinião, bastante inútil. E é um volume de 268 páginas, agora traduzido para o italiano, publicado em original francês postumamente em 2 de abril de 2020, porque o seu autor, Loïc de Kerimel, ensaísta muito renomado, faleceu no dia 24 de março, alguns dias antes. 

Livro em italiano: "Contra o clericalismo" - publicado em abril deste ano. Não há previsão de publicação no Brasil, ainda

Em italiano, o livro se intitula “Contro il clericalismo” [tradução: Contra o clericalismo], e o autor, professor de filosofia há muitos anos, católico militante, diz claramente que, sem mudar profundamente a mentalidade clerical, nada mudará. 

Ora, dizer isso em 268 páginas é realmente uma longa argumentação para um fato que pode ser resumido muito brevemente.

A mentalidade clerical começa a partir da formação no seminário.

Portanto, é preciso mudar o sistema de recrutamento, primeiro, e depois o sistema de formação, para então intervir no tipo de relações vigentes na Igreja, onde basta ter o “colarinho branco” de padre para ter razão ou para ter sempre a última palavra. E é preciso pôr fim às idealizações mais irritantes, equivocadas, fora de lugar. 

Tomemos como exemplo o último documento da Congregação para a Educação Católica. É um texto amplo e articulado que evidencia o valor cultural do ensino e da instrução, em todos os níveis da Igreja, especialmente no diálogo e na relação com a sociedade. E é um grande mérito ter sublinhado a importância da cultura no mundo de hoje, e a necessidade de um trabalho cultural proposto por professores preparados, sérios, coerentes. 

No entanto, em todo o texto não há uma única frase sobre quanto deve ser pago por esse trabalho! É algo crucial, mas não se fala de salários. Como de costume: grande idealização, porém, no momento de ver os salários, façamos o máximo com o mínimo possível. 

Ou tomemos a reforma da Cúria Romana. Documento fundamental deste pontificado, publicado em 19 de março, que marcará as modalidades de trabalho por muitos anos. Aqui também: profissionalismo é a palavra de ordem, a serviço da Igreja. Sim, mas e os salários? Esse pessoal tão importante, preparado, envolvido, sábio recebe salários adequados? Não sabemos, não nos é dito. Ou, melhor, provavelmente nem querem pagar os salários. 

É por isso que livros como o publicado agora pela EDB são de pouca serventia. Modestamente, é muito mais necessário um livreto concreto como “Dieci regole per un Vaticano felice” [10 regras para um Vaticano feliz], que tematiza de que maneira concreta é possível realmente mudar.

Não teologia, mas realismo (profético) e uma boa dose de bom humor.

 Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 11 de abril de 2022 – Internet: clique aqui (Acesso em: 11/04/2022).

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