«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 16 de dezembro de 2017

3º Domingo do Advento – Ano B – Homilia

Evangelho: João 1,6-8.19-28

6 Surgiu um homem enviado por Deus; Seu nome era João.
7 Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele.
8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz:
19 Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: «Quem és tu?»
20 João confessou e não negou. Confessou: «Eu não sou o Messias».
21 Eles perguntaram: «Quem és, então? És tu Elias?». João respondeu: «Não sou». Eles perguntaram: «És o Profeta?». Ele respondeu: «Não».
22 Perguntaram então: «Quem és, afinal? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo?»
23 João declarou: «Eu sou a voz que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor”.» - conforme disse o profeta Isaías.
24 Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus
25 e perguntaram: «Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?».
26 João respondeu: «Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis,
27 e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias.»
28 Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

EM MEIO DO DESERTO

Os grandes movimentos religiosos nasceram, quase sempre, no deserto. São os homens e as mulheres do silêncio e da solidão os que, ao ver a luz, podem converter-se em mestres e guias da humanidade. No deserto não é possível o supérfluo. No silêncio somente se escutam as perguntas essenciais. No deserto somente sobrevive quem se alimenta do interior.

No Quarto Evangelho, o Batista fica reduzido ao essencial. Não é o Messias, nem Elias retornado à vida, não é o profeta. É «uma voz que grita no deserto». Não tem poder político, não possui título religioso algum. Não fala a partir do Templo ou da sinagoga. Sua voz não nasce da estratégia política nem dos interesses religiosos. Vem do que escuta o ser humano quando mergulha no essencial.

O pressentimento do Batista pode ser resumido assim: «Há algo maior, mais digno e portador de esperança do que aquilo que estamos vivendo. Nossa vida deve mudar radicalmente». Não basta frequentar a sinagoga aos sábados, de nada serve ler rotineiramente os textos sagrados, é inútil oferecer regularmente os sacrifícios prescritos pela Lei. Não dá vida qualquer religião. Há que se abrir ao Mistério do Deus vivo.

Na sociedade da abundância e do progresso, está se tornando cada vez mais difícil escutar uma voz que venha do deserto. O que se ouve é a publicidade do supérfluo, a divulgação do trivial, o palavrório de políticos prisioneiros de sua estratégia e até discursos religiosos interesseiros.

Alguém poderia pensar que não é mais possível conhecer testemunhas que nos falem a partir do silêncio e a verdade de Deus. Não é assim. Em meio ao deserto da vida moderna, podemos encontrar pessoas que irradiam sabedoria e dignidade, pois não vivem do supérfluo. Gente simples, excepcionalmente humana. Não pronunciam muitas palavras. É sua vida que fala.

Essas pessoas nos convidam, assim como o Batista, a deixarmo-nos «batizar», a submergirmos em uma vida diferente, receber um novo nome, «renascer» para não nos sentirmos produto desta sociedade nem filhos do ambiente, mas filhos queridos de Deus.

FALTAM TESTEMUNHAS DE DEUS

A figura de João Batista, “testemunha da luz”, mais uma vez nos lembra que todo crente, se o é de verdade, é chamado a dar testemunho de sua fé.

“Em nossa Igreja sobram papéis e faltam testemunhas”. Talvez, com estas expressivas palavras, se apontava para um dos mais cruciais problemas do cristianismo atual.

Durante muitos anos, continuou funcionando entre nós os mecanismos que, tradicionalmente, serviam para «transmitir» a fé. Os pais falavam aos filhos, os professores de religião a seus alunos, os catequistas aos catequizandos, os sacerdotes aos leigos.

Não faltaram palavras. Porém, talvez, faltou testemunho, comunicação de experiência, propagação de algo vivido de maneira profunda e íntima.

Durante estes anos, muitos se preocuparam da possível quebra da ortodoxia e do depósito da fé. E precisamos, sem dúvida, cuidar com fidelidade da mensagem do Senhor. Porém, nosso maior problema não é, provavelmente, o depósito da fé, mas sim a vivência dessa fé depositada em nós!

Outros se preocuparam mais em denunciar todo tipo de opressões e injustiças. Por um momento, parecia que por todos os lados surgiam novos “profetas”. E quanta necessidade continuamos a ter de homens de fogo que proclamem a justiça de Deus entre os homens. Porém, com frequência, junto às palavras, faltaram testemunhas cuja vida arrastasse as pessoas.

Talvez, a primeira coisa que nos falta para que surjam testemunhas vivas é a
“experiência de Deus”.

Karl Rahner [notável teólogo católico alemão do século XX] solicitava, há alguns anos, que “temos de reconhecer, de uma vez por todas, a pobreza da espiritualidade” na Igreja atual.

Sobram-nos palavras e nos falta a Palavra. Transbordamos de ativismo e não percebemos a ação do Espírito entre nós.

Falamos e escrevemos de Deus, porém não sabemos experimentar seu poder libertador e sua graça viva em nós.

Poucas vezes vivemos a acolhida de Deus desde o profundo de nós mesmos e, portanto, raramente chegamos com nossa palavra cristã ao fundo das demais pessoas.

Crentes mudos que não confessam sua fé. Testemunhas cansadas, desgastadas pela rotina ou queimadas pela dureza dos tempos atuais.

Comunidades que se reúnem, cantam e saem das igrejas “sem conhecer àquele que está no meio deles”.

Somente a acolhida interior ao Espírito pode reanimar nossas vidas e produzir entre nós “testemunhas do Deus vivo”.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B (Homilías) – Internet: clique aqui.

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