«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

15º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia

 Evangelho: Mateus 13,1-23 

Frei Alberto Maggi

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Vincent Van Gogh - óleo em Tela - 64 x 81 cm - 1888 - (Rijksmuseum Kröller-Müller [Otterlo, Holanda])

Enamorarmos pela Palavra, este é o convite de Cristo!

A parábola do semeador, narrada por Jesus no Evangelho de Mateus, no início do capítulo 13, é um encorajamento para todos os que anunciam a palavra. O resultado não depende da semente, da palavra, mas depende do solo. Para compreender esta parábola, é necessário referir-se ao anúncio que se encontra no profeta Isaías, da parte do Senhor: “assim acontecerá com a minha palavra que saiu da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter feito o que desejo e sem ter realizado o que mandei” (Is 55,11). O Senhor assegura que a sua palavra contém em si uma energia criativa, a mesma palavra do Criador que disse: “Haja luz e houve luz”, portanto, esta palavra contém uma energia criativa que, ao encontrar o terreno apropriado, desenvolve todo o seu potencial. 

Mateus 13,1-17: «Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia. E disse-lhes muitas coisas em parábolas: “O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!” Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. Desse modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’. Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram.»

Nesta parábola, Jesus ilustra as possibilidades, mas também as dificuldades, em aceitar esta palavra. 

Mateus 13,18-19: «Ouvi, portanto, a parábola do semeador: Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.»

É o próprio Jesus quem explica a parábola, por isso, na segunda parte, encontramos a explicação, Jesus diz: “Ouvi, portanto, a parábola do semeador”, que evidentemente é Jesus, e todos os que semeiam esta palavra, “todo aquele que ouve a palavra do Reino”, a palavra pertence ao Reino, a sociedade alternativa proposta por Jesus, “e não a compreende”, por que não a entende? Ele não a compreende porque, para acolher o Reino, Jesus faz da conversão uma condição. O que significa conversão? Se até hoje você viveu para si mesmo e para os seus interesses, para as suas necessidades, a partir de hoje, você muda completamente a sua vida, vive para o bem e para as necessidades dos outros, esta é a sociedade alternativa, o Reino proposto por Jesus.

Jesus já havia falado deste maligno quando, no capítulo 5, versículo 37, havia dito: “que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não, o que vai além disso vem do maligno”, o que é o maligno?

Enquanto Deus é o AMOR que se põe a serviço dos homens, o maligno é o PODER que os domina.

Então Jesus adverte que todos aqueles que vivem sob a esfera do poder são totalmente refratários à sua palavra, de fato ele diz: “rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho”, portanto, é inútil semear porque os pássaros chegarão logo. O que isto significa? Os poderosos veem naturalmente nesta mensagem de Jesus uma ameaça ao seu domínio sobre as pessoas, mas também os que aspiram ao poder, porque veem na mensagem de Jesus um risco para as suas próprias ambições, mas a categoria mais trágica compõe-se dos que estão submetidos ao poder, porque enxergam na mensagem de Jesus um atentado à segurança que a submissão ao poder dá, estes são totalmente refratários. 

Mateus 13,20-21: «A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo.»

Esse tipo de terreno representa aquele que vê nesta palavra a resposta ao seu desejo de plenitude de vida, “mas não tem raízes em si mesmo”, o que isso significa? Que esta palavra “não cria raízes”, não transforma o indivíduo, ele é inconstante, de modo que “quando chega o sofrimento ou a perseguição” tal pessoa desiste. Jesus, no anúncio da parábola, disse: “quando o sol apareceu” (Mt 13,6), o sol é uma fonte, é fator de vida para a planta; se ele a queima não é culpa do sol, é porque a planta não conseguiu criar raízes. Portanto, aqui, para Jesus, o efeito do sol é tribulação ou perseguição para o indivíduo e para a comunidade, a perseguição não é um fator de destruição, mas um fator de crescimento; se destrói é porque o indivíduo e a comunidade não mudaram sua existência. E, assim, ocorre o falimento, o fracasso. 

Mateus 13,22: «A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto.»

Jesus fez da conversão uma condição, ou seja, você vive para os outros e não para si mesmo. Se você vive para si, e se encontra em uma condição econômica precária, acaba vendo no dinheiro a solução, mas assim que conseguir esse dinheiro, nascem imediatamente novas ambições, novas exigências, e você novamente se encontra em meio às preocupações econômicas. Então, quem pensa apenas em seus próprios interesses, quem está sempre preocupado com sua própria condição econômica, como poderá ocupar-se dos interesses e das necessidades dos outros? 

Mateus 13,23: «A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta”.»

Ele compreende a palavra precisamente porque se converteu: “esse produz fruto”. Para compreender a expressão paradoxal, mas nem tanto, de Jesus é preciso saber que, na cultura da época, de um grão de trigo obtinha-se uma espiga com sete, oito grãos. Quando o ano era bom, a espiga tinha dez grãos, em ocasiões excepcionais conseguia-se uma espiga com trinta grãos, mas era algo excepcional. Bem, o que é excepcional para os homens, Jesus o põe por último, na verdade ele diz: “produz cem, sessenta, trinta por um”, o que Jesus quer dizer? Quando o terreno é adequado, a palavra criadora libera toda a sua capacidade, todo o seu potencial, de uma forma que o homem nem imagina. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.


Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo.»

(Jean-Paul Sartre [1905-1980] — filósofo, escritor e crítico francês)

Ora, se a palavra semeada é tão forte, assim, por que não se obtém um sucesso maior? Por que tantas sementes não germinam, não produzem fruto, portanto, resultado? Pensando nos dias de hoje: por que a nossa evangelização parece não ser bem sucedida? Por que as pessoas não ouvem e não põem em prática o que diz a palavra do Evangelho? Por que as pessoas não querem compromisso com o Cristo e o Reino por ele anunciado e iniciado? 

As perguntas poderiam prosseguir, mas são suficientes para que nos interroguemos: afinal, o que se passa? O que acontece com a nossa evangelização: missas, catequese, aulas de religião, encontros de espiritualidade, cursos, retiros etc.? A tentação seria, imediatamente, pôr a culpa no “solo”, nos “destinatários” da nossa pregação: As pessoas, hoje em dia, não querem nada com nada! Ninguém mais se interessa por uma vida em comunidade, cada um busca realizar, apenas, os seus interesses pessoais! Ninguém quer saber de compromisso, de trabalho, de missão! Imperam uma apatia e um desânimo geral, ninguém tem iniciativa para nada! 

Porém, esse tipo de análise não faz justiça à realidade! Pois essas dificuldades mencionadas, acima, sempre existiram e seguirão existindo! A boa qualidade da Palavra de Deus, a eficácia da mensagem de Cristo, a força da pregação cristã já demonstraram, abundantemente, o seu sucesso! A primeira leitura de hoje, Isaías 55,10-11, em seu segundo versículo, nos diz com clareza: “assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”. Na Bíblia e na mentalidade oriental, o termo “palavra”, em hebraico dabar e em grego logos não significava, somente, um signo que transmite uma ideia, mas uma força que transmite uma realidade, algo de concreto. Dizendo de um outro modo, a palavra não apenas comunica algo, mas faz acontecer algo! 

Portanto, não é a Palavra que perdeu força! Não é o Evangelho que perdeu eficácia e apelo de convencimento! Não é que Deus e seu Filho não interessem mais aos seres humanos! O problema encontra-se em outro lugar! Onde? Nos anunciadores, nos semeadores! Eles se perderam em meio à sua incoerência e contradições! Afinal, deixamos de ser profetas da Palavra e nos convertemos em “funcionários do templo, dos sacramentos, dos rituais, das rubricas”! Esquecemo-nos que a Palavra de Deus não se associa a sacerdotes, na Bíblia, mas aos profetas! Por exemplo, Zacarias, o pai de João Batista, ficou sem palavra, mudo (cf. Lc 1,20), enquanto que a palavra veio até João, não no Templo, mas no deserto (cf. Lc 3,2). 

Aqueles que anunciam ou pensam anunciar a Palavra de Deus nos dias de hoje devem se perguntar, sinceramente, se estão convencidos, entusiasmados, seguros e enamorados por essa palavra, como nos pede Papa Francisco, do contrário, não serão capazes de convencer e evangelizar ninguém! Triste fim para uma Palavra tão forte e eficaz! A qual poderá cair no esquecimento e na irrelevância diante de um mundo que traz tantos outros apelos e ídolos para serem adorados e seguidos! Que fique claro o seguinte:

«O mais decisivo não é o número de pregadores, catequistas e professores de religião, mas a qualidade evangélica que os cristãos puderem irradiar. O que espalhamos: indiferença ou fé convicta? Mediocridade ou paixão por uma vida mais humana?» (José Antonio Pagola).

 

          Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Senhor, a tua parábola do semeador diz respeito a cada um de nós, aos caminhos da nossa vida, às durezas do quotidiano, às dificuldades e aos momentos de docilidade que compõem a nossa paisagem interior. Somos todos, de vez em quando: estrada, pedras, espinhos. E também terra boa e fértil. Livra-nos da tentação dos poderes negativos que tentam anular a força da tua palavra. Fortalece nossa vontade quando emoções fugazes e inconsistências tornam menos eficaz a sedução de tua palavra. Ajude-nos a preservar a alegria que o encontro com a tua palavra pode gerar em nosso coração. Fortalece o nosso coração para que, na tribulação, não nos sintamos indefesos e, portanto, expostos ao desânimo. Dá-nos força para vencer a resistência que colocamos à tua palavra quando surgem as preocupações do mundo, ou somos enganados pela sedução do dinheiro, seduzidos pelo prazer, pela vaidade de aparecer. Faz-nos terra boa, gente acolhedora, para podermos prestar o nosso serviço à tua palavra.»

(Fonte: PAGLIARA, Cosimo, O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony, O.Carm. [a cura di]. Lectio divina sui vangeli festivi per l’anno liturgico A. Leumann [TO]: Elledici, 2010, p. 454-455.)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni –15ª Domenica del Tempo Ordinario – Anno A – 12 luglio 2020 – Internet: clique aqui (Acesso em: 04/07/2023).

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