Somos, mesmo, educados?

 Telmo José Amaral de Figueiredo

Padre, Biblista e Teólogo – Diocese de Jales – SP 

FERNANDO SAVATER

Somente a educação pode construir uma sociedade democrática, livre, igualitária e boa para todos!

Apesar da quaresma e, juntamente com ela, a Campanha da Fraternidade, ter se concluído, no entanto, o tema proposto para este ano de 2022 não pode ser esquecido: “Fraternidade e Educação”. Afinal, não há nada de mais importante do que a educação!

Em seu parágrafo de número 57, o Texto-Base da CF 2022 nos dizia: “É preciso educar para viver em comunhão. Educar para conceber a democracia como um estado de participação”. Portanto, mais do que nunca, necessitamos da verdadeira educação para sobrevivermos como sociedade, pois a educação é tão importante quanto a confiança que depositamos nas outras pessoas.

Há um filósofo espanhol, um dos mais influentes desses últimos 40 anos, Fernando Savater, que pode nos ajudar muito a refletir sobre esse assunto. Nada ameaça mais a democracia, a vida plena em sociedade do que a ignorância, que é o contrário de ser educado! Pois os ignorantes têm um voto que vale tanto quanto o voto da pessoa educada e consciente. São eles que favorecerão os projetos de demagogos, os retrocessos das instituições, dificultarão a implementação de medidas que implicarão sacrifícios, como preservar mais e melhor a natureza, mas que se fazem necessárias.

Porém, cuidado! O que se entende, aqui, por “ignorante”? Não é a pessoa que não conhece bem a geografia, a matemática, a língua portuguesa ou coisas do gênero. O verdadeiro ignorante é aquele que é incapaz de entender um argumento que não seja dele! É a pessoa incapaz de compreender um texto simples que expõe uma série de questões importantes. Como sintetiza bem Savater: “O ignorante é incapaz de persuadir os outros ou de ser persuadido pelos outros”. E quem não é capaz disso, afirma Savater, não está preparado para a vida democrática! Afinal, a democracia parlamentar é um regime de persuasão mútua.

E, ao contrário do que muita gente pensa, ser persuadível não é algo negativo! Savater diz que: “Todos deveríamos nos orgulhar de permitir que nos convencessem da verdade”. Por isso, nem todas as opiniões são respeitáveis. E o modo de respeitar as diversas opiniões é discuti-las. Como Savater nos bem recorda: “No latim, discutere é puxar uma árvore para ver se tem raízes fortes ou não. Quando alguém discute uma opinião, quer verificar se ela tem raízes no real, na realidade, ou se não tem, se é algo meramente superficial”.

A educação é imprescindível para sabermos discutir as opiniões, para não acreditarmos no primeiro palpite que nos chega, para não sermos enganados com falsas informações e notícias! Aqui, dá-se o encontro da EDUCAÇÃO com a ÉTICA, a qual preocupa-se em reforçar virtudes, formas de força, formas de solidez da vida social, segundo Savater. E quais seriam as virtudes que devem ser reforçadas em nossos educandos nos tempos de hoje?

Savater responde, sugerindo três virtudes:

1ª) A coragem de viver, pois todos enfrentamos a morte, as dificuldades e as ameaças que a nossa existência nos traz. Savater é enfático: “Sem coragem, uma pessoa virtuosa não saberá exercer suas virtudes”.

2ª) Generosidade para poder conviver. Porque conviver sempre exige ceder. Conviver com os outros é sempre um pouco frustrante e doloroso. Savater observa: “Precisamos de generosidade para suportar os desejos alheios e para ajudar, também, a quem não pode cumprir suas próprias expectativas sociais”.

3ª) Prudência para sobreviver. Afinal, a vida é repleta de armadilhas, dificuldades e riscos. Fazer o bem é muitas vezes arriscado. Por isso, “de nada serve o martírio sem algum proveito”.

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