«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

O Catolicismo em Análise

“Pobre catolicismo que nunca chegou
a ser cristão!”

José Ignacio González Faus
Padre jesuíta e teólogo espanhol
Religión Digital
07-12-2018

Por mais incompreensível que pareça, Deus é o infinitamente distante,
o incrivelmente próximo e o profundamente íntimo
José Ignacio González Faus

“Catolicismo não cristão”. A frase pode parecer dura, mas não é minha. Em 1933, Fernando de Los Ríos (um dos pioneiros da Instituição livre de Ensino) escreveu: “pobre catolicismo espanhol que nunca chegou a ser cristão!”. Retire a dose de exagero que possa ter. Contudo, hoje, prefiro me fixar na dose de verdade que ela tem.

Pouco depois, Romano Guardini publicou uma de suas obras mais famosas (A essência do cristianismo). Nela dizia que a essência do cristianismo é simplesmente Jesus como o Cristo. E o que gostaria de destacar agora é que há algumas formas de catolicismo conservador onde Jesus está praticamente ausente e parece substituído por outros pseudocristos.

Confessar Jesus como o Ungido, o encharcado de Deus (isso significa Cristo), implica lhe seguir em seu anúncio e em seu trabalho que ele chamava “reinado de Deus”. Esse reinado de Deus (consequência do anúncio jesuânico de que Deus é pai de todos) significa que o ser humano está acima de todo o sagrado (Mc 2,27-29), que os condenados da terra são os preferidos de Deus (Lc 6,20-26), que aquilo que é feito a eles, se faz a Deus (Mt 25,31ss), que o seguidor de Jesus deve perdoar e amar os inimigos (Mt 5,43-38) e que há uma incompatibilidade entre Deus e o dinheiro (Mc 10,17 ss)...

O catolicismo não cristão esquece (ou desconhece) esses traços do anúncio jesuânico. Ao esquecê-los, na realidade, não segue a Jesus como Cristo de Deus e o substitui por outros “pseudocristos”, que talvez apelarão à palavra Cristo, mas lhe dando um rosto distinto ao de Jesus. Os exemplos mais frequentes são:

1. Uma cristificação do bispo de Roma. No século XIX, chegou-se a escrever que o papa é como “o Verbo encarnado que se prolonga” e foram atribuídas a ele expressões que a tradição cristã aplicava a Jesus Cristo (“mais alto que os céus, santo e separado dos pecadores...”). O título de “Santo Padre”, que ainda usamos tranquilamente, é um vestígio disso. E hoje estes grupos acusam Francisco de “Desacralizar o papado”, ignorando que a heresia está em eles terem sacralizado o papado.

2. Uma piedade mariana que não parece dirigida a simples jovem de Nazaré, mas a uma figura semidivina, ou a uma deusa grega coroada como Rainha e vestida com algumas joias que Maria nunca utilizou. De maneira vaga, ela é envolvida em uma auréola de pureza etérea que se condensou na expressão “ave Maria puríssima”, que não incomoda ninguém. Contudo, se fosse pedido a eles que a substituíssem por uma “ave Maria pobríssima”, negariam, ignorando que dessa pobreza brota a pureza de Maria.

3. Uma devoção à eucaristia convertida em uma espécie de “Deus feito coisa”, desligada da Ceia de despedida de Jesus e de seus gestos de partir o pão (símbolo da necessidade) e passar a taça (símbolo da alegria). Assim coisificado, Deus pode ser adorado tranquilamente e podemos ir comungar quase à margem de toda a celebração eucarística, só para “receber graça”, mas sem que essa graça nos leve a compartilhar a necessidade e a comunicar a alegria.

4. Um último traço desse catolicismo não cristão pode ser uma forma de relação “contratual” com Deus, que nos permite torná-lo propriedade nossa, bastando que cumpramos nossa parte do contrato. Justamente a relação com Deus que Jesus criticou como “farisaísmo”: tendo a Deus como propriedade privada nossa, somos os melhores e podemos nos sentir superiores aos outros. É aquela velha anedota (colocada nos lábios de uma pobre velhinha, mas que está em muitos corações não tão velhos): “o papa pode mudar o que quiser, mas, ao final, nós, os de sempre, é que vamos nos salvar”.

E “nos salvaremos” porque esse tipo de catolicismo substituiu a confiança, que é o mais característico da fé, pela segurança que nos liberta da entrega confiada. Por isso, costumo dizer que o maior inimigo da fé verdadeira não é propriamente a incredulidade, mas a tentação da segurança.

Realmente, é pouco cristão esse panorama, ainda que se apresente como “muito católico”. Seu traço mais distintivo não é a confiança em Jesus, mas o medo de Jesus e de seu anúncio desse “reinado de Deus” que, por assim dizer, horizontaliza todas as verticalidades pseudorreligiosas. E faz isso não substituindo a vertical pela horizontal (coisa que Jesus nunca pensou), mas, sim, sustentando a horizontal na vertical.

Nesse sentido, o típico do cristianismo frente a outras cosmovisões, religiosas ou descrentes, é a síntese, impossível talvez, mas que é preciso estabelecer, entre a máxima afirmação da Transcendência e a mais plena afirmação da imanência: a entrega completa ao que está além e a plena dedicação ao aqui. Porque, por mais incompreensível que pareça, Deus é o infinitamente distante, o incrivelmente próximo e o profundamente íntimo.

Tomara, pois, que quando Azaña disse aquilo de que a “Espanha deixou de ser católica”, tenha desejado dizer que a Espanha está começando a poder ser cristã...

Traduzido do espanhol pelo Cepat. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 11 de dezembro de 2018 – Internet: clique aqui.

Revisão da pastoral e da catequese

Giovanni Giavini
Settimana News
08-12-2018

Sobre esses pontos, ainda estamos longe

Na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco supõe e propõe uma revisão da pastoral e da catequese. Eu concordo e tento concretizar isso, pensando na minha vida como biblista e catequista por tantos anos na Itália.

1. Falamos sobre Deus como sendo transcendente demais ou similar demais a nós.

2. O Espírito Santo estava quase completamente ausente. O próprio Pai contava pouco.

3. Sacramentos e rituais sim, escuta da Palavra pouco.

4. A liturgia reduzida a ritos, rubricas e preceitos, mais que ao seu espírito.

5. Eucaristia: interesse excessivo na presença real e na adoração, em detrimento do resto.

6. Catecismo mais do que o Evangelho (Catecismo da Igreja Católica, muito ideológico, mais do que aquele para os adultos, bem mais bíblico-cristocêntricos e narrativos como o eram os outros catecismos da Conferência Episcopal Italiana).

7. Cuidado pastoral das crianças mais do que dos adultos, porém com escassa atenção à escola. A iniciação cristã está mais ligada à idade física das crianças do que à idade psicológica e social.

8. Oração: mais o terço e outras devoções do que a oração bíblica, incluindo o breviário.

9. Sufrágios pelos mortos mais do que a oração pelos vivos e atualidade.

10. Maior valor salvífico para Nossa Senhora (ou Nossas Senhoras) e Santos/as do que para Jesus.

11. Forte ênfase nas leis mais do que na graça; forte acento sobre o Decálogo mais do que sobre o Sermão da montanha.

12. Consequente ênfase na virtude e no mérito à custa da humildade e fé no amor misericordioso do Senhor.

13. Enorme preocupação com a pureza sexual às custas daquela do coração, da consciência pessoal.

14. A penitência reduzida quase somente ao sacramento mais do que à vida de penitência na caridade.

15. Igreja reduzida ao clero, aliás, ao papa e à hierarquia no contexto de um certo tipo de tridentismo e da quase adoração do papa, na linha do Vaticano I (Pio IX: «O papa pode decidir, inclusive sem o consentimento da Igreja» !!!).

16. Sacerdócio: apenas aquele clerical-celibatário, em detrimento daquele de todo o povo de Deus. Formação no seminário mais para o sacerdócio de culto e de celibato do que para o ministério do pastor de uma comunidade.

17. Exclusão (pelo menos teórica) da mulher da vida da Igreja.

18. Importância para tradições, até mesmo banais, mais do que para a Tradição (ignorância dos Padres e da história da Igreja, assim como da Bíblia). Natal (ou pior) mais do que a Páscoa.

19. Atitude geral mais de defesa e de condenação do que de escuta e de valorização do bem e do justo presente em todos os lugares, especialmente em outras Igrejas e religiões.

20. Igreja e mundo mais em contraposição do que em diálogo.

Tudo isso sem esquecer quanto de bem, apesar dos limites, hierarquias e leigos realizaram, especialmente no campo da caridade. Tudo quase a latere [= colateralmente] em relação às teorias!

E reconhecendo que, pelo menos desde o Vaticano II em diante, muito já foi corrigido. Com frutos mais ou menos abundantes, aliás, eventualmente com decepções em relação às expectativas conciliares.

Traduzido do italiano por Luisa Rabolini. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 11 de dezembro de 2018 – Internet: clique aqui.

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