«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quatro revoluções fundamentais poderiam mudar o Vaticano

Jean-Marie Guénois
LE FIGARO [Jornal de Paris, França]
08-04-2013

A personalidade do novo papa é consideravelmente diferente da do seu antecessor, Bento XVI. 
Uma mudança que pode provocar mudanças significativas no funcionamento da Igreja

Oficialmente, vai tudo bem. É a continuidade. “Não necessita contrapor” dois papas que, embora – à parte o essencial, que é a fé católica – sejam diferentes em tudo: o estilo, a cultura, a experiência pastoral, a visão da Igreja, a visão do mundo.
JEAN-MARIE GUÉNOIS - jornalista francês
No Vaticano há dificuldade de falar de “rompimento”. Essa palavra é banida na Igreja. Mesmo assim, há olhos que se levantam para os céus ante o gosto do papa Francisco por “novidades”.

Na primeira semana, a atitude nova do papa era “muito compreensível”.  Aquele arcebispo argentino ainda era tal, embora tendo se tornado o 266° papa da  história.

Na segunda semana, muitos achavam que ele não podia continuar assim. Que poderia muito bem começar a “comportar-se como o Papa”. Que é o seu “trabalho de papa”, deixando perder os “seus gostos e suas opções pessoais”. Mas a terceira semana confirmou tanto o espírito livre quanto o caráter e a determinação desse homem. Não se deixará puxar pela manga. Quer fazer evoluir o sistema. Assim, as coisas sérias começam hoje e prosseguirão no verão. O mundo está fascinado, mas o Vaticano está em estado de choque!

1. Uma visão diferente da autoridade papal?

Ao recusar-se a usar a palavra “papa” que pronunciou raríssimas vezes, Francisco diz muito sobre sua visão do papado. É o “bispo de Roma”. Ele nunca deixa de insistir nisso. Portanto, não é uma afetação de linguagem. É “pontífice romano” no sentido de edificador de pontes em direção “à periferia”. Os “outros” são os “que não creem” ou que vivem uma outra fé religiosa. Ele insistiu, por exemplo, três vezes sobre a importância das boas relações com o Islã. Poder-se-ia avançar nesta fórmula: Bento XVI foi um papa do interior da Igreja Católica, Francisco deseja voltar-se para o exterior.

Mas não é sua preocupação pastoral em tocar as almas e os corações de todos e, em particular, dos mais distantes, que se torna um problema. Na verdade, esse impacto vem sendo elogiado. Os cardeais escolheram deliberadamente esse jesuíta “de choque” para despertar a Igreja a esse respeito.

O que se interroga é sobre o seu novo modo de exercitar a autoridade papal. Não deseja pôr-se acima, mas “no meio” de seus irmãos bispos. O primeiro entre eles, visto que é bispo de Roma, mas no sentido do serviço. “Quem está mais no alto deve estar a serviço”, confidenciou aos jovens menores da prisão de Roma, dos quais lavou os pés na Quinta-Feira Santa.

Alguns já veem uma “dessacralização” da função, enquanto outros, mais fora da Igreja, estão tranquilizados por esse desenvolvimento. Uma diferença de orientação mais forte do que parece, dado que o sistema eclesiástico é fortemente centralizado e hierarquizado ou, pelo menos, tudo andava nesse sentido no transcorrer dos últimos anos. Mas o papa Francisco não é dessa opinião. Como jesuíta inteligente, está pilotando com tato essa “normalização” da função papal, mas não é certo que todos os que o elegeram haviam previsto tal inversão de tendência.

2. Uma mudança de atitude exterior, também na liturgia?

No pequeno mundo eclesial, há padres amantes das belas liturgias e outros que atribuem importância menor ao fato de celebrar a missa de forma perfeita. “Não é um liturgista”, diz-se quando alguém que, mesmo sendo um bom padre, não segue ao pé da letra todos os detalhes litúrgicos. Até do Papa Francisco se diz em Roma que “não é um liturgista”. Ao contrário de seu predecessor, Bento XVI, que o era. Não tinha então reintroduzido a forma do rito antigo – dizer a missa em latim – agora admitido como forma extraordinária?

Não celebrava ele mesmo em latim, com as costas voltadas para o povo, na sua capela privada com respeitoso cuidado? Mesmo em comparação com o pontificado de João Paulo II, as cerimônias e os paramentos pontifícios assumiram, sob Bento XVI, muito maior rigor, amplitude e magnificência.

Papa Francisco – já o mostrou com seu modo um tanto interior, mas também muito despojado, de celebrar a missa – não se sente muito confortável com uma certa pompa vaticana. Ter desejado, por exemplo, manter desde a sua chegada, a sua veste litúrgica branca e a sua simples mitra de arcebispo é um sinal. Talvez superficial aos olhos de muitos, mas Bento XVI passou o seu pontificado – e também a sua vida como bispo e cardeal – a corrigir alguns “excessos litúrgicos” que considerava “uma simplificação e profanação” que arriscavam, segundo sua opinião, minar a própria essência da fé católica. No entanto, parece claro que o Papa Francisco, embora tendo a mesma profundidade de homem de Deus do seu predecessor, não o seguirá no âmbito litúrgico. Não é verdadeiramente esse o seu caminho.
PAPA FRANCISCO saúda cardeais na Praça de São Pedro - Vaticano
3. Uma mudança de política na interpretação do Concílio Vaticano II?

Em dezembro de 2005, o papa Bento XVI marcou o seu pontificado com um “discurso à Cúria Romana” no qual explicou sua intenção de pôr termo à aplicação do Concílio Vaticano II (1962-1965), “interpretada” como um rompimento com a mais antiga tradição da Igreja Católica. Para promover, ao contrário, uma reconciliação entre tradição e modernidade. Assim fazendo, Bento XVI defendeu um retorno à carta do concílio. E combatia abertamente aqueles que, na Igreja, – começando pelo clero e por um bom número de bispos –, não tinham jamais verdadeiramente considerado a “carta”, atendo-se somente ao “espírito do concílio”. Ou seja a “abertura da Igreja para o mundo” dessa reforma católica.

Não obstante todas as precauções oratórias ouvidas nesses dias no Vaticano com o objetivo de minimizar essa diferença, ao que parece, sem exagero – e considerando as tomadas de posições precedentes do cardeal Bergoglio em suas redes de amizade –, a cultura do novo papa é fortemente inspirada pelo “espírito do Concílio”.

Durante os primeiros escrutínios do conclave 2005, que elegeu o papa Bento XVI, ele foi apoiado pelo cardeal jesuíta Martini e por um grupo, dito “progressista”, que incluía o cardeal belga Danneels. Alguns haviam até mostrado Bergoglio como o candidato “anti-Ratzinger”. Uma atitude que o jesuíta, hoje papa, refutava profundamente. Pôs-se em um nível diferente. Sabe-se, por outro lado, que, para o conclave deste ano, esse argentino não era absolutamente o candidato do “apartamento”... Em outras palavras, do papa que sai, mal o conhece.

Mas foi eleito papa, por sua vez, contra todas as probabilidades. Deverá lidar com a situação, assumindo ao mesmo tempo a grande responsabilidade “política” de guiar a Igreja Católica. É claro que não é um teólogo famoso, mas, sim, um pastor excepcional. Não deveria preocupar-se com as sutilezas “da carta” e “do espírito” do Concílio Vaticano II, mas procurar aplicá-lo especificamente para trazer o rebanho ao redil. Trabalhando em particular, em direção à “periferia” da Igreja e não nas sacristias. E pedindo um olhar da América Latina, resolutamente otimista, sobre o mundo tal como é.

4. Mudança no governo da Igreja: quando e como?

Reina uma atmosfera especial no Vaticano. Muitos sentem bem que a era Bento XVI está passando, mas que a era do seu sucessor está cheia de incertezas, não sobre a qualidade da pessoa e ainda menos sobre seu carisma, mas sobre as decisões concretas que tomará. Muitos acreditam que essa questão da reforma da cúria começará “antes do verão”.

Mas a ousadia das declarações mordazes do padre Cantalamessa, pregador oficial da Casa Pontifícia, na Sexta-Feira Santa, na Basílica de São Pedro, diante do Papa e de toda a Cúria Romana, não tranquilizaram.
Citando Kafka, exortou a Igreja a não se tornar um “castelo complicado”. Afirmou que “o excesso de burocracia, os resíduos de cerimoniais, leis e controvérsias passadas” – os “impedimentos que podem reter o mensageiro” – tornaram-se “agora apenas detritos”. E que “é chegado o momento” em que precisa haver “a coragem de abater” os “muros divisórios de salas e quartos pequenos” para “restaurar ao edifício a simplicidade e a linearidade de suas origens”. A sua conclusão atingiu como um raio: “Foi a missão que recebeu um dia um homem que orava ante o crucifixo de São Damião, em Assis: ‘Vá, Francisco, e repara a minha Igreja’.”  Para bom entendedor…

Tradução do francês por Anete Amorim Pezzini.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 10 de abril de 2013 - Internet (tradução): http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519168-quatro-revolucoes-fundamentais-poderiam-mudar-o-vaticano; (original em francês): http://www.lefigaro.fr/mon-figaro/2013/03/31/10001-20130331ARTFIG00144-quatre-revolutions-fondamentales-pourraient-changer-le-vatican.php

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