«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos – Homilia

 Evangelho: Mateus 16,13-19 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano


Somos tijolos que constroem a Igreja sobre a rocha, que é o Cristo Senhor

O Evangelho deste domingo é Mateus capítulo 16, versículos 13-19, também muito importante para a história da igreja. Qual é o contexto? Jesus advertiu seus discípulos contra o fermento dos fariseus, uma doutrina religiosa baseada no deus da lei, o do sacrifício, do mérito, do puro e do impuro. Jesus quer que eles entendam que Deus é um pai que é só amor. Para isso, leva-os ao extremo norte do país, inclusive, em terra pagã, até Cesareia de Filipe, cidade em construção, onde existe uma das três nascentes do Jordão e, sobretudo, onde havia um grande abismo, uma caverna, que se acreditava ser a entrada para o reino dos mortos. 

Mateus 16,13-14:** «Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Jeremias ou um dos profetas”.»

Aqui neste lugar - portanto longe da influência dos fariseus - Jesus pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” E o evangelista contrapõe o Filho do Homem - o homem que tem a condição divina - e os homens que não a possuem. A resposta é decepcionante e ela é consequência da confusão que os discípulos têm em mente e da pregação que fizeram. Na verdade, eles falam de todos os personagens do passado, os grandes reformadores; alguns dizem João Batista porque se pensava que os mártires ressuscitariam; outros Elias, o famoso profeta que viria antes do Messias; outros Jeremias ou alguns dos profetas. São respostas que dizem respeito ao passado, as pessoas não entenderam a novidade de Jesus: são todos personagens que são reformadores de instituições, mas Jesus não veio para reformar as instituições, mas para eliminá-las. O que se acreditava permitir a comunhão com Deus, para Jesus, por outro lado, é o que a impedia. 

Mateus 16,15-16: «Então disse-lhes: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.»

Então Jesus faz a mesma pergunta aos discípulos. Simão Pedro responde por todos afirmando que: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Finalmente um dos discípulos, Simão Pedro, compreende que Jesus não é o filho de Davi, mas o filho de Deus. O filho de Davi é aquele que se assemelha ao famoso rei Davi, que impôs o reino tirando a vida de seus inimigos, o filho de Deus é aquele que dará a sua vida até pelos seus inimigos. Então, finalmente, Simão Pedro entende essa realidade, mas, veremos, por pouco tempo. 

Mateus 16,17: «Jesus então declarou: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus”.»

E Jesus o louva, ele o chama bem-aventurado, é a bem-aventurança dos puros, daqueles que veem a Deus, e ele o chama: “Tu és Simão, filho de Jonas”. Por que filho de Jonas? Quem é Jonas? Porque Jonas é o único profeta que fez exatamente o contrário do que Deus lhe havia ordenado. Deus havia ordenado que ele pregasse a conversão para Nínive e Jonas foi para outro lugar; então, no final, ele se converte. Chamando-o então de filho de Jonas, Jesus fotografa Pedro para que as pessoas entendam qual será o seu itinerário, sempre em oposição a Jesus, mas depois ele finalmente se converterá.

E Jesus afirma que foi o Pai quem lhe revelou isso. 

Mateus 16,18: «Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela.»

E aqui está um versículo muito difícil, mas não tanto pelo conteúdo quanto pelas traduções. Vejamos: “Eu te digo: tu és Pedro”. Pedro é a tradução do termo grego “petros que indica uma pedra, um tijolo ou, em qualquer caso, algo adequado para uma construção – “e sobre esta pedra”, e o evangelista usa o termo “petra” que não é o feminino de “petros”, mas significa rocha. É como em português: se eu digo “o porto” e “a porta”, não é que um seja masculino e o outro seja feminino. Então Jesus diz:

“Você é um tijolo, uma pedra, sobre esta pedra, sobre esta rocha que sou eu”.

Jesus já havia falado dessa rocha, é aquela onde o homem constrói sua casa e quando vêm os rios, os ventos, ele fica firme [cf.: Mt 7,24-27]. A rocha é a fé em Jesus ou o próprio Jesus, então esta distinção é importante entre “petros” que significa tijolo e “petra”, a rocha sobre a qual construir. 

Uma vez que, finalmente, um dos discípulos compreendeu que é o Filho de Deus que comunica a vida, Jesus diz: “Eis que tu és o primeiro tijolo com o qual construir”, edificarei a minha Igreja. A palavra grega “ecclesia” significa assembleia dos convocados. Prossegue Jesus: “E as portas do inferno não prevalecerão sobre ela”. É importante o lugar onde Jesus profere essas palavras: dissemos que havia essa famosa caverna que se acreditava ser a entrada do reino dos mortos. Pois bem, Jesus diz:

“Eis que as forças da morte nunca terão poder sobre uma comunidade fundada no Deus vivo”, a vida sempre será mais forte que a morte. 

Mateus 16,19: «Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra, será desligado nos céus.»

É útil lembrar que “reino dos céus” em Mateus não significa a vida após a morte, mas a sociedade alternativa que Jesus veio inaugurar. Essas chaves não são, como depois se tornaram no imaginário, Pedro com as chaves que ele abre e fecha! Não são isso, qual é o significado das chaves? Aquele a quem entregava-se as chaves da cidade tornava-se o responsável pela saúde e bem-estar das pessoas dentro dela; este é o significado de ter as chaves.

E então Jesus usa uma expressão típica dos rabinos:tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra, será desligado nos céus”. É a linguagem rabínica usada para indicar ensinar, interpretar a lei, declarar a doutrina verdadeira ou não. Eram os escribas que tinham as chaves da ciência. Assim, Jesus assegura que...

... uma comunidade que se baseia na fé no Deus vivo e, portanto, coloca o objeto da criação, o bem, o bem-estar do homem em primeiro lugar, o ensino desta comunidade é confirmado pelo céu. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“A fé é fundamento daquilo que ainda se espera e prova de realidades que não se veem” (Hebreus 11,1)

Como é oportuno o Evangelho escolhido para esta festa de São Pedro e São Paulo!

Afinal, os fundamentos da nossa Igreja, da nossa fé não estão fixados em pedras humanas, em fundamentos humanos. Pelo contrário! Os nossos fundamentos são o próprio CRISTO! Ele é a rocha, ele é a base sobre a qual se constrói a verdadeira Igreja, a comunidade daqueles que pregam e vivem o Reino de Deus. 

E Jesus foi sábio ao deixar claro que o fundamento é sempre Deus, não as frágeis figuras humanas! Vejamos o caso de Pedro. Chamado por Jesus não conseguia, porém, compreender em profundidade quem ele era e qual era a sua missão! Inclusive, mostrava-se disposto, como na última ceia, a não decepcionar Jesus: “Mesmo que todos se escandalizem por causa de ti, eu jamais me escandalizarei” (Mt 26,33). Jesus, no entanto, não se convence com a promessa de Pedro: “Em verdade eu te digo: esta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás” (Mt 26,34). E Pedro volta a insistir, sendo ainda mais enfático: “Ainda que eu tenha de morrer contigo, nunca te negarei” (Mt 26,35). E os demais discípulos afirmaram o mesmo. 

Bem, o final disso tudo já sabemos: medo, pavor, fuga, negação, falta de testemunho por parte dos discípulos, incluindo Pedro. Nem na oração, na vigília, os discípulos conseguiram ser fiéis a Jesus: “Não fostes capazes de vigiar nem uma hora comigo? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,40b-41). 

Com Paulo as coisas não são muito diferentes! Cristo o escolhe porque “este homem é um instrumento que escolhi para mim, a fim de levar o meu nome aos gentios e aos reis, e também aos israelitas” (At 9,15). Portanto, Paulo é um evangelizador dos gentios, daqueles que nem conheciam o Deus de Israel. Porém, quando chegava nas cidades, sua tendência era, sempre, buscar a sinagoga dos judeus da localidade: “Passando por Anfípolis e Apolônia, Paulo e Silas chegaram a Tessalônica, onde os judeus tinham uma sinagoga. Conforme seu costume, Paulo foi procurá-los e, por três sábados seguidos, discutiu com eles” (At 17,1-2). 

O resultado dessas pregações em sinagogas era, quase sempre, decepcionante e frustrante! A maioria dos judeus não escutava nem concordava com Paulo, mas, tantas vezes, o expulsavam da sinagoga e o insultavam com violência. Chegou a um ponto que o próprio Paulo se deu conta que não convinha mais dirigir sua pregação aos judeus, mas, somente, aos gentios: “O vosso sangue caia sobre vossas cabeças. Eu não tenho culpa. De agora em diante, vou dirigir-me aos gentios” (At 18,6). Sua estratégia evangelizadora não dera frutos, pois se desviou da missão que Cristo lhe confiara, ou seja, de levar o nome dele aos gentios. Com estes, certamente, Paulo obtém mais êxito e os frutos aparecem! 

Essas duas “colunas” da Igreja, como são conhecidos São Pedro e São Paulo, não foram seres humanos perfeitos e sem pecado! No entanto, ao final, souberam reconhecer que a razão estava com Cristo. Todos nós, atualmente, devemos repensar nossas atitudes, ideias, planos pastorais e evangelização à luz das vidas desses dois grandes apóstolos! 

Muito do nosso insucesso se deve ao fato de realizarmos muitas atividades, mas sem a devida ESPIRITUALIDADE! Isso significa que, às vezes, trabalhamos muito, fazemos muito, mas não com o mesmo Espírito de Cristo, não inspirados e apoiados nele, especialmente, em suas atitudes e palavras.

Não seria a hora de deixarmos o Cristo e seu Espírito nos guiar?!

 
Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Ó Deus, que hoje nos concedeis a alegria de festejar São Pedro e São Paulo, concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes Apóstolos que nos deram as primícias da fé. Por nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.»

(Oração da Coleta, Missa do Dia – Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos) 

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – XXI Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 23 agosto 2020– Internet: clique aqui (Acesso em: 22/06/2022).

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