«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Vigília Pascal (Sábado) – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 24,1-12

 Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Repartindo vida, se ressuscita!

O capítulo 24 é o capítulo onde o evangelista descreve a ressurreição de Jesus e seu impacto na fé dos discípulos, a dificuldade deles em entender isso. Mas o capítulo 23 terminou com esta observação: “E, no sábado, repousaram, segundo o preceito”. São as mulheres que foram ao sepulcro para ver onde Jesus foi sepultado, mas não procedem à unção, ao embalsamamento de Jesus porque já é sábado. E nenhum trabalho pode ser feito aos sábados.

O evangelista denuncia como a comunidade tem dificuldade em abandonar o antigo, ainda observando o mandamento do descanso do sábado, para se abrir à novidade trazida por Jesus. A observância da lei impede que se faça a experiência de Cristo ressuscitado. O evangelista escreve no capítulo 24: “No primeiro dia da semana”. Este primeiro dia lembra o primeiro dia da criação.

É uma nova criação, onde o homem tem uma vida capaz de superar a morte. 

Lucas 24,1-3:** «No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo, levando os aromas que tinham preparado. Encontraram a pedra removida do túmulo, mas ao entrarem, não encontraram o corpo do Senhor Jesus.»

Foram no primeiro dia da semana, porque no sábado não puderam fazê-lo devido à observância do mandamento. O evangelista não especifica os métodos de remoção da pedra. É claro que elas não encontram o corpo do Senhor Jesus porque estão procurando por Jesus no único lugar onde ele não pode estar.

Jesus é o vivo, o vivificante e não pode estar no reino da morte, no lugar dos mortos. 

Lucas 24,4: «Ficaram perplexas, mas eis que se apresentaram junto delas dois homens com vestes resplandecentes.»

Já vimos esses dois homens no episódio da transfiguração. Eles eram Moisés e Elias; é uma técnica do evangelista Lucas nomeá-los apenas na primeira vez que aparecem. Então eles apontam para Moisés e Elias. O evangelista observa: “com vestes resplandecentes”, o mesmo que na transfiguração [cf. Lc 9,28-36]. 

Lucas 24,5-6: «Tomadas de medo, voltaram o rosto para o chão, mas eles disseram-lhes: “Por que buscais entre os mortos o vivente? Não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galileia:»

E o que o evangelista, agora, coloca na boca desses dois personagens é uma grande verdade de fé que diz respeito não apenas à experiência do Cristo ressuscitado, mas diz respeito à vida de todos os crentes e seu impacto com a morte: “Por que buscais entre os mortos o vivente?O sepulcro é o último lugar onde elas poderiam encontrar Jesus. Se se acredita que a morte não só não interrompe, mas permite que o indivíduo entre em uma condição nova, plena e definitiva, o sepulcro é o último lugar onde ele pode ser encontrado.

Quando um ente querido morre, mesmo que seja doloroso, você tem que escolher entre lamentá-lo como morto ou vivenciá-lo. Se você chora como se estivesse morto, você vai ao túmulo, mas lá não está a pessoa, você tem que experimentá-la como viva. Aqui, então, está o aviso desses dois: “Por que buscais entre os mortos o vivente?” Não se pode procurar entre os mortos aquele que continua a viver!

Moisés e Elias remetem as mulheres, as discípulas de volta ao ensinamento de Jesus. Não se fala de messias, mas do Filho do homem, ou seja, do homem que atingiu a condição, que não é característica exclusiva de Jesus, mas uma possibilidade para todos aqueles que o seguem. 

Lucas 24,7: «‘É necessário que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos pecadores, seja crucificado e, no terceiro dia, ressuscite’”.»

E aqui o evangelista coloca uma terrível acusação contra a casta sacerdotal no poder, ao fazer menção ao que Jesus havia dito após seus anúncios da paixão: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar” [Lc 9,22 – cf. Lc 9,44; 17,25; 18,32-33]. Ele se refere aos membros do Sinédrio, o mais alto corpo jurídico de Israel.

Aqueles que Jesus indicou como os componentes [do Sinédrio], agora, na boca desses dois personagens, são os pecadores. As pessoas que se consideravam mais próximas de Deus, mais afastadas do mundo, do pecado, na verdade são os pecadores, porque mataram a vida, agiram contra a vida. 

Lucas 24,8: «Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus.»

“Lembrar”, no sentido de compreender. 

Lucas 24,9-10: «Voltando do túmulo, anunciaram tudo isso aos Onze, e a todos os outros. Eram elas Maria Madalena, Joana e Maria de Tiago. Também as outras, que estavam com elas, contaram essas coisas aos apóstolos.»

Já não são doze, mas onze, o número não será reconstituído. As principais mulheres que vivenciaram essa experiência foram: Maria Madalena, que o evangelista nos apresentou como a mulher de quem saíram os sete demônios [cf. Lc 8,2-3], Joana, esposa de Cuza, cobrador de impostos de Herodes, e Maria, mãe de Tiago. 

Lucas 24,11: «Estes, porém, acharam tudo o que relataram um delírio e não acreditaram.»

Aqui está a reação dos apóstolos. Por quê? Porque as mulheres não são credíveis como testemunhas. De acordo com a tradição judaica, Deus jamais falou com alguma mulher. É verdade que ele havia falado com uma mulher, Sara, mas como ela lhe respondeu com uma mentira, uma mentira inofensiva, a partir daquele momento Deus não falou mais com nenhuma mulher [cf. Gn 18,12-15]. E devido à mentira de Sara, as mulheres não eram consideradas testemunhas credíveis. Pois bem, o anúncio da ressurreição é feito precisamente para pessoas que não são credíveis. 

Lucas 24,12: «Pedro, no entanto, levantou-se e correu ao túmulo. Olhou para dentro e viu apenas os lençóis. Então voltou para casa, admirado com o que acontecera.»

Os personagens que apareceram para as mulheres, acabaram de dizer que Jesus não pode estar no lugar dos mortos, mas Pedro ainda não entende e corre para o túmulo. A crença de que Jesus ressuscitou não vem de ver um túmulo vazio, mas de encontrar uma pessoa viva. E se encontra o VIVENTE, como se verá no próximo episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35], quando Jesus partir o pão.

Quando se REPARTE a própria vida pelos outros, existe a possibilidade de experimentar aquele que ressuscitou.

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 4. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2020. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“É a Ele (Jesus) que eu procuro, a Ele, que morreu por nós; é Ele que eu quero, Ele, que ressuscitou por nós” (Santo Inácio de Antioquia: foi bispo de Antioquia, na Síria, entre 68 a 100/107 – teólogo e escritor)

De tanto ouvirmos, em celebrações e leituras, essa passagem da ressurreição, corremos o risco de nos tornarmos indiferentes a ela, não nos impressionarmos mais com esse relato! Sim, o hábito traz a rotina! É preciso ficar claro, aqui, que não se trata de uma mera revivificação de Jesus. Reviver significa retornar a esta vida que temos, aqui na terra. Enquanto que, ressuscitar significa transcender esta vida. Pois, aquele que ressuscita alcança uma plenitude tal de vida, que não morre mais! Essa é a grande diferença! 

A vida triunfa sobre a perseguição, julgamento, condenação e morte de um “delinquente” chamado Jesus de Nazaré. É claro que não se pode provar, verificar historicamente que Jesus tenha ressuscitado! Esse é um tipo de verdade que se fundamenta na fé, ou seja, na esperança de que a morte não tenha mais a última palavra em nossa vida! É nessa fé, aliás, que se funda toda a esperança de nós, cristãos! Como nos adverte, muito bem, São Paulo:

«Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é ilusória e ainda estais nos vossos pecados... Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão» (1Cor 15,17.19).

A questão mais importante que essa celebração nos propõe é a seguinte:

Como nos encontramos com o Cristo Ressuscitado, com o Cristo vivo?

duas maneiras para isso, as quais se complementam e, eu diria mais, são interdependentes:

a) Encontramos com o Ressuscitado dentro de nós, percorrendo um caminho interior. Como nos adverte J. A. Pagola, “se não o encontramos dentro de nós, não o encontraremos em nenhuma parte”. Talvez por isso, a nossa fé seja tão triste, tão improdutiva, tão rotineira! Qual é o Jesus, afinal, que nós buscamos? Qual é a causa última de nossa alegria? Em que fundamentamos, de verdade, a nossa vida? Sem um contato pessoal com o Cristo, não teremos a força da fé e a esperança na vida que jamais se acaba!

b) Encontramos com o Ressuscitado quando partilhamos a vida como ele fez! Quando não poupamos a nossa vida é que temos vida, de verdade: “quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8,35 – cf.: Mt 16,25; Lc 17,33; Jo 12,25). “Perder”, nesse sentido, significa consumir, desgastar, empregar a vida em busca da realização do Reino de Deus neste mundo. 

Assim sendo, é assustador ver quanta gente não está sabendo ou desejando viver a vida de um modo que vale, de verdade, a pena! Quanto de nossas preciosas vidas desperdiçamos com atividades, ocupações que não nos enriquecem em nada, não nos acrescentam nada, não nos valorizam em nada! É bom lembrar que o Cristo não quer que seus irmãos tenham uma vida qualquer! Por isso, ele afirmou com tanta clareza: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Que a tua Páscoa de morte e ressurreição, Jesus, seja a pedra angular de todos os meus dias: que a luz da nova manhã me suscite o agradecimento pela tua luz de vida nova; que os acontecimentos do dia provoquem em mim uma invocação pelos irmãos e me impulsionem a recordar sempre e partilhar um pouco mais a vossa paixão e a vossa oferta na expectativa ativa do vosso regresso na glória; que o cair da noite lembre-me que “sem ti nada posso fazer” e oriente-me a abandonar-me em ti com toda a confiança. Em cada acontecimento, pensamento, gesto, escolha, posso procurar-te e encontrar-te vivo e atuante, surpreendente e conhecido, recordando a tua Palavra que fecunda a minha história e a renova porque Tu vives.»

(Marianerina De Simone. Veglia pasquale nella notte santa. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio Divina per l’anno liturgico C. Sui vangeli festivi. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 224)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – Pasqua – 21 aprile 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 13/04/2022).

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