«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Interesses obscuros

 Não estamos em uma nova Guerra Fria

 Fareed Zakaria

Jornalista e Colunista do “Washington Post” 

GENERAL MARK MILLEY

Interdependência econômica e mundo mais conectado dificultam uma nova Guerra Fria

Estamos testemunhando outro momento Sputnik? O Financial Times noticiou que a China testou um míssil hipersônico em agosto, apesar de Pequim negar. O general Mark Milley, chefe do Estado-maior Conjunto dos Estados Unidos, comparou o teste àquele momento crucial da Guerra Fria:Não sei se este é exatamente como o momento Sputnik”, afirmou, “mas acho que é bem perto disso”. 

Milley deveria tirar a poeira de seus livros de história. O teste chinês não tem nada em comum com o Sputnik, e fazer uma afirmação como essa alimenta uma perigosa paranoia que tem crescido em Washington ultimamente. 

Para recordar, a União Soviética lançou o Sputnik, o primeiro satélite artificial a orbitar o planeta, em 4 de outubro de 1957. Tanto os EUA quando a URSS planejavam, havia anos, lançar satélites ao espaço sideral, e o fato de que Moscou atingiu a façanha primeiro foi um grande choque para os americanos. Lançado num contexto de múltiplos testes nucleares soviéticos, o Sputnik sinalizou que, na próxima fronteira, o espaço sideral, os soviéticos estavam à frente. 

O Sputnik revolucionou a corrida espacial. Mísseis hipersônicos, por outro lado, são notícia velha. Um míssil hipersônico viaja a uma velocidade cinco vezes superior à do som, ou até mais rápido. A partir de 1959, EUA e URSS lançaram mísseis balísticos intercontinentais (MBIC) que atingiram velocidades 20 vezes superiores à do som.

SPUTNIK (foto): foi o primeiro satélite artificial a ser lançado e posto em órbita com pleno sucesso. Marcou o início da Era Espacial, propriamente dita. Isso ocorreu no dia 4 de outubro de 1957. Era em formato esférico e pesava cerca de 83 quilos
Até os foguetes alemães V-2, lançados pela primeira vez contra Paris, na fase final da 2.ª Guerra, atingiam velocidades próximas às hipersônicas. Cameron Tracy, cientista da Universidade Stanford e especialista no assunto, ressaltou que armas hipersônicas não são nem mais velozes nem mais furtivas do que os MBICS. E a propósito, o míssil chinês errou o alvo por cerca de 38 quilômetros. 

Como nota o escritor e jornalista Fred Kaplan, é impossível que esse teste tenha sido uma tentativa da China de neutralizar o vasto sistema de defesa aérea dos Estados Unidos. Mas esse sistema, ressalta ele, é um dispendioso elefante branco que fracassou em três dos seis testes mais recentes, apesar das centenas de bilhões de dólares que já consumiu até hoje. 

Talvez seja por isso que o Pentágono não tenha realizado nenhum teste com esse sistema desde março de 2019. Mesmo se o sistema tivesse mira perfeita, ele ainda poderia se mostrar inútil diante de ações menores e assimétricas, tais como simplesmente disparar dois mísseis simultaneamente. 

Não esperem, porém, que ciência e fatos exerçam muita influência sobre essa discussão. Isso porque existe atualmente um consenso bipartidário em Washington:

estamos nos aproximando perigosamente de uma nova Guerra Fria.

Para o Pentágono, isso representa uma oportunidade: alimentar o medo de um inimigo poderoso e hábil tecnologicamente é uma maneira infalível de garantir novos orçamentos gigantescos, que podem ser gastos em respostas a toda e qualquer movimentação do inimigo, real ou imaginada. 

Essa sensação transcende Washington. A Foreign Affairs publicou um ensaio de um acadêmico famoso por seu realismo, John Mearsheimer, que repreendeu os formuladores de políticas americanos por se envolver com a China ao longo das últimas quatro décadas. 

Ele prevê que nosso encorajamento ativo em relação à China, enquanto concorrente em pé de igualdade, ocasionará uma nova Guerra Fria, que poderia se tornar quente e até mesmo nuclear. 

Mas a lógica realista nos leva apenas até determinado ponto. O papa do realismo, Kenneth Waltz, previu que, após o fim da Guerra Fria, o Japão se livraria dos grilhões da dependência dos Estados Unidos e adquiriria armas nucleares. Mearsheimer declarou que, após o fim da Guerra Fria, a Otan se desintegraria, e a Europa voltaria a ser um continente de Estados beligerantes, como antes da Guerra Fria. Ele acreditava que muitos Estados europeus, principalmente a Alemanha, provavelmente adquiririam armas nucleares. Nenhuma dessas previsões se concretizou. Na verdade, a União Europeia ficou cada vez mais unida e fortalecida nas décadas posteriores à Guerra Fria. E as forças militares do Japão continuam resolutamente não nucleares. 

É a economia que manda 

Levantei essas questões para argumentar que Mearsheimer considerou apenas uma das grandes forças que motivam Estados no sistema internacional: a política de potências. Mas há outras, como a interdependência econômica. O mundo de hoje – incluindo a China – está completamente emaranhado num complexo sistema econômico global, no qual uma guerra prejudicaria o agressor quase tanto quando a vítima. 

Quase não houve usurpações de terras desde 1945 (a mais notável exceção foi a anexação russa da Crimeia, em 2014). Isso representa uma declaração quase sem precedentes de respeito às fronteiras. Além disso, a dissuasão nuclear elevou os riscos, tornando as superpotências muito mais cautelosas em relação a lançar guerras. 

A tarefa da política externa americana é reconhecer que a tradicional política de potências tem capacidade de deter o expansionismo da China ao mesmo tempo que reconhece as maneiras pelas quais a interdependência também pode restringi-lo. Os Estados Unidos deveriam se esforçar para acionar ambas as ferramentas. Essa abordagem certamente se provará mais complicada de implementar do que alarmismos e intimidações, mas é precisamente a que deverá manter a paz mundial e a prosperidade. 

Traduzido do inglês por Guilherme Russo. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Colunista – Sábado, 30 de outubro de 2021 – Pág. A23 – Internet: clique aqui (Acesso em: 03/11/2021).

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