Solenidade da Santa Mãe de Deus – Ano A – Homilia

Evangelho: Lucas 2,16-21

Naquele tempo:
16 Os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura.
17 Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino.
18 E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam.
19 Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração.
20 Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito.
21 Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido.

José María Castillo
Teólogo espanhol

Nas relações humanas se dão as relações com Deus

A originalidade do cristianismo, em relação com as demais religiões, consiste em que os cristãos entendemos a relação com Deus a partir do que são e como são as nossas relações humanas. Pois bem, nossa primeira relação, como seres humanos, é a relação com nossa mãe. Desde o seio materno, antes de nascer, estamos nos relacionando intensamente com nossa mãe. E assim, aprendemos a amar e a ser amados. O qual é o meio e o caminho pelo qual começamos a entender Deus e como deve ser nossa relação com Ele.

Ao dizer tudo isso, não se trata de dissolver a diferença entre o «Ser divino» e o «ser humano». Porque isso equivaleria a cair em uma forma (mal dissimulada) de ateísmo ou (a partir de outro ponto de vista) de panteísmo. Com semelhantes distinções não iremos a parte alguma. Não falamos do ser do homem e do ser de Deus. Estamos falando de como tem que atuar (comportar-se) o ser humano para encontrar-se com o «Ser divino». Relacionar-se com Deus não é divinizar-se, mas ao contrário: humanizar-se. Na medida em que nos fazemos mais humanos, mais próximos estamos do divino. Porque, na «ENCARNAÇÃO», Deus «SE HUMANIZOU», em Jesus.

No pensamento da Antiguidade, o tema predominante era o problema do Ser (a metafísica). Na cultura da Modernidade e da «Pós-modernidade», na qual vivemos, é o comportamento (a ética). De modo que, o importante agora não é o «Ser», mas o «Atuar». Por isso, no comportamento é onde e como conhecemos quem é cada um. Quando tal comportamento (seus «fatos», seus «frutos») supera o que dá de si a condição humana, quem se comporta assim, é que é mais que um ser humano.

E, na medida em que se aproxima disso, pode-se afirmar que Deus está nessa pessoa. Por isso, os cristãos dizem que, em Jesus, conhecemos Deus, vemos Deus, apalpamos Deus. E isto chega até ao extremo de afirmar que Deus teve Mãe. Nisto – há que se repetir – encontra-se a originalidade e a atualidade do cristianismo.
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José Antonio Pagola
Biblista e Teólogo espanhol

A Mãe

A muitos pode parecer estranho que a Igreja faça coincidir o primeiro dia do novo ano civil com a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. No entanto, é significativo que, desde o século quarto, a Igreja, depois de celebrar solenemente o nascimento do Salvador, deseje começar o ano novo sob a proteção maternal de Maria, Mãe do Salvador e Mãe nossa.

Os cristãos de hoje devemos nos perguntar o que temos feito de Maria nestes últimos anos, pois provavelmente empobrecemos nossa fé eliminando-a, demasiadamente, de nossa vida!

Movidos, sem dúvida, por uma vontade sincera de purificar nossa vivência religiosa e encontrar uma fé mais sólida, abandonamos excessos de piedade, devoções exageradas, costumes superficiais e extraviados.

Tratamos de superar uma falsa mariolatria na qual, talvez, substituíamos Cristo por Maria e víamos nela a salvação, o perdão e a redenção os quais, na realidade, devemos acolher a partir de seu Filho.

Se tudo foi corrigir desvios e colocar Maria em seu autêntico lugar que corresponde ao de Mãe de Jesus Cristo e Mãe da Igreja, teríamos de nos alegrar e reafirmar a nossa postura.

Porém, foi exatamente assim? Não a esquecemos excessivamente? Não a encurralamos em algum lugar obscuro da alma junto às coisas que nos parecem de pouca utilidade?

Abandonar Maria, sem aprofundarmos mais em sua missão e no lugar que deve ocupar em nossa vida, não enriquecerá jamais nossa vivência cristã, mas a empobrecerá. Provavelmente, cometemos excessos de mariolatria no passado, porém, agora, corremos o risco de nos empobrecermos com sua ausência, quase total, de nossas vidas.

Maria é a Mãe de Cristo. Porém, aquele Cristo que nasceu de seu seio estava destinado a crescer e incorporar a si numerosos seres humanos, homens e mulheres que viveriam, um dia, de sua Palavra e de sua graça. Hoje, Maria não é somente a Mãe de Jesus. É a Mãe do Cristo total. É a Mãe de todos os crentes.

É bom que, ao começar um ano novo, o façamos elevando nossos olhos para Maria. Ela nos acompanhará ao longo dos dias com cuidado e ternura de mãe. Ela cuidará de nossa fé e nossa esperança. Não a esqueçamos ao longo deste ano.

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: CASTILLO, José María. La religión de Jesús: comentario al evangelio diario – Ciclo C (2018-2019). Bilbao: Editorial Desclée De Brouwer, 2018, páginas. 41-42; PAGOLA, José Antonio. La Buena Noticia de Jesús – Ciclo A. Boadilla del Monte (Madrid): PPC, páginas 32-34.

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