«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 14 de novembro de 2021

Padres que se suicidam, por quê?

 O clero do pré-Trento e o clero do século XXI

 José Rafael Solano Durán

Padre da Arquidiocese de Londrina, no Paraná. Possui graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Javeriana, Bogotá, Colômbia (1995). Mestre e Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (2004). Pós-Dourado em Teologia Moral e Familiar no Instituto para a Família Giovanni Paolo II, em Roma, Itália. 

Falta espiritualidade, estudo, real interesse pelos problemas do mundo e, especialmente, amizade sincera entre os padres

Ernest Renan, um dos maiores historiadores franceses, tinha muita razão quando afirmava: “O homem encontra santidade naquilo que crê e beleza naquilo que ama”. 

Muito tem-se refletido ultimamente sobre o suicídio no clero do Brasil. Vale a pena afirmar que não só no clero brasileiro há suicidas. O suicídio é uma das realidades mais angustiantes da sociedade contemporânea. Seja como for, quero me limitar única e exclusivamente ao meio ao qual pertenço. 

Sou e faço parte do clero. Uma das situações que me levam a pensar na triste realidade que vivemos é que muitos de nós perdemos o encanto, a alegria e ofuscamos a beleza do nosso ministério. Aqui, já há um problema de base. Como recuperar aquele primeiro amor, o qual o apóstolo Paulo já nos convidava constantemente a resgatar e manter. Presbíteros, diáconos e bispos desencantados! Homens que já não se sentem mais atraídos por nada e muito menos por ninguém. Neste caso, por Cristo. Para muitos, fazer parte do Clero é muito mais do que um problema, um dilema. Homens capazes de pensar e refletir, mas incapazes de decidir!

Quem não sabe decidir perde o horizonte do fundamental e chega a um ponto no qual situações inesperadas o absorvem, se tornando simplesmente alguém que vive segundo as decisões dos outros.

Muitos presbíteros, diáconos e bispos carecem do senso moral da objeção de consciência. Fazem opções contra a sua própria dignidade e capacidade.

Para muitos, ficar “bem na foto” significa só se adaptarem às ideologias do momento:

a) Há quem use batina porque um padre ou bispo “pop” numa frase do seu Instagram afirma que a batina não é fantasia.

b) Há quem use calça jeans e camiseta justa porque é chamado de padre moderno e bonito;

c) há quem faça dieta porque precisa reafirmar sua figura e

d) há quem tem pânico de envelhecer e inventa todos os tratamentos possíveis para fazer parte do mundo dos cosméticos e das propagandas de beleza.

e) Isso sem contar quando, como eu, deixamo-nos levar pela moda litúrgica! Exageradamente, o Brasil se transformou numa plataforma comercial das empresas litúrgicas e do comércio de belos paramentos e objetos... 

Um clero insatisfeito quase que desde o dia da ordenação. “A minha ordenação deve ser diferente de todas aquelas que já assisti”; e então aquele homem prostrado no chão vira motivo de curtidas e aplausos. Meses depois, o neopresbítero deve fazer vestibular e ingressar na faculdade mais próxima, porque os dez anos de estudo no processo formativo não foram suficientes para que a sua inteligência se desenvolvesse o suficiente. Um Clero que muitas vezes não quer aceitar a necessidade de se aproximar das realidades do mundo para influenciar e questionar, mas que se torna escravo e dependente do mundo para viajar e gastar. 

Muitos criticam a nossa sexualidade. Há quem afirme que somos uma imensa maioria de homens anormais. Já o disseram para mim inúmeras vezes.

Penso que a maior doença sexual e afetiva que temos no clero é que nós, membros do mesmo clero, não acreditamos no dom sobrenatural da amizade.

A castidade cristã nos ajudaria a sermos amigos entre nós! “Sacerdos lupi sacerdotum” = Somos lobos nos devorando uns aos outros. Ter amigos sacerdotes é a maior dádiva para os nossos leigos; mas entre nós não é assim. Vivemos sob suspeita, não podemos viajar juntos, sair juntos, caminhar juntos e pedirmos para rezar juntos! Que anacronismo. Precisamos romper as barreiras dos medos e dos preconceitos e acreditar na castidade. Sem ela não superaremos nosso egoísmo e carreirismo desenfreado. 

Os sacerdotes do século XXI temos muitos mais problemas dos que já tinham os sacerdotes antes do concílio de Trento. Antes de Trento, faltava formação acadêmica, algo de disciplina e maior entrosamento com o mundo. Mas antes de Trento os membros do clero eram homens unidos ao seu bispo e aos seus irmãos. Pode ser questionada a situação do alto e do baixo clero vivido antes de Trento; mas o mesmo Carlos Borromeu e, posteriormente, Jean J. Olier, Jean Eudes, Vincent de Paul, nos séculos sucessivos fortaleceram a formação e deram grandes luzes para ajudar o clero. 

Não serão as confraternizações de natal e de aniversário aquelas que nos tornarão mais irmãos; não serão os retiros anuais ou as reuniões mensais aquelas que nos ajudarão a sermos e permanecermos mais unidos à Igreja Particular ou ao carisma dos fundadores.

Só um encontro constante com AQUELE que nos chamou e nos fez membros do seu Corpo nos tornará verdadeiros irmãos.

Aproximemo-nos uns dos outros em Cristo; só assim não teremos mais suicídios, quer em vida ou em fato… nove foram os suicídios do clero no nosso Brasil, mas penso que haja mais de nove vivos que já se suicidaram. 

Fonte: Redes sociais.

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