O governo “compra” os deputados que precisa

 PEC dos precatórios rachou a esquerda e mostrou a dubiedade e fragmentação do centro para 2022

 Eliane Cantanhêde

Jornalista 

ARTHUR LIRA, presidente da Câmara dos Deputados trabalhou incansavelmente para a aprovação da PEC DA REELEIÇÃO, melhor nome para a PEC dos Precatórios

Para o presidente, o que interessa é que a PEC cria recursos para Bolsonaro financiar a troca do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, com R$ 400 e tentar conquistar os mais pobres!

A Proposta de Emenda Constitucional que cria um calote nos precatórios e implode o teto de gastos para comprar votos para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro serve como uma prévia para as eleições de 2022 e...

... mostra como o Congresso só pensa nas suas emendas e os partidos estão infiltrados pelo bolsonarismo.

PEC dos precatórios ou PEC da Reeleição? 

A votação rachou a esquerda e mostrou a dubiedade e a fragmentação do centro, comprovando que o PT não arrasta os votos de velhos aliados, caso do PDT e do PSB, e que nem os partidos de centro que têm candidatos contra Bolsonaro fecham as portas para ele. 

Para o presidente, o Planalto e os tais “ministros políticos”, pouco importa o impacto na Bolsa, no câmbio, na segurança jurídica, na própria credibilidade do País. O que interessa é que a PEC cria recursos para Bolsonaro financiar a troca do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, com R$ 400. 

A intenção é torrar as leis e a responsabilidade fiscal para garantir o “seu” programa de renda durante o ano eleitoral. A conta é salgada: para aprovar a PEC, foi preciso jorrar mais dinheiro ainda para as emendas parlamentares.

Mas o bônus vale a pena: comprar votos do eleitorado mais fiel ao ex-presidente Lula, entre os mais pobres e menos escolarizados, especialmente no Nordeste.

Que partidos temos neste país!!! 

Dito tudo isso, por que a PEC rachou a esquerda, a oposição e a “terceira via”? Foi aprovada em primeiro turno na Câmara com ajuda de gordas parcelas de PDT, PSB, PSDB, PSD, DEM e PSL. O que pesou foi a gula por mais emendas, o apoio velado a Bolsonaro, ou as duas coisas? 

Ainda falta o segundo turno na Câmara e dois turnos no Senado. Como a diferença na primeira votação foi de apenas quatro votos, o destino é incerto e não sabido.

O certo e sabido é que, enquanto lançam candidatos, ou “candidatos”, os partidos de centro não descartam Bolsonaro.

Exemplo: o PSD lança o senador Rodrigo Pacheco, mas negocia com Lula e dá 29 dos seus 35 votos da Câmara à PEC da Reeleição. Um pé em cada canoa. E o União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL? Segundo levantamento do repórter Lauriberto Pompeu, 56 dos seus 88 deputados defendem o apoio ou admitem apoiar a reeleição de Bolsonaro. 

Placar final da votação em 1º turno da PEC dos Precatórios - votação apertada

Bem... se é possível o presidente negar a ciência na pandemia, no ambiente, na vida e na morte e ganhar uma medalha do mérito científico, se confunde John Kerry com o humorista Jim Carrey, se chama a Torre de Pisa de Torre da Pizza e seus apoiadores dentro e fora do Congresso acham natural, até bacana, tudo é possível no Brasil. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Sexta-feira, 05 de novembro de 2021 – Pág. A12 – Internet: clique aqui (Acesso em: 05/11/2021).

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