«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 31 de março de 2023

Domingo de Ramos – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 21,1-11 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Jesus: um messias de paz, não de poder e violência

A narração da entrada de Jesus em Jerusalém, no Evangelho de Mateus, é rica de citações do Antigo Testamento, com as quais o evangelista quer encerrar e resumir toda a história do seu povo. Mas vamos ler esta passagem importante, é o capítulo 21, os primeiros onze versículos. 

Mateus 21,1a: «Quando se aproximaram de Jerusalém, chegaram a Betfagé, junto ao Monte das Oliveiras.»

As indicações do evangelista não pretendem ser topográficas, mas teológicas. Betfagé significa “casa dos figos” e, após a entrada em Jerusalém, haverá o episódio da figueira estéril (Mt 21,18-22), figura do Templo. O Monte das Oliveiras é a montanha onde, segundo a tradição, o messias teria se manifestado. Pois é o monte que ocupa uma posição mais elevada que o Templo. 

Mateus 21,1b-2: «Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide até o povoado ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada e, com ela, um jumentinho. Desamarrai-os e trazei-os a mim!»

Toda vez que o termo “povoado/aldeia” aparece nos Evangelhos, é sempre como sinal de incompreensão da novidade trazida por Jesus, portanto devemos esperar algo de incompreensão, senão hostilidade, nesta passagem. Qual é o significado desta jumenta e deste jumentinho? Como dissemos, o evangelista carrega esta passagem de citações, aqui devemos voltar ao primeiro livro da Bíblia, o livro do Gênesis, no testamento que Jacó faz, e na bênção sobre seus filhos. Sobre Judá diz: “O cetro não será tirado de Judá, nem o bastão de comando de entre seus pés, até que venha aquele a quem pertence e a quem vai a obediência de povos. Ele amarra à videira seu jumentinho, à parreira escolhida o filho da jumenta” (Gn 49,10-11a), eis a referência. Existe essa profecia, dessa figura do libertador, do messias de Israel, que precisava ser realizada. Aqui, então, está o significado desse jumentinho e dessa jumenta. 

Mateus 21,3-5: «E se alguém vos disser alguma coisa, direis: ‘O Senhor precisa deles, mas logo os mandará de volta’”. Isso aconteceu para se cumprir o que fora dita pelo profeta: “Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”.»

É a única vez que Jesus se define assim, como “O Senhor”. Senhor não significa quem está acima dos outros, quem manda, mas quem não tem ninguém acima de si, quem é livre para dispor da própria vida, um senhor que não manda, mas põe a sua vida ao serviço dos outros. Aqui, novamente, há outra referência ao Antigo Testamento. Assim, na primeira citação (Gênesis), Jesus tinha dito: “desamarrai-os”, isto é, tornai esta profecia real. A segunda é tirada do livro do profeta Zacarias, que o evangelista, no entanto, não relata exatamente, adapta-a e diz: “Dizei à filha de Sião”, na verdade a passagem de Zacarias começou em um tom mais exaltado, de fato ele disse: “Enche-te de grande júbilo, filha de Sião, prorrompe em gritos, filha de Jerusalém” (Zc 9,9a). Não, não há nada para se exultar nem para se jubilar. Jerusalém, desde o início do Evangelho, tem sido apresentada sob uma luz sinistra, é a cidade simbólica da instituição religiosa, que sempre matou os enviados de Deus, por isso é apenas informado, “dizei à filha de Sião”.

Eis que o teu rei vem a ti”, e o profeta Zacarias havia escrito: “eis que o teu rei vem a ti, ele é justo e vitorioso”, bem o evangelista omite “ele é justo e vitorioso. Justo significa o fiel observador da lei, o vitorioso que triunfou, e Jesus não triunfará pelas armas, pelo poder. O evangelista prossegue citando a profecia de Zacarias: “manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”, é aqui que o evangelista quis chegar. Esse messias que entra não tem a insígnia do poder, não se senta em um animal de guerra, que poderia ter sido um cavalo, ou mesmo em uma montaria real, que era uma mula, mas em um jumento. O jumento era a montaria normal das pessoas humildes, das pessoas simples. Então Jesus pede para liberar, para desatar essa profecia, que havia sido anulada, porque ia contra os ideais de vingança, de violência do povo de Israel, sobre os dominadores romanos e de predomínio sobre todas as outras nações. Portanto, era uma profecia que foi colocada de lado. Jesus nos convida a desamarrá-la, libertá-la, atualizá-la. 

Mateus 21,6-8: «Então os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia mandado. Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram seus mantos em cima, e Jesus montou. A numerosa multidão estendeu seus mantos no caminho, enquanto outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho.»

Os mantos, na simbologia judaica, indicam a realidade da pessoa, por isso os discípulos aderem a esta imagem de um messias não violento, um messias de paz, um messias desarmado. Na investidura do rei, em sinal de submissão, tirava-se o manto da pessoa, que indicava o próprio indivíduo, estes mantos ficavam na estrada, e o rei passava por cima, era uma expressão de submissão ao rei.

Bem, a multidão não quer esse messias de paz, mas quer um rei a quem se submeter.

Estes ramos cortados das árvores recordam a Festa das Tendas, a festa onde, segundo a tradição, o messias se teria manifestado, por isso pretendem acolher este Jesus como o rei triunfante. 

Mateus 21,9: «As multidões que iam à sua frente e as que o seguiam, clamavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”»

Eis que não é Jesus quem conduz a procissão, mas há uma multidão que o precede: assim como o tentador o trouxe a Jerusalém no pináculo do Templo, agora as multidões dão sequência às tentações de Jesus, mostram-lhe o caminho a seguir, e qual é o caminho a tomar? O do poder e o da dominação. “E as que o seguiam clamavam”, infelizmente Jesus é colocado no meio: tanto os que o precedem como os que o seguem gritam “Hosana”, Hosana é uma expressão hebraica que significa: “salve-nos, então”, Hosana a quem? “Ao Filho de Davi!”, eis o grande mal-entendido, que levará então os mesmos que agora gritam Hosana, a gritar: “crucifica-o”. Acham que Jesus é Filho de Davi, ou seja, um messias como Davi. Davi foi o grande guerreiro, o grande rei, que através de um banho de sangue conseguiu reunir as tribos de Israel, é isso que eles esperam. Quando perceberem que Jesus não é Filho de Davi, não saberão o que fazer com esse messias, e escolherão Barrabás, e, para Jesus, pedirão a crucificação. 

Mateus 21,10-11: «Quando Jesus entrou em Jerusalém, a cidade inteira ficou alvoroçada, e diziam: “Quem é este?” E as multidões respondiam: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”.»

O verbo usado pelo evangelista é o que indica um terremoto, um sismo. A cidade estremece: como no princípio, no anúncio do nascimento, se abalou (cf. Mt 2,3), agora, quando Jesus entra em Jerusalém, se estremece, porque é a cidade que mata, que mata os profetas, e matará também o Filho de Deus. “E diziam: ‘Quem é este?’” Quem é ele? Expressão de desprezo!

A cidade santa não conhece o “Deus conosco”, como Jesus foi apresentado, porque o seu Deus é outro, é o interesse, a conveniência, é o dinheiro, é o tesouro do Templo.

Esta cidade não apenas não vai ao encontro do messias que vem, mas também fica irritada: quem é esse? “E as multidões respondiam”, e eis o grande mal-entendido, “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”. A Galileia era a região turbulenta, de onde saíam os revolucionários, os zelotes, aqueles que queriam lutar contra domínio romano. É lembrado Judas, o Galileu, que, nos anos 6 e 7 d.C., iniciou duas revoltas contra os romanos, que terminaram em um banho de sangue. Aqui está o que a cidade espera. Quando perceberem que Jesus não é o Filho de Davi, mas o Filho de Deus, não saberão o que fazer com isso

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 6. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2022. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«Quando caminhamos sem a Cruz, quando construímos sem a Cruz e quando confessamos a um Cristo sem a Cruz... não somos discípulos do Senhor: somos mundanos; somos bispos, sacerdotes, cardeais, papas, porém não discípulos do Senhor.»

(Papa Francisco: 266º Papa da Igreja Católica – argentino)

A cena da entrada de Jesus em Jerusalém tinha tudo para se parecer com as solenes entradas processionais dos reis e monarcas vitoriosos da antiguidade! Eles traziam suas tropas e as pessoas capturadas em batalha, as multidões celebravam a vitória, havia aclamações com hinos, ao final de tudo, havia uma cerimônia religiosa no templo da cidade, confirmando a vitória e o poder do monarca! No entanto, não é bem isso que constatamos ou ler ou ouvir, atentamente, essa cena que o evangelista nos narra! 

No fundo, como bem constata José María Castillo, o que nós temos, aqui, é uma paródia do poder imperial. Paródia, segundo os melhores dicionários, é a imitação dos procedimentos de alguma obra seja artística ou não, com o objetivo de ser jocoso, satírico, crítico ao que se imita! Jesus nos mostra, com a sua atitude, que não segue nem, muito menos, concorda com o exercício do poder tal como exercido por Roma e demais poderosos de seu tempo! A vida humana possui outro sentido, outro destino! 

«Um destino que não pode admitir regozijar-se no ato desumano de dominar a alguém e, menos ainda, humilhá-lo, mas que deve ser totalmente o contrário: a exaltação da simplicidade, da humanidade, da bondade, da proximidade aos pobres.» (J. M. Castillo)

Afinal, somente a bondade é digna de fé! Todo o restante é balela, é desperdício! É triste observar, nos tempos atuais, quantas pessoas cultuam um Cristo que não corresponde, absolutamente, àquele revelado pelos Evangelhos! Há pessoas que criaram para si um Jesus Cristo para chamar de seu! Pois ele não existe nos Evangelhos, no restante do Novo Testamento de nossa Bíblia, mas, apenas e tão somente, na mente, na ideologia de certas pessoas que não entendem e aceitam o Cristo da Cruz, o Cristo pobre e sofredor com os sofredores, o Cristo que não exalta e justifica o poder e a riqueza, nem mesmo, consola as consciências dos ricos e poderosos que não sabem partilhar do que é seu e, por isso mesmo, jamais conhecerão ou experimentarão quem é Deus, de verdade! 

O Domingo de Ramos nos convida a não sermos como a elite de Jerusalém que não reconheceu o verdadeiro Messias, nem o seguiu, nem ficou contente com a sua presença na sua cidade! Tenhamos a coragem de crer em um Messias que nos desconserta, nos surpreende, nos desafia, nos faz mudar de vida, pois é disso que estamos precisando, de fato! 

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Tu montaste um jumentinho. Tu manifestaste tua força escolhendo a penúria. Montaste um jumentinho em sinal de pobreza, mas com a tua glória conquistas Sião. As roupas dos teus discípulos eram pobres, mas as crianças e a multidão te engrandeciam, exclamando: Hosana, salva-nos Tu que estás nos mais altos céus. Salva, Altíssimo, os oprimidos. Tem piedade de nós, por estes ramos, Tu que vens nos lembrar de Adão!»

(Fonte: Romano il Melode. Domenica delle Palme: orazione finale. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 190.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – Domenica delle Palme – Anno A – 5 aprile 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 29/03/2023).

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