A vez de um capitalismo responsável
“Nunca
mais lucros sem uma ética”
Ettore Livini, Holger
Zschaepitz e Pierre Veya
Jornal «La Reppublica» – Roma – Itália
18-12-2019
Entrevista
especial com Klaus Schwab
Engenheiro
alemão, fundador e diretor do Fórum Econômico Mundial
Surge uma forte
reação ao neoliberalismo extremo e
o impulso aos máximos
lucros que deixaram por trás de si
“uma sensação de
falta de justiça social”
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KLAUS SCHWAB |
Os
populismos europeus e as revoltas na América do Sul são "uma
contrarreação ao neoliberalismo extremo e o impulso aos máximos lucros"
que deixaram por trás de si "uma sensação de falta de justiça
social". E para combater as desigualdades é necessário abrir a era do "capitalismo responsável". Um sistema em
que as empresas "não são apenas um fator econômico, mas organismos
sociais". Julgadas não apenas por seus lucros, mas também
"medindo os efeitos negativos e os custos externos de seus produtos para
incentivar investimentos responsáveis que respeitem o meio ambiente e a
coesão social".
As palavras
de Klaus Schwab têm um peso específico importante. O engenheiro alemão
de 81 anos é o fundador e diretor do Fórum Econômico Mundial. E há meio
século é o organizador e a alma do "Fórum de Davos", em que os
políticos e empresários mais poderosos do mundo convergem a cada ano para fazer
uma avaliação sobre o estado de saúde do mundo.
Eis a
entrevista.
Como
o mundo mudou desde que, há 50 anos, se iniciaram os encontros de Davos?
Klaus
Schwab: Hoje é muito mais perigoso e imprevisível. Em 1971,
convivíamos com a Guerra Fria e um sistema bipolar em uma espécie de conflito
congelado. Agora, vivemos em um planeta frágil, com muitas tensões onde
pequenos centros de poder - estados e outros - são capazes de usar a força de
maneira mais assimétrica, causando muito mais dano com meios relativamente
limitados. Basta pensar nos últimos mísseis lançados pelo Irã na Arábia
Saudita.
É um
mundo também caracterizado por fortes tensões sociais, pelo retorno de
populismos e dos protestos de rua como na França e na América do Sul. Quanto
pesa o problema das desigualdades sobre esses fenômenos?
Klaus
Schwab: Existe uma sensação evidente de falta de justiça social,
acentuada pelo boom das mídias sociais. É uma reação ao liberalismo extremo
e ao impulso para a maximização dos lucros. No passado, era possível
justificar a globalização sem limites, alegando que produzia mais vencedores
que vencidos. E, de fato, é preciso ser dito, arrancou milhões de pessoas da
pobreza. Mas hoje o pêndulo está voltando. Graças à web, existe uma
nova consciência de que o acesso à saúde, escolas e condições de vida decentes
para todos é fundamental. Ninguém pode ser deixado para trás. E aqueles que
ficam para trás têm a capacidade de se mobilizar facilmente, como mostram os
coletes amarelos.
Qual
é a vossa resposta a essas tensões?
Klaus
Schwab: É o “stakeholder capitalism” [trad.: capitalismo
das partes interessadas] de que falamos no novo manifesto de Davos. As
empresas não são apenas realidades econômicas, mas também organismos sociais.
E não devem ser julgadas apenas pelos lucros, mas também medindo os efeitos
negativos e os custos externos de seus produtos. Calculando os danos ambientais
que criam ou quanto promovem de inclusão e a justiça social.
É
possível encontrar uma fórmula contábil para diferenciar empresas
"boas" daquelas menos atentas ao mundo ao seu redor?
Klaus
Schwab: Estamos tentando. Não vai ser fácil, vai levar anos. Mas o
objetivo é ter essa ferramenta para permitir aos investidores apoiar apenas
empresas e projetos que se comportem de maneira socialmente responsável.
Inclusive os países individuais não deveriam ser julgados apenas pelo PIB. Para
entender melhor o desempenho de uma nação, é necessário adicionar parâmetros
que considerem o bem-estar de seus cidadãos.
CRISE ECONÔMICA DE 2008 - COMO ACONTECEU |
O
mundo aprendeu a lição da crise de 2008?
Klaus
Schwab: Não, é uma das minhas principais preocupações. Desde a
década de 1970, bancos e finanças perderam todo contato com a economia real.
Evitamos o pior, mas ainda não pagamos por completo a conta pela salvação do
mundo da quebra global. As dívidas mundiais dobraram, temos taxas negativas.
E não sabemos como sair dessa armadilha. Se aumentarmos as taxas, corremos
o risco de explodir uma avalanche de títulos societários. A chuva de liquidez
dos bancos centrais não aumentou a rentabilidade, que permaneceu estável. O
mesmo discurso vale para o estímulo fiscal do Japão ou os impostos mais baixos
de Donald Trump, que não incentivaram os investimentos, mas aumentaram
os buy-back no mercado de ações. Estamos caminhando em direção a um
futuro nebuloso para as políticas econômicas.
O
Fórum Econômico Mundial é considerado o templo da globalização. O que você acha
da guerra de impostos?
Klaus
Schwab: Eu nunca fui favorável de uma globalização aberta e sem coração.
Precisamos encontrar um equilíbrio entre a abertura do mercado e a necessidade
de salvaguardar a coesão social. Sem coesão social, não há democracia.
Davos
celebrará seu 50º aniversário em 2020. O lema do Fórum Econômico Mundial é
"tornar o mundo um lugar melhor". Vocês conseguiram?
Klaus
Schwab: É importante ter objetivos ideais para enfrentar situações
específicas. Trabalhamos para reduzir o plástico nos oceanos, para promover a
igualdade de gênero. E temos um impacto. A Aliança Gavi, por exemplo, nascida
há 20 anos em Davos, permitiu vacinar 700 milhões de crianças, salvando 14
milhões de vidas.
Traduzido
do italiano por Luisa Rabolini.
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