«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

18º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 12,13-21 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

O valor da vida de uma pessoa não depende do que ela tem, mas do que ela dá

 

Com a sagacidade, humor, ironia e sarcasmo que lhe são típicos, o evangelista Lucas aborda um tema tão antigo quanto o mundo: a herança. Não há nada como a herança para dividir as pessoas. Vamos ouvir o capítulo 12 do versículo 13 ao 21. 

Lucas 12,13:** «Alguém do meio da multidão disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.”»

Jesus está falando de confiança no Pai e é interrompido por alguém que, em vez disso, confia no dinheiro. Essa pessoa se dirige a ele em um tom imperativo: “dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Como dissemos, é uma questão tão antiga quanto o mundo: a herança. A herança é sempre causa de divisões e desavenças, porque sempre haverá alguém que esperava mais, que exigia mais, que queria mais. E isso causará inimizade e muitas vezes desacordos que duram para sempre.

Para Jesus, toda herança é fruto da avareza, do egoísmo, da ganância, atitudes que fecham o ser humano, irremediavelmente, aos outros e a Deus.

Portanto, toda herança é fruto do egoísmo, pois se as pessoas fossem generosas não teriam acumulado o suficiente para poder deixar em herança. Toda herança contém um fator tóxico que envenena a vida de quem a recebe. Assim, acreditamos estar fazendo o bem deixando a herança e, em vez disso, entregamos um fruto envenenado que mais cedo ou mais tarde dará seus frutos desastrosos. 

Lucas 12,14: «Ele respondeu: “Homem, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vos?”»

E Jesus recusa. Quando Jesus usa a expressão “homem”, ele está sempre em uma postura negativa. Na frase “quem me constituiu juiz ou árbitro/mediador”, esta última palavra é, literalmente, “divisor”, porque pediu ao irmão para dividir com ele a herança. 

Lucas 12,15: «E disse-lhes: “Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois a vida de alguém não consiste na abundância de suas posses”.»

E aqui está a severa advertência de Jesus que deve ser levada em consideração. A ganância é o desejo de possuir. São Paulo, na carta aos Colossenses no capítulo 3, versículo 5, irá afirmar que a ganância é idolatria. Você pode ser a pessoa mais religiosa, mais piedosa, mais devotada do mundo, mas se você acumula dinheiro, se você deseja possuir, se você é visceral e profundamente egoísta, você é um idólatra, você não tem nada a ver com o Pai, porque o Pai é amor que ele compartilha generosamente.

O valor da vida de uma pessoa não depende do que ela tem, mas do que ela dá.

O ensinamento de Jesus nos Evangelhos é que se possui apenas o que se é capaz de dar; o que é guardado para si não é possuído, mas nos possui. 

Lucas 12,16-17: «E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita, e ele ponderava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’.»

E, agora, eis uma parábola ferina que Jesus conta. Ela nos conta sobre uma pessoa rica que, além disso, tem uma colheita abundante. “Ele raciocinava/ponderava consigo mesmo”, diz-nos o evangelista. Mas, cuidado, é ironia porque depois Jesus vai chamá-lo de tolo! O rico, os ricos estão em estado terminal de egoísmo para o qual não há esperança de salvação, porque deveriam ser generosos, mas eles, justamente por serem ricos, não o são.

Os ricos não pensam nem um pouco em dar, em compartilhar.

Ele já é rico e tem esse campo que lhe traz uma colheita abundante; não é que ele pensa: “a quem posso dar, com quem posso compartilhar?” O rico pensa apenas em si mesmo. Para os ricos tudo é para eles! 

Lucas 12,18-19: «Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então direi a mim mesmo: Minh’alma, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, diverte-te!’»

Vemos, na atitude e palavras do rico, somente, avareza, ganância. E novamente este tema dos bens retorna. Pensa apenas e somente em si mesmo. Não há o menor sinal de solidariedade, de partilha, já é rico, tem frutos abundantes: “Vamos, o quanto custa dar aos outros?!” Não, o rico, como eu disse, está em estado terminal de egoísmo para o qual não há esperança! 

Lucas 12,20: «Deus, porém, lhe disse: ‘Insensato! Ainda nesta noite vão tomar a tua vida. E o que acumulaste, para quem será?»

E aqui está a sentença de Deus. Lembremos que, no tempo de Jesus, o rico se considerava uma pessoa abençoada por Deus, enquanto o pobre era uma pessoa punida por ele. A tradução diz “tolo”, porque na boca de Jesus não parece conveniente usar certas expressões um tanto fortes, mas qual de nós diria “tolo” para um assim? Aqui, o termo usado pelo evangelista é “deficiente, idiota, estúpido”, dito, inclusive, com vigor!

Eis que primeiro Jesus havia dito que o rico raciocinava consigo e, em vez disso, não ponderava consigo.

O rico não é apenas um doente terminal de egoísmo para quem não há esperança, mas também é um estúpido, ele acumulou tantíssimo e não pode nem aproveitar para si mesmo.

Vai morrer e tudo o que acumulou para quem será? 

Lucas 12,21: «Assim acontece a quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico diante de Deus”.»

Como alguém se torna rico diante de Deus? Dando aos outros. Jesus, nos Atos dos Apóstolos [20,35], sempre escritos por Lucas, afirma que há mais alegria em dar do que em receber, ...

... o segredo da felicidade não consiste no que você recebe, no que você tem, no que você acumula, mas no que você dá e compartilha generosamente com os necessitados.

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Os ricos farão de tudo pelos pobres, menos descer de suas costas.” (Liev/Leon Tolstói: 1828-1910 – um dos maiores escritores de todos os tempos)

Se alguém ainda duvidava da impossível conciliação entre as palavras e a prática de Jesus com os valores e princípios da sociedade na qual vivemos, este Evangelho acaba com todas a dúvidas e ilusões! Para a sociedade capitalista, na qual vivemos e pela qual somos educados, os principais valores e ideais a perseguir são:

a) a riqueza,

b) a competição,

c) o sucesso pessoal,

d) a fama,

e) o poder,

f) a capacidade de influenciar e manipular pessoas,

g) a eterna juventude e bem-estar. 

Porém, para Jesus, tudo isso não passa de tolice, estupidez, loucura, irracionalidade! Porque, por mais dinheiro que alguém possa ter, ele não tem o controle total de sua vida. Ele não pode evitar a sua caducidade e o seu próprio fim. E por essa riqueza e poder tão incertos, muitas pessoas estão dispostas a destruir a vida de milhões de criaturas e do próprio planeta, enquanto permanecem não apenas calmas, mas também orgulhosas de si mesmos. Isso é irracionalidade total. Quem acabará aproveitando de todo o seu trabalho, de todos os seus esforços, de tudo aquilo que acumularam serão pessoas que, em muitos casos, nem saberão valorizar e preservar o que receberam de graça! 

E pensar que, na atualidade, temos uma das maiores concentrações de riquezas de toda a história humana! Sim, os ricos estão se tornando cada vez mais ricos, enquanto os pobres se tornam cada vez mais pobres! Com isso, temos como consequência:

a) o aumento da insegurança,

b) a redução da qualidade de vida,

c) o aumento do consumo de drogas e álcool,

d) a depredação do planeta do qual dependemos,

e) a infelicidade e falta de sentido na vida para bilhões de seres humanos desta Terra! 

Porém, há uma tolice maior nessa atitude de viver para acumular bens e riquezas: o essencial da vida, o segredo de ser feliz não se encontra nisto! Encontra-se:

* no dar,

* no compartilhar bens e dons que se possui,

* no repartir aquilo que se tem,

* no ser solidário,

* no ser fraterno e misericordioso! 

Por fim, é bom levarmos em conta uma séria e realista constatação que faz um teólogo espanhol muito atento:

«E nunca devemos esquecer que todos nós somos gananciosos. Ninguém escapa da ganância. Porque brota do “desejo”. E o desejo é o mecanismo inato que sempre nos acompanha, que nos mobiliza, claro, para as coisas boas, para que sejamos criativos e eficientes. Mas também a apropriar-nos do que é dos outros, induzindo-nos a “roubar” (sic) “com sã consciência” ou, pelo menos, com argumentos que tentam justificar as mais sujas malandragens que, por vezes, fazemos como a coisa mais natural do mundo. E, infelizmente, tudo isso está na ordem do dia hoje!»

(José María Castillo)

 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Os homens, sejam eles ricos ou pobres, são apenas um vapor enganoso. Colocando todos eles na balança, veremos que eles não são nada. Não confiem na violência, nem depositem vãs esperanças na rapina; se acumularem riquezas, não lhes deem o seu coração. Deus falou uma vez, e eu ouvi duas coisas: Teu, meu Deus, é o poder; Tua, Senhor, é a misericórdia; tu dás a cada um o que suas obras merecem.»

(Salmo 62[61],9-13 – Reina Valera Contemporánea)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – XVIII Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 04 agosto 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 27/07/2022).

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