«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O fruto proibido


Johan Konings*

O fruto proibido representa, simbolicamente, o interdito, o tabu, o limite imposto ao ser humano

“A historinha do pecado original quer dizer simplesmente que Deus, para o bem do ser humano, impõe limite a seu desejo insaciável”. Retomemos, pois, a história da maçã (Gênesis cap. 2-3)!

A Bíblia conta que Deus colocou “o ser humano” (o texto original lê “o Adão”, com artigo definido) no melhor mundo possível, como jardineiro do paraíso, e, para tirá-lo da solidão, providenciou-lhe uma “ajuda adequada”, a mulher. Deus explicou ao ser humano e à sua companheira que tinham à sua disposição as frutas de todas as árvores, inclusive da árvore da vida, menos o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas aí veio a serpente, animal rasteiro e astuto, e inspirou a Eva o desejo daquele único fruto; e ela comeu, e Adão também. Com as consequências que conhecemos.

Adão e Eva podem comer de todas as frutas do paraíso, menos uma, que eles têm de deixar intacta, para que não pensem ser iguais a Deus. É verdade que foram criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1,26-27), para representá-lo (‘imagem’, estátua) e para agir como ele (‘semelhança’: exercer domínio). Mas, ainda que "semelhantes", eles não são iguais a Deus, não devem ocupar seu trono! Ora, exatamente porque lhes ensina o limite, a fruta daquela árvore lhes dá conhecimento do bem e do mal: ensina-os a distinguir o que é bom ou mau para eles. Infelizmente, eles vão querer exatamente esse único fruto... 

O fruto proibido representa, simbolicamente, o interdito, o tabu, o limite imposto ao ser humano. Parece o contrário, mas é verdade: tendo um limite, o ser humano é livre, pois pode optar, escolher. Pode optar por respeitar o limite ou não. Livre arbítrio. E se optar por não respeitar o limite, vai conhecer as consequências. 

Esse simbolismo nos ensina ainda outra coisa: se o ser humano romper sua lealdade a Deus e quiser tornar-se igual a ele – assim nos conta o narrador –, também a árvore da vida vai lhe ser interditada: ele vai conhecer a morte. A penalidade do interdito é a morte: a transgressão separa o ser humano daquilo que Deus lhe oferece, a vida

Podemos também dizer: o fruto simboliza o critério do bem e do mal. Pois bem, esse critério está reservado a Deus. Querer comer desse fruto é querer ser igual a Deus. Quando o ser humano se apropria do critério do bem e do mal, ele se faz de deus; então, é melhor interdizer-lhe também a árvore da vida, pois o ser humano é criatura, não é feito para ser Deus

À nossa interpretação opõe-se, antagonicamente, outra, bem ao gosto de certa modernidade que exalta a absoluta autonomia do ser humano. Segunda essa interpretação, Eva e Adão teriam feito um ato de heroísmo, um pouco como o herói grego Prometeu, que roubou o fogo dos deuses. Esta interpretação diz que o fruto deu a Eva e Adão o conhecimento do bem e do mal, o conhecimento radical. Só que, para isso, eles (e nós) pagaram o preço... Não acredito que esta seja a interpretação certa. É muito grega, pouco bíblica. No espírito da Bíblia, o que dá ao ser humano a sabedoria da vida é a opção de respeitar o conhecimento do bem e do mal, ou seja, de aceitar que ele não pode tudo.

Os antropólogos dizem, com razão, que o interdito é o início da civilização. A Bíblia chama isso de Torah, "Instrução" (de modo infeliz traduzido por "Lei"). A instrução (a educação!) tira o ser humano de sua animalidade, assim como as regras da linguagem o fazem sair da comunicação meramente instintiva (e como há no mundo atual humanóides que só produzem grunhidos!). O animal segue seu instinto, o ser humano opta e decide

O interdito é correlativo à liberdade. Liberdade não é fazer o que o instinto inspira, mas o que se quer na base de uma opção responsável. Na antiga Grécia, a liberdade era a característica do cidadão. Em Roma, os filhos de família eram chamados "liberi", termo que significa também "livres". Por isso, a criança "testa" os pais, para ver onde vão pôr o limite que lhe vai permitir agir como os humanos. É até interessante ver como a criança se opõe instintivamente ao limite que inconscientemente ela deseja! E à medida que ela aceita o limite e “conhece o bem e o mal” – as alternativas de sua opção –, ela progride em humanidade. 

Sem esse "mítico" limite (que na realidade toma as formas mais diversas), seremos animais selvagens, e os capítulos seguintes da Bíblia (Gênesis 4 a 11) contam alguns exemplos disso. Sem o limite, teremos, como observou uma leitora de meu texto anterior, “terroristas, neonazistas, estupradores” etc. Os jornais estão cheios disso.

Portanto, não foi para chatear que Deus inventou o fruto proibido! Mas quando a nossa liberdade não vence nossa cobiça, que sempre quer exatamente aquilo que não é para nós (a goiaba no jardim do vizinho, ou na parte do jardim que Deus se reservou), então ...

* Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara. 

Fonte: domtotal.com - Colunas - 24/04/2013 - Internet: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=3550

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