«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Abusos na Igreja: é hora de agir!

Reação à carta do Papa:
palavras bonitas, mas chegou a hora de agir

Christopher White e Inés San Martín
Crux
21-08-2018 
MARIE COLLINS
Irlandesa que sofreu abuso por parte de um clérigo e
integrou comissão do Vaticano para a proteção dos menores
Embora o Papa Francisco tenha recebido elogios de sobreviventes por boas intenções depois de lançar uma carta na segunda-feira sobre a crise dos abusos [para ler esta carta do Papa, clique aqui], na qual confessou que «a Igreja não mostrou nenhum cuidado para com as crianças», a reação geral talvez pudesse ser resumida em «já ouvimos isso antes».

«Declarações do Vaticano ou do Papa devem parar de nos dizer como o abuso é terrível e passar a como todos devem ser responsabilizados», disse no Twitter a irlandesa Marie Collins, sobrevivente de abuso.

Nos fale o que você está fazendo para responsabilizá-los. É isso que queremos ouvir. “Trabalhar nisso” não é uma explicação aceitável para décadas de “atraso”», Collins twittou.

Falando ao Crux um dia antes da carta papal dirigida ao Povo de Deus, Collins disse que quando Francisco for à Irlanda de 25 a 26 de agosto, em vez de «mais desculpas», ela quer ouvir explicações e passos concretos para garantir que os bispos que acobertaram abusos sejam responsabilizados.

Em sua carta, Francisco se referiu à «dor de cortar o coração» das vítimas de abuso sexual por padres e bispos, «que clama ao céu», e que foi «por muito tempo ignorada, mantida em silêncio».

«Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade», ressaltou o Papa.

O sobrevivente chileno Juan Carlos Cruz vem denunciando seu agressor, Padre Fernando Karadima, há mais de uma década. No início do ano, Cruz estava no Vaticano, junto com outros dois sobreviventes dos agressores de Karadima, onde eles se encontraram com Francisco.

«Fico feliz que o Vaticano e o Papa estejam usando uma linguagem de “crime, delinquência, ir à justiça civil, encobrir”», disse Cruz ao Crux sobre a carta.
JUAN CARLOS CRUZ
Um dos muitos chilenos abusados pelo padre Fernando Karadima

Sistemas de justiça civil e católicos comuns usam essa linguagem há algum tempo, disse Cruz, e «como de costume, os que estão ficando para trás são os bispos».

Recentemente, o Ministério Público do Chile entrou nos arquivos de várias dioceses e da sede da Conferência Episcopal e convocou o Cardeal Ricardo Ezzati, de Santiago, para ser interrogado por suspeita de encobrimento. O interrogatório do cardeal estava programado para terça-feira, mas, a pedido da defesa, foi adiado.

«Eu tenho muita esperança nesta carta, mas o dano causado é irreparável, e não devemos deixar de ajudar as vítimas. Os bispos que continuam tentando se proteger acusando as vítimas de atacar a Igreja deveriam partir, porque esses dias acabaram», disse Cruz.

Menos conversa e mais ação, por favor

Sobreviventes não foram os únicos a reagir. Vários membros da hierarquia também se pronunciaram à carta do Papa, incluindo o arcebispo Mark Coleridge, presidente da Conferência dos Bispos da Austrália.

«Compartilhamos a determinação do Santo Padre de proteger os jovens e adultos vulneráveis», escreveu Coleridge em nome dos bispos australianos.

«Estas são palavras importantes do Papa Francisco, mas as palavras não são suficientes. Agora é a hora de ação», escreveu.
DANIEL DINARDO
Cardeal-Arcebispo de Galveston-Houston e Presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o cardeal Daniel DiNardo, de Galveston-Houston e presidente da Conferência dos Bispos, divulgou uma declaração em nome de todo o corpo dizendo que as palavras do Papa «devem provocar ação, especialmente pelos bispos».

Entre os leigos, muitos demonstraram sentimentos semelhantes.

A atriz Patricia Heaton, por exemplo, conhecida - entre outras atividades - por seu papel em Everybody Loves Raymond e que no ano passado foi mestre de cerimônias de um jantar oferecido pelo cardeal Timothy Dolan de Nova York, um herói do movimento católico pró-vida por sua franqueza contra eugenia de bebês em gestação com Síndrome de Down, foi ao Twitter para expressar sua frustração.

«Esta é a última vez que vou comentar sobre a Igreja - não me prendo a isso - eles parecem encontrar novas maneiras de causar raiva. Finalmente, recebemos uma carta do @Pontifex, que não oferece medidas ​​contra os criminosos e seus facilitadores», escreveu ela.

William Bradford Wilcox, diretor do National Marriage Project da Universidade da Virgínia, também ressaltou sua frustração, dizendo: «A menos que seja acompanhada por sanções reais pelos fracassos na liderança entre os bispos dos EUA (ou seja, a renúncia dos bispos), isso significa muito pouco @Pontifex: Nós precisamos ver uma disciplina real para aqueles no Vaticano que não fizeram nada depois de serem avisados ​​sobre McCarrick».
ANNE BARRET DOYLE
Co-diretora do bishopaccountability.org

«Eu estava esperando um plano de ação e não o encontrei. Senti como se estivesse lendo um “recorta e cola” de cartas anteriores. Não é que ele não possa se repetir, pois pensamentos importantes merecem repetição, mas acho que foi uma profunda leitura equivocada do que o povo católico esperava e desesperadamente anseia - que é um plano para acabar com isso», disse Anne Barret Doyle, co-diretora do BishopAccountability.org.

«Com a situação chilena fiquei impressionada com o que ele estava dizendo e fazendo. Pensei, estamos à beira de uma reforma sistêmica. Pela primeira vez, acreditei. Achei que iríamos ver um novo mecanismo para punir bispos e superiores religiosos, mas com essa carta parece haver uma falta de reconhecimento de seu próprio poder e responsabilidade», disse Doyle ao Crux, na terça-feira.

As crianças antes de tudo

A comissão do Papa para a proteção de menores divulgou um comunicado na terça-feira, um dia após a carta, no qual o grupo se intitula como «encorajado» pelas palavras de Francisco e pela promessa de responsabilização por encobrimento.

A professora Myriam Wijlens, membro da comissão e especialista em direito canônico, elogiou a decisão do Papa de vincular abuso sexual a abuso de poder e abuso de consciência.

«A resposta de pedir perdão e procurar reparação nunca será suficiente. Uma resposta voltada para o futuro implica pedir uma mudança radical de cultura, em que a segurança das crianças é prioridade máxima», disse Wijlens.

«Proteger a reputação da Igreja implica a segurança das crianças em primeiro lugar. Só o clero não será capaz de provocar uma mudança tão radical, nos diz o Papa Francisco em sua carta: através da humildade eles terão que pedir e receber ajuda de toda a comunidade».

Traduzido do inglês por Victor D. Thiesen. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 22 de agosto de 2018 – Internet: clique aqui.

PROPOSTA DE UM TEÓLOGO

“A Igreja não terá solução se não mudar 
o clero”

José María Castillo
Teólogo espanhol
Religión Digital
21-08-2018

Teólogo discute duas saídas para a atual crise da Igreja:
“1º) Eliminar o clero, da forma como ele hoje está 
organizado e gerido;
2º) Recuperar as ordenações "invitus" e "coactus" da Igreja antiga”
JOSÉ MARÍA CASTILLO
Teólogo espanhol

O papa Francisco acaba de publicar uma carta dirigida ao «povo de Deus», na qual denuncia os abusos sexuais que não poucos clérigos vêm cometendo contra menores de idade há vários anos. «Um crime que gera profundas e dolorosas feridas», sobretudo nas vítimas, disse o papa.

Este assunto é gravíssimo, como bem sabemos. Grave para as vítimas. Grave para aqueles que o cometem. Grave para a sociedade e para a Igreja. Por isso já foram escritos centenas de artigos e muitos livros alertando sobre o perigo que tudo isso implica. E oferecendo soluções de todo tipo. Não irei discutir agora quem tem razão – e quem não tem – na análise e solução deste enorme problema. Quem sou eu para isso?

Só acredito que posso (e devo) dizer algo que me parece fundamental. O papa Francisco não hesita em dizer que o «crime», que são os mencionados abusos sexuais, foi cometido «por um notável número de clérigos e pessoas consagradas». Mas, quando se refere às consequências, o próprio papa afirma que «o clericalismo, seja favorecido pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma cisão no corpo eclesial». Ou seja, o clericalismo partiu a Igreja, destruiu-a. E uma Igreja quebrada, acaba rompendo até as consciências dos culpados e a vida dos mais frágeis.

Falar de «clero» não é a mesma coisa que falar de «clericalismo». O dicionário da RAE [Real Academia Espanhola] diz que «clericalismo» é a «intervenção excessiva do clero na vida da Igreja, que impede o exercício dos direitos dos demais membros do povo de Deus». O papa faz bem em responsabilizar, não tanto ao «clero», mas mais propriamente ao «clericalismo». E digo que o papa tem razão, ao utilizar esta distinção linguística, porque sabemos muito bem que, se falamos de «clero», não se pode generalizar. Pelo mundo todo, há «homens de Igreja» (clérigos) que são pura e simplesmente exemplares e até heroicos.

Outra coisa é se falamos de «clericalismo». Porque a teologia e o direito eclesiástico são pensados e geridos de forma que «inevitavelmente» todo «homem de Igreja», que não seja um santo ou um herói, acaba exercendo o mais refinado e talvez brutal «clericalismo». Pela simples razão de que, se cumpre com o que a «teologia» e o «direito» da Igreja lhe impõem, não tem alternativa a não ser «impedir o exercício dos direitos dos outros». Por exemplo, tem que impedir que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens. E assim, tantas e tantas outras coisas.

Isso tem solução? Claro que tem. O termo «clero» significa «sorte», «herança», «benefício». Segundo o Evangelho, Jesus não fundou nenhum «clero», nesse sentido. Pelo contrário. O que mandou a seus apóstolos é que fossem os «servidores» dos demais. Até os proibiu que, para difundir o Evangelho, levassem dinheiro, mochila ou economias.

Tinham que seguir pela vida lavando os pés dos outros, como se sabe que faziam os escravos. Tornar-se padre não é fazer carreira, não é subir na vida e na sociedade. Tornar-se padre é viver o Evangelho tal e como Jesus mesmo viveu. Ou seja, é assumir uma forma de presença na sociedade, como a que Jesus assumiu. Uma forma de vida que lhe custou a própria vida.

Então, isso tem conserto?
Claro que tem. Mas supõe e exige dois passos, que são (ou seriam) muito difíceis de assumir:
1º) Eliminar o clero, da forma como ele hoje está organizado e gerido.
2º) Recuperar as «ordenações» «invitus» e «coactus» da Igreja antiga.

Estes dois termos latinos significam que eram «ordenados» ministros da comunidade cristã, não aqueles que desejavam ou pediam, mas os que não queriam. Ou seja, os que eram eleitos pelo povo, em cada diocese e em cada paróquia.

Isso é o que mandavam os sínodos e concílios. E foi uma prática que durou séculos. De maneira que inclusive os grandes teólogos escolásticos dos séculos XII e XIII discutiam ainda sobre este assunto. Assim demonstrou, com ampla e séria documentação, o professor Yves Congar (em Revue des Sciences philosophiques et théologiques, vol. 50 [1966] 161-197).
Primeira página do artigo de Yves Congar citado pelo autor

Já estou terminando. Mas não posso me calar diante disso: Enquanto «se tornar padre» significar «fazer carreira», a Igreja continuará partida. E, além disso, continuará perdendo espaço na sociedade. E o que é mais grave: uma Igreja, na qual seus padres são homens que buscam (talvez sem se darem conta do que fazem) um «status social» elevado e, sobretudo, buscam ter uma sólida «segurança econômica», a Igreja continuará quebrada, nela se seguirão cometendo abusos (não só sexuais) e, para completar, o inevitável clericalismo continuará ocultando o mundo obscuro do clero que, como os sacerdotes e mestres da lei do tempo de Jesus, continuará vivendo na «hipocrisia» que tão duramente denunciou o próprio Jesus de Nazaré.

Traduzido do espanhol por Graziela Wolfart. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 22 de agosto de 2018 – Internet: clique aqui.

PROPOSTA DE UMA TEÓLOGA

Mudança real contra abuso começa com estrutura dos leigos e clero da Igreja

Mary E. Hunt*
Teóloga norte-americana
National Catholic Reporter
21-08-2018

O suposto e reiterado abuso de poder de Theodore McCarrick sobre os subordinados (não esquecendo um caso de abuso de menor, mas concentrando nos casos relacionados ao trabalho no momento) aumenta o espectro do clericalismo e clama por mudança.

O teólogo e padre Bryan Massingale concorda com o cardeal de Chicago Blase Cupich que o sentimento de ter direitos que prevalece entre alguns homens ordenados poderiam levar a comportamento de exploração. Ambos concordam que a questão não é se os homens são gays ou hetero (ou, devo acrescentar, algo além desse quadro binário), mas se têm, em virtude de seu status clerical, acesso a privilégio e poder dentro da comunidade eclesiástica que podem livrá-los de prestar contas.

Massingale e Cupich citam que o clericalismo é o problema. Eu concordo até certo ponto, mas acho que o problema é mais profundo, na verdade está localizado na base, enraizado na bifurcação entre clérigos e leigos que embasam a instituição Católica Romana.

Esta estrutura de cima para baixo, dividida entre clero e leigos, condiciona relacionamentos e funções na Igreja. O Catecismo da Igreja Católica diz que a ordenação «confere um caráter espiritual indelével» a um padre que «não pode ser repetido nem conferido para um tempo limitado», que «fica para sempre» (n. 1583). O padre é considerado ontologicamente diferente do leigo. Seu lugar na estrutura hierárquica reflete essa diferença. Seus papéis como celebrante sacramental e tomador de decisões são contingentes.

Além disso, em dioceses e ordens, a instituição que paga, alimenta e inclusive o enterra é construída para manter o bem-estar da instituição e de si próprio; espera-se que tenha lealdade semelhante à instituição.

Não admira que os bispos e superiores tenham transferido, acobertado e protegido os criminosos do clero. É simplesmente assim que o sistema funciona, não é um caso raro e anormal como eu esperaria que algum participante honesto poderia dizer. O desastre da Pensilvânia é prova disso. Mas é possível mudar. Mesmo que todos os bispos dos Estados Unidos renunciassem (ou tivessem de sair) e fossem substituídos por outros clérigos, prevejo que pouco melhoraria. A estrutura é o problema, não apenas os indivíduos que cometem erros, e estruturas podem mudar.

A ordenação é a linha vermelha brilhante de divisão deste esquema. Imagine uma pirâmide com uma linha um pouco abaixo do topo, que é onde está o clero no sistema eclesiástico. Os números estão bem abaixo de 1% dos bilhões de católicos, mas este sistema acaba dividindo a comunidade em estratos muito desiguais.
ELISABETH SCHÜSSLER FIORENZA
Teóloga bíblica feminista norte-americana

A teóloga bíblica feminista Elisabeth Schüssler Fiorenza convenientemente chamou isso de «kiriarcado» para sinalizar as muitas formas de "domínio" dos que têm privilégios de raça, gênero, classe, entre outros, e também, nesse caso, clerical. O que está em questão é a estrutura e não apenas o abuso; o sistema clerical/leigo, não apenas o clericalismo.

O caso McCarrick deixa isso muito claro. Como observou o padre jesuíta Thomas Reese, «a punição eclesial normal para sacerdotes que abusam de crianças é a expulsão (excomunhão) do sacerdócio».

Em outras palavras, o pior que pode acontecer a McCarrick é ser excomungado, ou seja, ter de deixar o pedestal clerical.

Sendo claro, por suas muitas e variadas acusações de transgressão, o pior que pode acontecer é ele passar a ser como a maioria de nós, devendo viver de forma decente sem o status clerical. Ele será de novo o que era quando foi batizado: leigo.

Ouso dizer que há destinos piores e punições mais severas.

Claro que para os sacerdotes excomungados há outras consequências, principalmente de questões econômicas e reputação. Mas as raízes de todos estão na mesma estrutura.

A linguagem usada pela Congregação para a Doutrina da Fé não é ao acaso na redação das normas para «redução [ênfase nossa] ao status de leigo, dispensando das obrigações ligadas à ordenação sagrada». É para isso que serve. Tenho certeza de que é assim que seria recebido por pessoas como McCarrick, cujas décadas de acesso irrestrito às crianças, presunção de virtude pessoal sem provas e incontáveis oportunidades de se envolver em discurso religioso, político e social os condiciona a sentidos irrealistas de si mesmos.

Mas quando tudo isso acabar, em círculos religiosos, grande parte dos crimes hediondos e dos terríveis atos de má fé dos sacerdotes farão com que voltem ao status de leigos, com o qual o resto das pessoas vive a vida inteira. Algo está muito errado neste panorama.
THEODORE McCARRICK
Ex-cardeal e arcebispo de Washington - Estados Unidos

Não é a minha intenção acusar e condenar Theodore McCarrick (agora cuidadosamente chamado «arcebispo» em vez de «cardeal» pelos colegas eclesiásticos, um lembrete sutil de que perdeu apenas o título a que renunciou, não seu privilégio eclesiástico, como o direito a vale-refeição). Pelo contrário, quero indiciar todo o sistema eclesiástico que cria as condições para tal desigualdade. O sistema é injusto para todos, embora de forma diferente dependendo da posição, incluindo até mesmo McCarrick na velhice.

A boa notícia é que não começamos do zero a construir o catolicismo pós-moderno. Muitos grupos — de base e/ou comunidades eucarísticas, grupos religiosos de mulheres, capítulos do Dignity, entre outros — têm experimentado novas formas de ser Igreja por décadas. A teologia sacramental e a eclesiologia necessárias para desmantelar o sistema hierárquico e substituí-lo por estruturas igualitárias, globalmente conectadas e com bases funcionais de acordo com o Evangelho já consta na literatura.

Esses novos modelos suprem as necessidades dos católicos da atualidade e, se houver algum, dos católicos do futuro. Seria um legado digno dos melhores momentos de McCarrick como ser humano sem apagar seus pecados como clérigo. E poderemos verdadeiramente receber a todos cantando «All Are Welcome» [tradução: Todos são Bem-Vindos].

Traduzido do inglês por Luísa Flores Somavilla. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

* MARY E. HUNT é teóloga feminista e co-fundadora e co-diretora da Women's Alliance for Theology, Ethics and Ritual (WATER), em Silver Spring, Maryland.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 22 de agosto de 2018 – Internet: clique aqui.

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