«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Muitos preferem se fazer de cegos

 A gente escolhe não ver

 Mônica Sodré

Cientista Política e diretora-executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) 

JAIR BOLSONARO em motociatas pelo país, torrou mais de 6 milhões de você e eu, do povo brasileiro que pagou a festança e propaganda política. Sem falar das infrações de trânsito cometidas por pilotar sem capacete!

E você? Já decidiu do que vai se esquecer hoje?

Há sobre todas as coisas uma ética, uma moral e um costume. Há os que se acostumam com tudo.

Pero Vaz de Caminha, quando chegou do lado de cá dos trópicos, definiu esta como a terra em que, se plantando, tudo dá. 522 anos depois, a definição da máxima pode perfeitamente ser alterada para “esta é a terra em que a tudo se acostuma”. 

Aqui, a vida segue todos os dias. 

Quando se decide que os planos de saúde são obrigados a cumprir estritamente o mínimo, não pelo menos o mínimo. 

Quando em ano de eleição o incumbente faz rolês de moto em todos os cantos do país com dinheiro dos cidadãos, ao custo de mais de R$ 6 milhões, e a gente ignora a propaganda eleitoral antecipada. 

Quando 172 pessoas desaparecem a cada dia no Brasil —mais de 60 mil por ano. Para se ter uma dimensão, é como se quase uma cidade de Brumadinho (MG) sumisse duas vezes. A cada ano. “Ah, Brumadinho, você se lembra?” 

Quando a gente acha normal e segue vivendo depois de o Ministério da Saúde — que deveria cuidar da saúde — dizer que vai investigar pessoas que recorrem ao aborto, mesmo nos casos em que a lei permite. Isso num país em que menos de 3% dos casos de estupro são reportados, que agora acompanha o drama de uma criança de 11 anos impedida de fazê-lo e em que parte da nação opera na lei dos “20 quilos”: se tem mais de 20 quilos, já se está pronto para a vida sexual. 

Quando gente eleita, que deveria ter em conta os interesses do país, questiona os procedimentos que fazem uma eleição possível e antecipa que não vai aceitar nenhum resultado que não lhe seja favorável e voltamos aos tempos do exercício do poder absoluto. 

Quando assistimos à transformação das Forças Armadas, de responsáveis pela logística das eleições, em garantidoras do processo eleitoral. Num país em que a democracia, interrompida anteriormente pelas Forças Armadas, é mais nova até do que esta que vos escreve. 

Quando um em cada dois brasileiros não comeu hoje, não sabe se vai comer ou comeu menos que ontem. 

TIAGO BASTOS DE SANTANA, 24 anos de idade, pede comida em um cruzamento no bairro da Mooca, em São Paulo, capital. Cena cada vez mais comum! Foto: Karime Xavier / Folhapress

Quando uma vereadora negra, uma das poucas mulheres na política nacional, é assassinada com tiros no rosto e, quatro anos depois, não se tem a menor ideia de quem encomendou o crime e nenhum responsável foi punido. 

Quando o número de licenças para armas cresce 325% em três anos e 31 mudanças, todas de caráter flexibilizador, foram feitas nas leis de armas no mesmo período. 

Quando um indigenista e um jornalista, ambos a serviço do interesse público, desaparecem no exercício de seus trabalhos, após receberem ameaças de morte, e leva mais de 24 horas para que as autoridades comecem a se mexer. 

Quando 11 dias depois aceita-se a justificativa de que foi um crime comum, cometido por dois pescadores, deixando intacta toda a rede de criminalidade que acomete o território há anos e que saqueia, a olhos vistos e de maneira ilegal, o patrimônio público em nome de interesses privados. 

A gente escolhe não ver. 

Há sobre todas as coisas uma ética, uma moral e um costume.

E justamente aqui reside a nossa definição como povo: extinguiram-se a ética e a moral.

Deixamos prevalecer o costume de nos acostumarmos com tudo. E de fingir normalidade. Todos os dias. 

E você? Já escolheu do que vai se esquecer hoje? 

Fonte: Folha de S. Paulo – TENDÊNCIAS / DEBATES – Domingo, 26 de junho de 2022 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (Acesso em: 27/06/2022).

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