«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A metamorfose de Deus

“Deus não mora mais aqui?”

Marco Rizzi
Professor de Literatura Cristã Antiga da Università Cattolica del Sacro Cuore, em Milão
Corriere della Sera
16-12-2018

O que acontece com a prática religiosa na Europa?
Livraria Waanders in de Broeren
Funciona dentro de uma igreja em estilo gótico na Holanda, após a venda o edifício

No final de novembro passado na Universidade Gregoriana de Roma - a universidade dos jesuítas - se reuniram clérigos, sociólogos e historiadores da arte para responder a uma pergunta um tanto surpreendente para aquele local: «Deus não mora mais aqui?» Mais prosaicamente, a conferência abordava o problema das igrejas que deixaram de ser usadas para o culto devido ao declínio na prática religiosa na Itália, identificando novas funções que permitam conservar uma continuidade com o passado, preservar o seu valor histórico e artístico e evitar a sua transformação em livrarias, bares ou - até - discotecas, como aconteceu, por exemplo, na Holanda e na França.

Quem, neste mesmo período, estivesse passeando pelo centro de Moscou, limpo e arrumado por ocasião da Copa do Mundo de Futebol no verão passado, teria encontrado igrejas e mosteiros lotados, pessoas fazendo o sinal da cruz (da maneira ortodoxa, tocando primeiro o ombro direito e depois o esquerdo), enquanto passavam na calçada em frente, e mesmo aqueles que não hesitavam em beijar e se ajoelhar diante do ícone da Trindade de Andrei Rublev, conservada no museu Tretyakov (que tomou prudentemente medidas para protegê-la com um vidro especial).

É suficiente concluir que, como já foi dito, «na Europa apenas os países ortodoxos ainda têm fé»?

Na verdade, uma leitura cuidadosa dos resultados da pesquisa realizada em 2017 e publicada no meio deste ano pelo Pew Research Center de Washington permite fazer considerações mais sutis. Embora, em termos gerais, – ou seja, considerando o conjunto dos indicadores, tais como a fé em um Deus, a importância da religião na vida, a frequência na liturgia e na oração - Romênia, Armênia e Geórgia ocupem o pódio com 50% da população que pode ser considerada muito religiosa, e no outro extremo encontramos Estônia, Dinamarca e República Checa, com um dado entre 7% e 8%, enquanto Portugal aparece em linha com a Polônia, cerca de 40%, deixando assim para trás muitas nações ortodoxas.

Se forem considerados os indicadores individuais, o quadro parece ainda mais complexo e, no mínimo, contraditório: por exemplo, os Países Baixos [Bélgica e Holanda] surpreendentemente ultrapassam a Rússia no que diz respeito ao número daqueles que rezam diariamente e se coloca logo atrás da Itália (20% e 21%, respectivamente, em linha com a média continental que é de 22%), mesmo que as posições entre as duas nações se invertam em relação ao percentual daqueles que creem com certeza absoluta em Deus.
Igreja Brew Works em Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos da América
Essa igreja foi dessacralizada e, hoje, é uma boate

No total, se consideram cristãos cerca de 7 em cada 10 europeus, que, no entanto, em sua grande maioria frequentam pouco ou nada as igrejas; além disso, aquela apresentada pela Bíblia continua a ser a imagem mais compartilhada de Deus para a maioria dos habitantes do Velho Continente.

Caso se queira uma interpretação geral, pode-se afirmar que se assiste a um processo de separação entre a prática religiosa, fé individual e identidade pessoal, em que a tradição cristã assume mais o caráter de um marcador cultural: por exemplo, apenas 12% dos ingleses acredita firmemente em Deus, mas 20% frequenta a igreja pelo menos uma vez por mês, algo que se explica pelo caráter ainda totalmente nacional da Igreja anglicana.

Trata-se de um processo confirmado por outros aspectos da pesquisa, entre os quais o recurso cada vez mais frequente a apelos religiosos ou até mesmo confessionais no debate político europeu.

Olhando melhor, no entanto, isso não é um fenômeno totalmente novo.

O que parece estar mais em crise não é a religião ou o cristianismo em si, mas a particular configuração que a religião cristã assumiu na Europa ocidental a partir do rompimento marcado pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma, no século XVI.

A partir daquele momento as Igrejas, católicas, protestantes ou reformadas, elaboraram em conjunto com os Estados um sistema de normas doutrinais e comportamentais que efetivamente regulamentava a inteira sociedade e o indivíduo, enquanto os países de tradição ortodoxa permaneciam ligados a um modelo muito mais fluido e menos intelectualizado. A crise daquele sistema está, portanto, reconduzindo a Europa ocidental a formas de prática religiosa semelhantes àquelas ortodoxas, menos rígidas e mais ocasionais.

As igrejas institucionais não parecem ter entendido completamente a mudança que está ocorrendo. Uma reportagem realizada entre a Europa e as Américas pela revista Der Spiegel, reproduzida na Itália pela Internazionale, bastante crítica em relação ao atual pontificado, relata a opinião de um anônimo expoente da cúria de Mônaco da Baviera: «Quem pensa apenas no que está nas margens, logo se depara com um buraco no centro». Trata-se de uma crítica aberta à atenção do Papa Francisco pelas «periferias».

Observando os dados ao longo do tempo, imediatamente se percebe como no início do século passado:
* os católicos europeus fossem 67%,
* nas Américas 27%, enquanto
* África e Ásia/Oceania somavam, para o total, apenas 1% e 5%, respectivamente;
em 2015:
* a Europa contribui para o número total de católicos na medida de 22% (era 27 na virada do milênio),
* as Américas com 49%,
* a África 17,
* a Ásia/Oceania com 12%, sendo estes últimos continentes em crescimento constante.
Capela que transformada em restaurante em BRUTON, na Inglaterra

Quando se considera como no âmbito do cristianismo mais em expansão, aquele dos movimentos e das Igrejas livres evangélicas, que a Coreia do Sul seja o país que produz o maior número de missionários, ainda tem sentido pensar na Europa como centro do cristianismo?

Apesar das profecias, Deus não está morto, porém ele está mudando de casa e mudando de rosto.

Traduzido do italiano por Luisa Rabolini. A versão original do artigo é encontrável aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 19 de dezembro de 2018 – Internet: clique aqui.

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