«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 11 de agosto de 2012

O padre que freia a ferrovia


Alessandra Mangiarotti
Corriere della Sera
08-08-2012
Pe. Dario Bossi - missionário comboniano italiano
O paralelismo com o episódio bíblico é tão óbvio que o padre Dario Bossi ouviu-o ser relembrado várias vezes nos últimos tempos: "Desculpe-me, padre, mas agora você não se sente um pouco como Davi depois do confronto com o gigante Golias?". Ele reflete, sopesa as palavras, e depois, com grande humildade, mas também com imensa satisfação, admite: "Sim, mas eu não estive sozinho nessa batalha: foram muitos aqueles que puxaram a funda". E Golias acabou no chão.
O gigante abatido pelo pequeno missionário comboniano que chegou ao Brasil vindo de Varese, na Itália, é o gigante da mineração Vale [do Rio Doce], ao qual um juiz, Ricardo Macieira, intimou a suspender os trabalhos de ampliação da sua linha de Carajás: 900 quilômetros de ferrovia, das minas de ferro da empresa até o porto de São Luís, atravessando o Estado amazônico do Pará

"Um projeto de 28 bilhões de dólares que – explica o padre Dario por telefone –, com a abertura de novas minas imensas e a ampliação do porto, havia sido aprovado como uma pequena intervenção que, por isso, pôde escapar da avaliação de impacto ambiental e do consenso da população". Para dar uma ideia de como são "pequenas" essas obras, o missionário acrescenta: "Hoje, nessa linha, viajam todos os dias 24 trens de 330 vagões. Amanhã, uma vez duplicada a ferrovia, eles gostariam de transitar um comboio a cada 25 minutos, 58 por dia. E como cada trem, com a sua carga de ferro, poluição e barulho, tem quatro quilômetros de comprimento, e a sua passagem dura cinco minutos, isso significa sequestrar todos os dias um quinto de vida das pessoas que vivem ao longo desses trilhos". Como os 104 mil habitantes de Açailândia, no Maranhão, onde o padre Dario Bossi tem a sua missão. 

"E, em particular, as 380 famílias do bairro de Piquiá de Baixo – diz – ameaçado pelos alto-fornos, sem filtros, onde é processado pig iron, o ferro dos porcos, de tão poluente". Ele chegou aqui, "terra do conflitos gerados por uma exploração forte que anula o futuro", há cinco anos, depois de seis anos passados com os jovens de Pádua e outros quatro vividos em São Paulo, ao lado dos jovens em conflito com a lei. 

Ele tem 40 anos e partiu ainda muito jovem de Samarate, cidade de 16 mil habitantes do Varesotto, seguindo as pegadas de um frade do lugar que se tornou quase um santo no Brasil. "O padre Daniele, falecido em 1917 entre os leprosos. Era o meu destino vir até aqui". E aqui ele encontrou a batalha dos habitantes dos 27 municípios, 100 comunidades ao todo, que convivem com a ferrovia. "Acima de tudo, nativos quilombolas, descendentes dos escravos africanos, que sofrem mais do que os outros o impacto desse neocolonialismo que saqueia sem dar".
Ricardo Macieira - juiz federal

No seu blog, o padre Dario escreveu: "O rio Pindaré desce lenta e amplamente, no inverno, ao lado de vilarejos no profundo interior deste nosso Maranhão. Grupos de famílias se instalaram nas terras às margens do rio: uma pequena reforma agrária que interrompe, com lacunas, as terras de fazendeiros. Perto da margem corre em paralelo um outro fluxo: a ferrovia da Vale, que transporta 300 mil toneladas de minério de ferro por dia para exportação. Esse trem do lucro não se detém, não conhece obstáculos. Subverte, mata, desperta com o seu barulho ensurdecedor e racha as paredes de barro de casas em meio às quais ele passa". 

Assim, quando os trabalhos pela duplicação começaram, ele apresentou um recurso juntamente com o Conselho Indigenista Missionário, à sociedade dos direitos humanos do Maranhão e ao Centro de Cultura Afro, com a bênção da Rede Justiça nos Trilhos. O juiz estabeleceu que esses trabalhos deviam ser imediatamente suspensos, porque a licença concedida à Vale pelo Instituto do Meio Ambiente era irregular. E tudo foi suspenso. 

Agora, é esperado um novo veredito de segundo grau. E Davi, o missionário que chegou ao Brasil vindo de Varese, já tem no bolso as outras quatro pedras coletadas no rio para se preparar para as próximas batalhas com o gigante de ferro.

Tradução de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 10 de agosto de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/512276-o-frei-que-freia-a-ferrovia

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