«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

51ª Assembleia Geral da CNBB. Vinho novo em odres velhos?

Sérgio Ricardo Coutinho*
Prof. Sérgio Ricardo Coutinho

No último dia 10/04, os mais de 360 bispos, da maior Conferência Episcopal do mundo, deram início à sua 51ª Assembleia Geral. O tema central deste ano é “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”.

Ao que tudo indica, os bispos resolveram finalmente enfrentar um dos desafios propostos pela 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e caribenho, que se reuniu em 2007, em Aparecida (SP): a necessidade de conversão pastoral (DA 370) e, consequentemente, de “abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DA 365) para que a Igreja deixe de lado uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. E uma destas estruturas, já ultrapassadas, é a paróquia. Mas, pretendem os bispos acabar com esta experiência, mais que milenar, ou vão tentar “salvá-la” dando-lhe um rosto novo?

De fato, coincidentemente, esta Assembleia Geral da CNBB acontece em um clima de novidades e de até algumas “rupturas” que o mundo católico vem acompanhando por meio dos gestos e palavras do novo papa Francisco. Em sua Audiência Geral de 27/03, Francisco convocava a Igreja para “abrir as portas” e sair ao “encontro dos outros” (ou como ele insiste em dizer: “ir para as periferias da existência”) e lamentava a atual situação da paróquia que nada tem de “missionária”: “que lástima, tantas paróquias fechadas!”.

Será uma tarefa árdua para o episcopado brasileiro durante estes dias de discussão, pois a paróquia é, como bem observou o Pe. José Antônio Almeida, um dos fenômenos eclesiais de longuíssima duração e que hoje apresenta uma série de dificuldades (“Paróquia, comunidade e pastoral urbana”, Paulinas, 2010).


De um ponto de vista histórico-sociológico, hoje a paróquia continua sendo uma instituição típica de Cristandade com seu caráter fortemente rural, onde ainda predomina, em muitos lugares, a liderança autocrática, vivendo sob um modelo sociocultural reacionário, de ação pastoral limitada e fechada sobre si mesma.

Além disso, é uma organização de massa onde, nas missas, os fiéis estão um ao lado do outro, mas sem comunicação entre si, não formando uma comunidade; desenvolve algumas atividades religiosas e cultuais, mais para clientes (consumo de bens religiosos) que para fiéis (comunidade de filhos e filhas de Deus).

Permanece vítima de seu caráter territorial e alheia aos outros ambientes sociais. Perdeu mobilidade e acabou se confundindo com a exterioridade física: a matriz, a casa paroquial, a secretaria, as obras paroquiais. Por isso, reduzida a um gueto sacral e administrativo, a paróquia se transformou num imóvel em que se prestam alguns serviços advindo da demanda religiosa tradicional.

Sua prática mais constante não é o testemunho/anúncio do Evangelho (martyría), nem o serviço (diakonía), mas o culto (leitourghia). Tem mantido e reforçado, ao longo dos séculos, o privilégio de celebrar os sacramentos. Ela responde a um modelo sacral onde os lugares de culto são evidentes: o templo, o altar, o sacrário, o batistério, o confessionário e, em alguns lugares, o cemitério. Neste sentido, tudo gira em torno do pároco, que é um “sacerdote”, isto é, um homem do culto. É responsável pela administração em todos os sentidos e em toda abrangência. A paróquia, em última análise, é o “senhor pároco”!

Também podemos dizer que a paróquia tornou-se uma instituição econômico-financeira. O maior volume do financiamento da Igreja passa pelas paróquias, desaguando, depois, nas dioceses e, finalmente, na Santa Sé. Os recursos são muito mais voltados para financiar suas atividades-meio que suas atividades-fim, sobretudo em relação à formação de pessoas, à alavancagem das atividades pastorais e à missão.
Igreja Matriz e Casa Paroquial típicas de uma cidade de interior
Como já é tradicional nas preparações de suas Assembleias anuais, o Secretariado-geral da CNBB organiza uma Comissão do Tema-Central (formada por bispos e peritos) para a produção de um primeiro texto para estudos e debates. Esta Comissão preparou um “texto-mártir” que foi enviado a todos os bispos antes da Assembleia para que possam propor as primeiras correções, emendas e supressões.

Solicitei também o mesmo a alguns especialistas, que conheço, em sociologia, bíblia e pastoral que leram e criticaram a 1ª versão do texto. O teor das observações feitas por estes revela bem qual o tipo de proposta inicial de discussão do tema central desta Assembleia.

A palavra “nova” existe apenas no título (“Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”). Na verdade o documento apresenta sugestões para “salvar” a velha paróquia. A impressão que o documento deixa sobre esta proposta de “comunidade de comunidades” é que se está procurando reajustar um edifício que vai só cuidar das “rachaduras” e de agregar-se novas salas ou corredores. Seria bom que os bispos lessem os últimos trechos da homilia de Frei Cantalamessa na celebração da Sexta-feira da Paixão durante a primeira Semana Santa do Papa Francisco.


[Para se ter acesso ao texto integral desta homilia, em português,
clique sobre este link:

Ora, o que hoje se propõe é que o modelo paroquial não somente seja melhorado, senão radicalmente repensado na linha da eclesiologia do Vaticano II. Seria necessário abandonar uma perspectiva da paróquia como um edifício de múltiplos usos, com muitas novas salas ou habitações conjugadas. Em vez disso, a paróquia deveria ser uma comunidade itinerante, profética e missionária mais do que um edifício de culto e de múltiplos serviços eclesiásticos.

O documento traduz uma mentalidade clerical tanto em sua linguagem, quanto em seu esquema e na visão que apresenta dos problemas e das soluções. Percebe-se uma ausência de contribuições e análises vindas do laicato. Daí, uma ausência sistemática das CEBs. Elas aparecem definidas, mas não explicitadas e surgem em meio aos movimentos apostólicos, novas comunidades e grupos eclesiais.

Percebe-se também a ausência de uma séria reflexão sobre o Presbítero necessário para coordenar esta paróquia “renovada”. Que tipo de padres temos hoje? Que Presbítero hoje está capacitado para esta paróquia “moderna”? Como lembrou, em um artigo, o Pe. José Comblin: “que o clero atual não tem condições para aplicar esse programa”.

Pois bem, vamos acompanhar o desenvolvimento deste importante evento eclesial e verificar qual será o produto destes dias de trabalho colegial. Esperamos que o “magistério” do papa Francisco seja levado a sério pelo episcopado brasileiro, caso os bispos desejem que a Igreja no Brasil seja verdadeiramente missionária.

* Sérgio Ricardo Coutinho é presidente do Centro de Estudos em História da Igreja na América Latina (CEHILA-Brasil) e professor da História da Igreja, no Instituto São Boaventura e de Formação Política e Econômica do Brasil e de “Teoria Política” no Centro Universitário IESB, em Brasília.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Segunda-feira, 15 de abril de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519269-51o-ag-da-cnbb-vinho-novo-em-odres-velhos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.