«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

12º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 9,18-24 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Quem vive para si destrói sua própria existência



Após a Quaresma, o Tríduo Pascal, o Tempo Pascal e as festas da Ascensão do Senhor, Pentecostes e Santíssima Trindade, a Igreja retoma o Tempo Comum, iniciado com o Batismo de Jesus. Este tempo existe não para celebrar algum aspecto particular do mistério de Cristo, mas para celebrá-lo em sua globalidade, especialmente em cada Domingo (cf.: NALC 43: Normas Gerais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário); durante este tempo se aprofunda e se assimila o mistério de Cristo que se insere na vida do povo de Deus para torná-la plenamente pascal.

O elemento principal e mais forte do Tempo Comum é o Domingo, que surgiu antes mesmo da celebração anual da Páscoa. Era o único elemento celebrativo no correr do ano: a grande celebração semanal do Mistério Pascal de Cristo. É, pois, um tempo marcadamente caracterizado pelo Domingo, quer pela teologia, quer pela espiritualidade. 

Lucas 9,18a:** «Aconteceu que Jesus estava orando, à parte, e os discípulos estavam com ele.»

O início desta passagem do Evangelho é: Um dia Jesus estava em um lugar solitário orando. Mas na realidade Lucas não escreve assim. Trata-se de uma tentativa de harmonizar uma aparente inconsistência que existe nessa passagem. Então, vamos ler no texto original grego o que o evangelista nos escreve. Em primeiro lugar, Jesus não é nomeado, e a expressão “Um dia” está ausente.

Na realidade, a passagem começa dizendo que: Ele estava (Jesus) sozinho orando. Não em um lugar solitário, Jesus ora sozinho. Por que então as traduções relatam que ele estava em um lugar solitário? Porque então o evangelista escreve: Os discípulos estavam com ele. Portanto, ele não pode orar sozinho se os discípulos estiverem com ele.

Mas, na realidade, o evangelista quer indicar, como já fez em outras ocasiões, que os discípulos acompanham Jesus, mas NÃO O SEGUEM.

Então Jesus está na solidão. Ele está sozinho. Os discípulos, mesmo estando com ele, não são solidários com ele. 

Lucas 9,18b: «Então, perguntou-lhes: “Quem dizem as multidões que eu sou?”»

As multidões às quais Jesus enviara seus discípulos para anunciar a novidade da notícia do Reino de Deus. É uma espécie de exame que Jesus faz para ver se o efeito da pregação dos discípulos foi bem sucedido. O resultado é decepcionante, é um fracasso. 

Lucas 9,19: «Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros, que algum dos antigos profetas ressuscitou          ”.»

Por que João Batista? João Batista já havia sido assassinado por Herodes, mas acreditava-se que os mártires ressuscitariam prontamente. Elias foi o profeta guerreiro que, pela violência, fez cumprir a lei divina. São todos personagens que se relacionam com o passado.

Ninguém entendeu quem é Jesus, O NOVO que Deus expressa com sua figura.

Esse equívoco se deve à confusão que os discípulos têm na cabeça. Acompanham Jesus, mas ainda não compreenderam quem ele é e, sobretudo, qual é a sua missão e destino. 

Lucas 9,20: «Jesus, porém, perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.»

Como Pedro costuma fazer, ele responde em nome de todos, pretendendo ser o líder, o chefe do grupo. Não é uma boa resposta, tanto que veremos que Jesus não apenas os repreende, mas o evangelista usa o termo, o verbo, que é usado para os possuídos.

Por que não é uma boa resposta? O Cristo de Deus, que é o messias de Deus, com o artigo definido, indica o que é esperado pela tradição, ou seja, o messias vingador, o messias libertador, o messias que teria conquistado o poder e expulsado os romanos.

Essas são as mesmas expressões que os adversários de Jesus usarão quando ele estiver na cruz, quando disserem: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” [Lc 23,39], ou seja: Este homem, assim tão poderoso, como pode acabar na cruz? Que a resposta está errada pode ser visto na reação de Jesus. 

Lucas 9,21: «Ele, porém, os advertiu expressamente para que não dissessem isso a ninguém.»

Jesus, literalmente, os repreendeu, e é o verbo que funciona para expulsar demônios. Então, a resposta de Pedro não é apenas incorreta, não apenas não é de Deus, mas é uma resposta demoníaca porque persegue esses sonhos de poder. 

Lucas 9,22: «E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar”.»

Nos Evangelhos, Jesus fala de si mesmo como Filho de Deus, Filho de Deus é Deus na condição humana e Filho do homem é o homem na condição divina. Aqui ele se apresenta como o homem que tem a plenitude da condição divina. Este é o objeto do ódio mortal da instituição religiosa, que pode dominar os homens, subjugá-los enquanto permanecerem na condição infantil, mas quando o homem atingir a plenitude da condição divina – e isso não é uma prerrogativa exclusiva de Jesus, mas uma possibilidade para todos os seus discípulos – será o alarme para a instituição.

E aqui Jesus indica o Sinédrio, o mais alto órgão jurídico de Israel:

* “pelos anciãos” (os senadores),

* “pelos principais sacerdotes” (que seriam os sumos sacerdotes), e

* “pelos escribas” (os teólogos), como responsável por ele “ser morto. A instituição, aquela que acreditava ser a representante de Deus, quando Deus se manifesta em Jesus, não só não o reconhece, como pede até sua eliminação, sua morte. 

Lucas 9,23: «Então, começou a dizer a todos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me...»

Em seguida, Jesus diz a esses discípulos que ainda não entenderam, como dissemos no início, aqueles que o acompanham, mas não o seguem: “Se alguém quer vir após mim...”. Jesus havia convidado esses discípulos a segui-lo, “negar-se a si mesmo”.

O que significa negar a si mesmo? É passar por um renegado. Jesus pede para renunciar aos valores da sociedade: Deus, Pátria e Família, e colocar:

* no lugar de Deus, o Pai;

* no lugar da Pátria, o Reino de Deus; e

* no lugar da família, a comunidade. Portanto, passar por um renegado da sociedade.

Tome a sua cruz: Aqui o evangelista usa o verbo “levantar a sua cruz”. Era o momento em que o condenado tinha que levantar o patíbulo do chão, ou seja, o eixo horizontal da cruz, carregá-lo nos ombros e, depois, ser conduzido pelo carrasco para fora da cidade onde se encontrava o eixo vertical da cruz, aquele sempre fixado no chão, e ali ser crucificado com essa terrível tortura.

Jesus não se refere à morte de cruz, mas ao terrível momento do maior desprezo, da maior solidão, porque era dever dos parentes, dos amigos, insultar e espancar os condenados a esta terrível tortura. Então Jesus diz:

“Se você quer me seguir, desista de toda forma de ambição e sucesso, aceite perder completamente sua reputação, ficar completamente sozinho”.

Todos os dias: Aceitando assim, cotidianamente, essa rejeição por parte da sociedade, especialmente por parte da instituição religiosa que se vê ameaçada por essas pessoas que, graças ao seguimento de Jesus, chegam à condição divina.

E siga-me: Portanto, é a condição que Jesus coloca. Deve-se enfatizar que a cruz, nos Evangelhos, nunca se refere às dores, doenças, sofrimentos que se encontram na vida. Deus não envia cruzes, mas a cruz é tomada pelo homem como uma escolha livre para seguir Jesus, e para seguir Jesus é preciso ser totalmente livre.

E quem se importa com sua REPUTAÇÃO, quem se importa com seu NOME, quem se importa com uma CARREIRA, não é uma pessoa livre e não pode seguir a Jesus. 

Lucas 9,24: «... pois quem quiser salvar sua vida, este a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim, este a salvará.»

Assim, Jesus conclui afirmando que quem vive para si destrói sua própria existência, quem vive para os outros é aquele que a realiza plenamente. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua ausência seja sentida.” (Bob Marley [1945 a 1981]: cantor e compositor jamaicano)

Por mais paradoxal que possa parecer, mas o que mais atrapalha a boa e eficaz evangelização, a humanização dos homens e das mulheres como desejado por Jesus, a realização do projeto de seu Pai, o Reino de Deus, nesta Terra, são os MAUS DISCÍPULOS DE CRISTO que existem em todas as partes! 

Ao não saber quem é Jesus, seus seguidores não o seguem, apenas, o acompanham, apenas fazem volume, apenas estão ao seu lado, sem estar com ele, de verdade! Isso ocorreu nos tempos da presença física do Cristo entre nós, e segue acontecendo nos tempos de hoje! 

Todos aqueles que se dizem cristãos, mas que buscam mais a fama, a glória, a riqueza, o poder e a influência não conhecem Jesus, nem convivem com ele em seu íntimo! São pessoas que buscam a si mesmas! É o fenômeno denominado “narcisismo cristão”, ou seja, é a pessoa que não busca anunciar Jesus e viver como ele viveu, mas busca ela mesma aparecer e se enxergar em tudo aquilo que ela realiza na Igreja e ao seu redor! No fundo, é ela que importa, não o Cristo! 

Jesus não teve receio de indicar, claramente, aqueles que seriam os responsáveis pela sua morte, os seus adversários:

* os chefes religiosos,

* os homens consagrados,

* os responsáveis pelo Templo de Jerusalém.

Assim, também nós, nos dias atuais, não devemos recear em indicar, de modo transparente, quem mais atrapalha e dificulta a pregação e vivência coerentes do Evangelho de Cristo:

a) Aqueles que pregam, disseminam e vivem uma religião totalmente alienada da realidade concreta da vida da maioria das pessoas: seus sofrimentos, suas necessidades, suas angústias, suas aspirações e sonhos!

b) Aqueles que são clericalistas, como denuncia frequentemente o Papa Francisco.

c) Esse clericalismo expressa-se, muito bem, nos seguintes apegos:

* às rubricas litúrgicas,

* ao direito e às normas,

* à burocracia,

* à ortodoxia cega,

* à pastoral da manutenção religiosa,

* à sacramentalização pura e simples,

* à bajulação dos ricos, influentes e poderosos que podem retribuir ao clero subserviente aquilo que deseja.

d) Aqueles que se fazem presbíteros, religiosos, religiosas, missionários consagrados não por vocação, mas buscando prioritariamente sua segurança e estabilidade social, financeira, emocional e afetiva! Enfim, ser servidos e não servir! 

Por isso tudo, muitos dos tais discípulos(as) de Jesus Cristo seguem dando a resposta equivocada a esta questão fundamental proposta por ele: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor, o que eu sou para ti, por que tu queres ser amado por mim a ponto de ti preocupares se eu não o fizer, e me ameaçares severamente? Como se já não fosse um grande infortúnio não te amar! Dize-me, por favor, Senhor meu Deus misericordioso, o que tu és para mim? Dize à minha alma: "Eu sou a tua salvação". Dize-o, para que eu ouça. Os ouvidos do meu coração, Senhor, estão diante de ti; abre-os e diga à minha alma: "Eu sou a tua salvação". Perseguirei esta voz e assim te alcançarei; não esconda teu rosto de mim. Amém.»

(Santo Agostinho, Confissões 1,5) 

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – XII TEMPO ORDINARIO – 19 giugno 2016 – Internet: clique aqui (Acesso em: 15/06/2022).

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