«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 4 de agosto de 2018

18º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: João 6,24-35

Naquele tempo:
24 Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas
e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum.
25 Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste aqui?»
26 Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos.
27 Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo».
28 Então perguntaram: «Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?»
29 Jesus respondeu: «A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou».
30 Eles perguntaram: «Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obra fazes?
31 Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: «Pão do céu deu-lhes a comer».
32 Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu.
33 Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo».
34 Então pediram: «Senhor, dá-nos sempre desse pão».
35 Jesus lhes disse: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede».

ENZO BIANCHI
Monge, teólogo e biblista italiano

EM BUSCA DO PÃO QUE SACIA PARA SEMPRE

«Quando o povo se deu conta de que Jesus não estava ali, subiu às barcas e se dirigiu a Cafarnaum em busca de Jesus». No dia anterior, o povo, ao ver o sinal da multiplicação dos pães realizado por Jesus, quis proclamá-lo rei. Jesus, então, retirou-se à montanha (cf. Jo 6,15). Opondo-se, assim, às expectativas mundanas, manifesta com clareza que ele é um Messias «diferente», que seu Reino não é deste mundo (cf. Jo 18,36).

Porém, as pessoas seguem buscando obstinadamente Jesus e, quando o encontram no outro lado do mar da Galileia, perguntam-lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?» No entanto, a verdadeira questão não é saber quando chegou Jesus, mas as motivações profundas pelas quais o buscam. O próprio Jesus dá destaque a esta diferença crucial, reorientando a «fome» do povo: «Eu vos digo que estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos». Com estas palavras, Jesus procura desviar a atenção  das pessoas da necessidade de alimento para o desejo de outro alimento: ele, que vem de Deus.

«Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará». Como acontece sempre no Quarto Evangelho [João], há de se passar da visão do sinal para a contemplação na fé de quem o realizou, Jesus, o enviado de Deus, «quem o Pai marcou com seu selo».

Ao ouvir estas palavras, o povo entra em diálogo com Jesus, porém com uma atitude equivocada, como se a salvação fosse algo que o ser humano deve conquistar realizando obras meritórias: «Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?». Jesus, então, afirma novamente que o que se pede ao ser humano é somente acolher um dom, responder com fé ao dom por excelência que o Pai concede ao mundo, o do Filho amado: «A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou».

Isso o evangelista já havia dito no encontro entre Jesus e Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo, que lhe deu seu Filho unigênito para que todo aquele que crer nele não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3,16). Esta fé nasce de escutar e obedecer a Jesus, justamente aquilo que as pessoas não conseguem realizar porque se empenham em obter dele sinais, «milagres» que se imponham e convençam pela sua grandiosidade: «Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obra fazes?». Desta vez, inclusive, os judeus revestem suas palavras de uma auréola religiosa, sagrada, evocando o acontecimento extraordinário do maná dado a Israel no deserto (cf. Ex 16,11-36). E, para tornar ainda mais solene sua petição, citam um versículo dos Salmos: «Pão do céu deu-lhes a comer» (Sl 78,24).

Jesus – ele sim – sabe escutar os seus interlocutores e, partindo das mesmas palavras deles, esforça-se por mudar seu olhar e orientar seus corações para a fé. Eles falaram do maná, e Jesus os conduz do dom ao Doador: «não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu». O maná, com efeito, era um alimento que nutria o corpo, porém era perecível. Ainda assim, para os olhos iluminados pela fé, podia ser um sinal, um sinal que remetia à realidade do pão verdadeiro: «o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo».

Neste ponto, a multidão, que parece começar a realizar o movimento interior indicado por Jesus, lhe pede: «Senhor, dá-nos sempre desse pão», da mesma maneira que a samaritana, cativada pela sua autoridade, lhe havia dito: «Senhor, dá-me dessa água, para que eu não volte a ter sede e não tenha que vir ao poço tirar água» (Jo 4,15). Em sua resposta, Jesus oferece a revelação central deste capítulo sexto: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede». Esta revelação será precisada mais tarde em um longo discurso, que meditaremos nos próximos domingos, no qual Jesus fará o grande anúncio eucarístico, concluindo-o com estas palavras: «Eu sou o pão vivo descido do céu, não como aquele que comeram vossos pais e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente» (Jo 6,51.58).

A página evangélica deste domingo nos sugere uma simples pergunta: sabemos, ainda, escutar a Jesus em profundidade e, sobretudo, deixar que seja ele quem oriente nossas buscas? Este é o modo mais concreto e cotidiano de experimentar que ele é nosso pão, nosso verdadeiro alimento, para agora e para a vida eterna.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Enzo Bianchi. Escuchad al Hijo amado, en él se cumple la Escritura: comentario a los evangelios dominicales del ciclo B. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2011, páginas 141-143.

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