Demorou, mas a verdade vai se impondo!
Bolsonaro,
quem é e quem sempre foi
Vera Magalhães
Caso Flávio explicita
todos os vícios de um ano de governo
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JAIR BOLSONARO Anda irritado com perguntas sobre as investigações sobre seu filho Flávio |
As
revelações espantosas do Ministério Público do Rio de Janeiro explicitam todos
os vícios da carreira de Jair Bolsonaro, apontados pela imprensa desde a
campanha, mas ignorados pelo eleitorado, e também os de seu primeiro ano de
mandato, igualmente assinalados pelo jornalismo profissional, já aceitos por
uma parcela do mesmo eleitorado, mas ignorados (até aqui) pelo núcleo duro da
militância bolsonarista e por setores da elite liberal. Vamos a eles, em
pequenos bombons:
1.
Bolsonaro nunca foi baluarte anticorrupção.
Trata-se de
uma construção recente essa do Bolsonaro lavajatista. Em sua carreira, o
deputado do baixo clero sempre esteve mais voltado às pautas corporativas
[sempre se voltou aos militares], a fazer da política um negócio em
família e a chocar com opiniões ofensivas que em combater a
corrupção. Nunca integrou nenhuma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI). Nunca foi do Conselho de Ética. Sempre criticou o
Ministério Público. E, agora se sabe, praticou aquilo que sempre
condenou na “velha política”.
2.
Misturar política e família não tem nada de nova política.
Os
Bolsonaro se instalaram no poder sem nenhuma cerimônia. Na campanha, os filhos
deram as cartas. Na posse, Carluxo se aboletou de carona no Rolls-Royce, numa
das cenas mais emblemáticas desta era. Bolsonaro disse que daria o “filé” aos
filhos, que um podia ser ministro e outro, embaixador em Washington. Juntos, os
quatro amealharam patrimônio milionário tendo sido só políticos na vida. E,
agora se apura, muito desse patrimônio pode ter vindo da prática de
“rachadinha” e da existência de funcionários fantasmas. A imprensa mostrou
na campanha. O eleitor fechou os olhos deliberadamente.
3.
Decoro e liturgia do cargo importam.
O
presidente, com o filho pilhado num escândalo que mistura laranja com
chocolate, se descontrolou na frente do Alvorada. Em sua tradicional
“paradinha”, em que fala de improviso a jornalistas com a claque de apoiadores,
ofendeu repórteres e passou um recibo ao vivo, pelas redes sociais, de
que o caso assombra o clã. Ao presidente da República cabe prestar
contas, e não dar piti. Comunicação improvisada dá nisso, como sempre alertaram
aqueles que têm bom senso. Apelar à comunicação direta como forma de populismo
pode parecer boa ideia aos filhos idólatras e aos puxa-sacos aboletados em
cargos públicos, mas expõe o governante. Bolsonaro sem filtro é isso aí.
4.
Paranoia e mania de perseguição são passaporte para o autoritarismo.
Um
presidente que não se vexa em acusar um ex-ministro, sem nenhuma evidência
possível, de integrar um complô para matá-lo, não tem mais nenhum compromisso
com os fatos e com as obrigações que o cargo lhe impõe. Está, portanto, a um
passo de se mostrar disposto a tudo no combate a inimigos imaginários cada vez
mais abundantes e espalhados. Cabe às instituições, como venho repetindo
aqui e não me cansarei de lembrar quantas vezes precisar, dar um freio aos
ímpetos persecutórios e claramente autoritários do presidente.
5.
Relação com milícias coloca em xeque o discurso liberal de que a economia
justifica tudo.
Na
quarta-feira escrevi que, a despeito de ser um recordista de impopularidade,
Bolsonaro seria favorito em 2022 se a economia seguisse crescendo, ainda que
devagar. Eduardo, o 03, tirou onda, querendo desviar o foco do irmão
chocolatier. Pois a impopularidade está confirmada, mas o favoritismo será
fortemente abalado se o mito de pés de barro ficar nu, como já está ficando. Além
de laranjal e rachadinha, o caso Flávio & Queiroz tem tudo para deixar
ainda mais patente uma explosiva relação do clã com as milícias
do Rio. Algo que será difícil até para a elite liberal, disposta a
fechar os olhos para tudo em nome da agenda econômica, engolir.
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