«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Império Hitita destruído pelo clima

 Uma seca extrema foi a responsável, há mais de 3 mil anos, pela destruição desse império antigo

 Fernando Reinach

Biólogo 

Grandes impérios da época do Império Hitita

Civilização hitita rivalizava com os egípcios e mantinha relações comerciais com todo o Oriente Médio

Por aproximadamente 450 anos, entre 1650 e 1200 a.C. (antes de Cristo), o império Hitita dominou a Anatólia (onde hoje é a Turquia). Os Hititas rivalizavam com o império Egípcio e mantinham relações comerciais com todo o Oriente Médio. Eles possuíam uma escrita baseada em hieróglifos, dominavam a agricultura e deixaram lindas construções e obras de arte. Por volta de 1200 a.C., o império colapsou repentinamente e a capital, Hatusa, foi abandonada. 

As razões para o colapso são um mistério, pois não ocorreram grandes guerras ou uma invasão. Recentemente foi descoberto que o rei ordenou o desmonte da capital. Ela foi desocupada de maneira ordenada e abandonada intacta. Os habitantes se dispersaram e o império desapareceu. 

A novidade é que agora foi descoberta uma possível razão para o colapso: uma crise climática

Faz alguns anos foram descobertos mais de 20 troncos de junípero (zimbro) a 230 quilômetros da antiga capital Hatusa. Os troncos são muito antigos, provenientes de árvores que viveram na época do império Hitita. Usando técnicas de carbono 14 foi possível demonstrar que a parte mais interna dos troncos mais antigos são de 1497 a.C. e a parte externa do mais recente de 797 a.C.. 

Tronco seco de junípero (zimbro), como aqueles encontrados no território do antigo Império Hitita, atual país da Turquia

Essas árvores viveram e cresceram durante o período áureo do império Hitita e sobreviveram ao seu desaparecimento. Como todo tronco de árvore, os troncos de Juniper são compostos por anéis, e cada anel corresponde a um ciclo de crescimento da árvore. Sabendo a idade exata (com um erro de três anos) de alguns dos anéis, é possível saber a que ano corresponde cada anel

Sabemos também que a grossura do anel depende de quanto a árvore cresceu a cada ano. Nessa região um menor crescimento corresponde a um ano mais seco. Essa medida pode ser calibrada usando troncos recentes. Assim podemos correlacionar o quanto choveu em um ano com a grossura do anel nesse ano. Isso permite aos cientistas deduzir o clima de cada ano, principalmente a quantidade de chuva, no qual as árvores antigas viveram. 

Usando esses dados, os cientistas estimaram a abundância de chuva, a cada ano entre 1497 e 797 a.C.. O que eles observaram é que durante todo esse período, aproximadamente a cada 10 anos, ocorria um ano de seca muito forte. Essas secas eram suficientemente fortes para que praticamente toda a produção de grãos fosse perdida. 

Área ocupada pelo Império Hitita, antiga Anatólia, atual Turquia

A existência dessas secas periódicas aparece nos escritos dos Hititas e faziam parte de seu cotidiano. É por esse motivo que as cidades do império possuem construções dedicadas ao estoque de grãos. Durante todo o período estudado (600 anos) não ocorreram dois anos seguidos de seca forte.

Mas, entre os anos 1198 e 1196 a.C., ocorreram três anos seguidos de seca muito forte.

Nesses anos as árvores de junípero praticamente não conseguiram crescer e os anéis são muito finos. 

Esse período de seca longa coincide exatamente com a data em que os Hititas desapareceram. Foi quando o rei ordenou que as cidades fossem desocupadas e abandonadas. Os cientistas acreditam que esse evento climático muito raro (uma seca de três anos) talvez não seja a única razão para o desaparecimento de todo o império, mas a falta de alimento por um período tão longo pode ter influenciado no desaparecimento dessa civilização

Os Hititas dominaram a região, desenvolveram um sistema alimentar robusto, capaz de absorver as secas ocasionais, e com esse sistema sobreviveram e prosperaram por 400 anos. Mas o sistema não era robusto o suficiente para aguentar três anos sem alimentos

No mundo atual, nós vivemos uma realidade semelhante. Os estoques de alimentos existentes no planeta só são suficientes para alimentar a humanidade por menos de seis meses caso a produção de grãos seja zerada. 

Segundo a FAO, a produção e o consumo de grãos em 2022 foram praticamente iguais (2.750 milhões toneladas) e o estoque total é de 850 milhões de toneladas. Ou seja, nosso estoque é suficiente para quatro meses de consumo. É claro que no mundo moderno a produção de grãos está espalhada por muitos continentes e um colapso total por um ano é muito difícil de ocorrer. No caso do Hititas, ocorreu somente uma vez em 400 anos. Nossa tecnologia ainda não tem 200 anos. Essa é mais uma razão para nos preocuparmos com as mudanças climáticas

Mais informações: Severe multi-year drought coincident with Hittite collapse around 1198–1196 bc. Nature (clique aqui): https://www.nature.com/articles/s41586-022-05693-y

Fonte: O Estado de S. Paulo – Colunista – Pág. A18 – Sábado, 25 de fevereiro de 2023 – Internet: clique aqui (Acesso em: 06/07/2023).

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