«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O Capitalismo Gentil [Imperdível leitura!]

FEDERICO RAMPINI
NEW YORK

Jeffrey D. Sachs - economista norte-americano
"Estamos vivendo sob os efeitos de um colapso financeiro, mas a crise financeira é somente uma parte de um problema mais amplo: as dinâmicas sociais ligadas à globalização. O que está acontecendo na zona do Euro não se compreende de outro modo: como os Estados Unidos, muitas nações europeias não enfrentaram a dimensão social da globalização; os ricos se dissociaram, abandonando o resto da sociedade ao seu destino". 

Jeffrey Sachs é um dos economistas mais famosos do mundo. Docente da Columbia University de Nova    York onde dirige o Earth Institute [Instituto Terra], no passado, Sachs exercitou a sua análise e a sua verve polêmica, sobretudo contra dois alvos: a falência das tradições políticas de ajuda ao desenvolvimento; e a destruição do ambiente. 


Em seu último livro, O Preço da Civilização, que sai na Itália por Codice Edizioni, o tema é ainda mais próximo de nós: é a nossa crise, as causas, a terapia para sair dela. O título se refere às taxas: quase parafraseando a definição que Tomaso Padoa-Schioppa deu delas, Sachs vê nos impostos o preço a ser pago para a construção de uma sociedade solidária, um pacto social inclusivo, um civil de conviver. Nesta entrevista, Sachs me explica, também, por que a sua análise reavalia o modelo social europeu, na sua versão mais bem sucedida. 

O mundo inteiro olha para a eurozona como o epicentro da nova crise. Para o senhor, no entanto, é somente um capítulo de uma história geral?
Jeffrey Sachs: A crise europeia é a manifestação final dos efeitos patológicos da desregulamentação financeira, que exaltou a mobilidade dos capitais, agigantou o poder dos bancos em nossos sistemas políticos, conduziu para bolhas especulativas, bolhas imobiliárias, acumulações de débitos. Todos os países desenvolvidos estão envolvidos: Estados Unidos, Europa, Japão. O ponto de partida comum remonta há 25 anos atrás, à ascensão da China na economia global, ao modo pelo qual este fenômeno foi administrado politicamente, às suas consequências sociais: um aumento das desigualdades, o empobrecimento dos trabalhadores e da classe média. Esta evolução do capitalismo contemporâneo enfraqueceu as democracias, o peso do dinheiro na política aumentou desmesuradamente: a Itália de Silvio Berlusconi foi um exemplo extremo, mas também a América sofre de um problema análogo.


Em seu livro, de fato, o senhor não se ocupa somente de economia, mas invoca a construção de uma "sociedade consciente". Mais que o capital financeiro, interessa-lhe o capital social, em particular as "virtudes cívicas". E, ao final, o modelo que lhe agrada mais, encontra-o justamente na velha Europa?
Jeffrey Sachs: Há uma parte da Europa que está caminhando bem, é a Escandinávia. Eu sou um social democrata, admiro o modo como os países nórdicos enfrentam esta crise. Não procuram resolver tudo por meio de cortes das despesas sociais. Encontraram um feliz equilíbrio entre um modelo industrial alicerçado sobre as produções de alta qualidade, as tecnologias avançadas, juntamente com um notável nível de investimentos públicos a favor  da escola e das políticas familiares. São países que não voltam as costas aos pobres.


"O Preço da Civilização:
despertando a virtude americana e a prosperidade"

Último livro de Jeffrey D. Sachs
Isto que o senhor diz da Escandinávia é um tabu nos Estados Unidos, onde em plena campanha eleitoral a direita demoniza qualquer intervenção pública e, inclusive os democratas não se sentem de desafiar abertamente a atmosfera antiestado. 
Jeffrey Sachs: A retórica dominante no discurso político americano indica como única solução da crise cortes na despesa pública. Mas uma análise séria dos países que têm os melhores resultados em nível internacional, nos revela que são aqueles que mais investem em favor dos jovens. Aqui em Nova Iorque, os restaurantes de luxo estão cheios, se respira a atmosfera de um novo boom, a vida para quem está no topo é uma festa, não houve jamais tanto dinheiro em circulação, e o candidato republicano, Mitt Romney, pode impunemente fazer sua escalada à Casa Branca mesmo sendo um multimilionário com as contas bancárias offshore [no exterior]. Na Itália, também, vocês conheceram uma era de conluio entre política e dinheiro. Países como Estados Unidos e Itália não fizeram nada para enfrentar os deslocamentos e os traumas da globalização. O problema é enfrentado corretamente por aquelas socialdemocracias onde, a cada criança que nasce, procura-se garantir um percurso de oportunidades: serviços sociais à família, escolas públicas de qualidade, assistência sanitária. 


O paradoxo da eurozona, porém, é um país como a Alemanha que em sua casa possui um modelo social avançado, mas está impondo aos outros políticas de austeridade que empobrecem o bem-estar.
Jeffrey Sachs: É o mesmo erro que é cometido nos Estados Unidos: basta escutar os ataques da direita contra a reforma sanitária de Barack Obama, que se reforçaram mesmo após a sentença da Suprema Corte. A direita americana continua a repetir que a única solução é menos Estado, mais mercado. Enquanto as melhores socialdemocracias europeias demonstram que o Estado presta serviços - por exemplo, para a saúde - em modo menos custoso e mais eficiente que o setor privado. Ocorre que, de fato, pelo efeito da ideologia ou de interesses constituídos, a crise está conduzindo muitos governos a abandonar os mais fracos ao seu destino.

No Preço da Civilização o senhor se ocupa da raiz política destes males. Mesmo sendo um economista, o senhor vê causas em outros lugares: na política, na erosão das virtudes cívicas. Inclusive, no ambiente universitário.
Jeffrey Sachs: A degradação vem dos vértices. Em 25 anos de docência universitária vi uma deterioração da ética, mesmo nas grandes faculdades de elite dos Estados Unidos: o poder das grandes empresas enfraqueceu o senso ético entre muitos professores. Em toda parte, vemos uma epidemia de comportamentos criminais e corruptos nos vértices do capitalismo. Os escândalos bancários não são exceções nem erros, são o fruto de fraudes sistêmicas, de uma avidez e de uma arrogância sempre mais difusas. Mesmo na Europa, os bancos contam mais, agora, que os governos. No mundo, impõem-se métodos cínicos à la Rupert Murdoch. Não é uma decadência generalizada da sociedade civil, é um fenômeno que se refere, prevalentemente, às elites, são elas que possuem um senso de privilégio, de direitos adquiridos. Vocês têm Berlusconi, em outras nações o conluio acontece de modo indireto; o resultado, no entanto, é sempre aquele de criar no público um rumor de fundo, confusão e distração dos problemas verdadeiros.

Como pode reagir a sociedade civil? O senhor teve uma experiência disso, recentemente, participando da Conferência do Rio sobre o ambiente, no vintésimo aniversário da primeira conferência?
Jeffrey Sachs: A experiência que tive no Rio é iluminadora. Em relação a 1992, a situação do meio ambiente piorou. E, mesmo assim, o empenho dos governos se enfraqueceu: nesta conferência do Rio nenhum dos grandes líderes veio. Em compensação, houve uma extraordinária atenção e participação da sociedade civil, dos cientistas, das ONGs. Os políticos são controlados por poderes fortes, enquanto a opinião pública é muito mais consciente que vinte anos atrás. É a falência da política, o que me induz a procurar em outro lugar formas de ação diversificadas. Quando apareceu o movimento Occupy, eu o vi como um sinal premunitivo: mesmo no início do New Deal, a mudança teve origem fora dos partidos tradicionais.


Tradução do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.


Fonte: la Repubblica.it - 04/07/2012 - Internet: http://ricerca.repubblica.it/repubblica/archivio/repubblica/2012/07/04/il-capitalismo-gentile.html?ref=search

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.