«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Solenidade de Pentecostes – Ano C – Homilia

 Evangelho: João 20,19-23 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Espírito Santo: a força do alto que libera energia de amor

A nova relação que Jesus estabeleceu entre os homens e Deus precisava de uma nova aliança. Por isso, Lucas, nos Atos dos Apóstolos, apresenta o episódio de Pentecostes. Pentecostes era o dia em que a comunidade judaica celebrava o dom da lei. Pois bem, enquanto os judeus celebram o dom da lei, o Espírito Santo cai sobre a comunidade dos discípulos de Jesus. Com Jesus não há mais uma lei externa ao homem a ser observada, mas trata-se de acolher uma dinâmica, uma força interna, que libera energia de amor. Este é o dom do Espírito.

Os outros evangelistas também têm seu Pentecostes, embora narrado de forma diferente. Por exemplo, João tem um pequeno Pentecostes no momento da morte, quando Jesus entregou seu Espírito, e depois, na passagem que examinamos agora, capítulo 20, versículos 19 a 23. 

João 20,19a:** «Ao entardecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas trancadas por medo dos judeus.»

O mandado de prisão não era apenas para Jesus, não era perigoso apenas Jesus, sua doutrina era perigosa. Por isso, quando Jesus se encontra diante do sumo sacerdote, não lhe pergunta nada sobre ele, mas lhe pergunta duas coisas: sobre os discípulos e a doutrina. Então, por medo de ter o mesmo destino de Jesus, eles se fecharam a portas trancadas. 

João 20,19b: «Jesus entrou e pôs-se no meio deles.»

Esta indicação que o evangelista nos dá é importante: quando Jesus ressuscitado se manifesta aos seus seguidores, ele se coloca no meio. Jesus não se coloca na frente, ou acima, Jesus se coloca no meio. Isso significa que todos ao seu redor, todos têm exatamente a mesma relação com ele, não há ninguém mais, alguém menos, alguém antes e alguém depois. 

João 20,19c: «Disse: “A paz esteja convosco”.»

Essas palavras de Jesus não são um desejo, Jesus não diz: “A paz esteja convosco” [como aparece na tradução da CNBB], mas é um dom. A paz – sabemos que o termo hebraico é “shalom” – indica tudo o que contribui para a felicidade dos homens. 

João 20,20: «Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por ver o Senhor.»

Mas, então, Jesus mostra a razão deste dom:Dito isso” – portanto, depois de ter dito “paz” – “mostrou-lhes as mãos e o lado”; as mãos e o lado trazem os sinais da paixão. Foi Jesus quem, no momento da sua captura, disse: “Se é a mim que procurais, deixai estes irem” [Jo 18,8]. Ele é o pastor que dá a vida pelas suas ovelhas e isso não num episódio isolado, mas sempre. Jesus, na comunidade, é quem defende os seus.

A essa altura os discípulos, que o evangelista havia descrito com medo dos judeus – lembro que, para “judeus”, neste evangelho, nunca nos referimos ao povo, mas sempre à autoridade, aos líderes religiosos – passam do medo à alegria ao ver o Senhor. 

João 20,21: «Jesus disse, de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, eu também vos envio”.»

Novamente Jesus repete este dom de paz. O termo paz, neste capítulo, será repetido três vezes. Mas, desta vez, este dom de paz é um envio para compartilhá-lo. De fato, Jesus acrescenta: “Como o Pai me enviou”. O Pai enviou Jesus para manifestar visivelmente o seu amor e o que é o amor de Deus? Um amor generoso que se põe ao serviço dos outros, manifestado por Jesus no episódio do lava-pés. “Como o Pai me enviou, eu também vos envio”, tarefa dos crentes, tarefa da comunidade cristã não é propor ou, pior ainda, impor doutrinas, mas comunicações de amor: como o Pai enviou o Filho para manifestar o seu amor, a comunidade deve ser testemunha visível de um amor generoso que se põe a serviço. 

João 20,22: «Dito isso, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo.»

Antes o “dito isso” se referia ao dom da paz, justificado pelos sinais de sua paixão. Agora, “dito isso”, este segundo dom da paz é acompanhado de “soprou”. Por que este verbo soprar? O evangelista o retira do livro do Gênesis, no episódio da criação, quando Deus, o Criador, soprou nas narinas do primeiro homem e o fez ser vivente. “Recebei Espírito Santo”, exatamente Espírito Santo, sem o artigo. Jesus havia dito que ele dá o Espírito sem medida. O dom do Espírito é total, depende da pessoa o quanto pode aceitar ou não, mas em todo caso é o dom em plenitude, o dom do Espírito, a força divina, que se chama Santo não só por sua qualidade, mas pela sua atividade, capaz de separar os homens que o acolhem da esfera do mal. 

João 20,23: «A quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados, a quem os retiverdes, lhes serão retidos”.»

Literalmente, apagar, cancelar os pecados. O termo “pecado” usado pelo evangelista não indica culpa da pessoa, mas, nos Evangelhos, esse termo sempre indica o passado injusto do indivíduo. O que Jesus quer dizer para nós com esta expressão? Jesus não está dando poder para alguns, mas uma responsabilidade para toda a comunidade cristã:

... a comunidade cristã deve ser como uma luz que expande o campo de ação do seu amor.

Todos aqueles que vivem na esfera do pecado, da injustiça e veem essa luz, sentem-se atraídos por ela, todos têm seu passado, seja ele qual for completamente apagado. Por outro lado, quantos, ao ver a luz brilhar, se escondem ainda mais nas trevas – Jesus havia dito que quem pratica o mal odeia a luz – permanecem sob o manto do pecado. Assim, o de Jesus não é um mandato para julgar as pessoas, mas para oferecer a cada um uma proposta de plenitude de vida. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Portanto, quando nosso Senhor soprou em Seus discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo”, Ele certamente desejou que fosse entendido que o Espírito Santo não era apenas o Espírito do Pai, mas do próprio Filho unigênito. Pois o mesmo Espírito é, de fato, o Espírito do Pai e do Filho, fazendo com eles a trindade do Pai, Filho e Espírito, não uma criatura, mas o Criador. Pois nem aquele sopro material que procedeu da carne de sua boca era a própria substância e natureza do Espírito Santo, mas sim a sugestão, como eu disse, de que o Espírito Santo era comum ao Pai e ao Filho; pois eles não têm, cada um, um Espírito separado, mas ambos um e o mesmo.” (Santo Agostinho (354 – 430): filósofo, teólogo, escritor)

Mais do que nunca, precisamos celebrar PENTECOSTES!!!

Sim, afinal, as leituras bíblicas desta festa não deixam dúvidas acerca das duas principais características que possui o Espírito de Deus e do Filho:

1ª) O Espírito Santo traz a PAZ, traz a concórdia entre os seres humanos. Onde há, de verdade, o Espírito de Deus, não há violência, confrontação, agitação e qualquer tipo de guerra!

2ª) O Espírito Santo traz o ENTENDIMENTO. Onde há o Espírito de Deus ocorre a neutralização do espírito de Babel (cf.: Gn 11,1-9 e Atos 2,1-11). No mito bíblico temos a dispersão dos seres humanos e dos povos, em decorrência da falta de entendimento, que provoca divisão. Pois bem, onde o Espírito Santo atua, a divisão é superada e a comunicação se restabelece! 

Não é preciso grandes e profundas análises para percebermos o quanto o mundo atual está fraturado, dividido, rachado:

* entre correntes políticas antagônicas,

* entre classes socais com interesses divergentes,

* entre religiões diferentes,

* entre gêneros que não se comungam e respeitam,

* entre etnias que se excluem etc. 

O Espírito de Deus atua e se faz presente NO espírito do SER HUMANO.

Portanto, a paz e o mútuo entendimento, que são as duas características fortes do Espírito Santo, somente poderão ocorrer, se o ser humano, assim, o desejar! Pelo que observamos no mundo de hoje, fica claro que o espírito humano NÃO ESTÁ impregnado do Espírito de Deus, assim como se deu em Pentecostes! Se e quando o espírito humano se impregna do Espírito divino, notamos que os homens:

a) se afanam pela paz e pela concórdia;

b) empenham-se por compreender ou, ao menos, escutar o outro;

c) trabalham para por fim às desigualdades gritantes, que são aquilo que mais nos dividem;

d) olham mais para o bem comum do que para o bem de cada pessoa ou grupo. 

Por isso, eu repito: precisamos que PENTECOSTES aconteça, novamente, em meio a esta humanidade tão conflituosa e perdida dos tempos de hoje! Encontraremos esse Espírito Santo, quando encontrarmos o espírito de HUMANIDADE, que habita no interior de cada ser humano!

Vem, Espírito Santo, vem fazer sua morada no meio da humanidade que tanto está sedenta de amor, misericórdia, paz e perdão!

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Espírito Santo, deixe-me falar contigo mais uma vez; é-me difícil separar-me do encontro com esta Palavra, porque nela estás presente, vives e atuas. Apresento a ti, à tua intimidade, ao teu Amor, o meu rosto de discípulo; eu me espelho em ti, Espírito Santo. Confio a ti, dedo da mão direita do Pai, minhas feições, meus olhos, meus lábios, meus ouvidos... realiza a obra de cura, libertação e salvação; que eu renasça, hoje, um homem novo do ventre do teu fogo, do sopro do teu vento. Espírito Santo, eu sei que não nasci para ficar só; por isso, peço-te: envia-me aos meus irmãos, para que eu possa anunciar-lhes a Vida que vem de ti. Amém. Aleluia!»

(Maria Anastasia di Gerusalemme Cucca. Domenica di Pentecoste. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio Divina per l’anno liturgico CSui vangeli festivi. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 308)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – Pentecoste – 31 maggio 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 01/06/2022).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.