«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

28º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 17,11-19

 Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

A fé é saber responder positivamente aos acontecimentos que a vida nos leva a encontrar

O capítulo 17 do Evangelho de Lucas, versículos 11-19, apresenta uma passagem exclusiva deste evangelista. Para interpretá-lo nos deixamos ajudar por aquelas chaves de leitura, por aquelas cifras, por aquelas indicações que o próprio autor, o próprio evangelista, coloca no texto para uma correta compreensão. Vamos ver esta passagem então. 

Lucas 17,11:** «A caminho de Jerusalém, Jesus passava pelas regiões da Samaria e da Galileia.»

Jerusalém é escrita de duas maneiras na língua grega. Uma é “Ierusalem”, que é a transliteração do nome sagrado hebraico Yerushalaym, que indica a cidade santa, a instituição. O outro é o nome geográfico, Jerozolima. Aqui, está o primeiro nome, Ierusalem, que indica que Jesus está indo para aquela que é a instituição sacra, o local mais importante da religião para seu povo. E será bem ali onde ele encontrará a morte.

 Este itinerário é estranho; para a compreensão do texto deve-se ter em mente que, enquanto a Galileia é a região ao norte da Palestina, no centro está Samaria e, depois, no sul, a Judéia com a capital Jerusalém. Então o evangelista deveria ter escrito: “atravessava a Galileia”, portanto, o norte, “a Samaria indo para Jerusalém”. Por que o evangelista traça esse estranho itinerário? Porque quer focar a atenção na Galileia, ou seja, no território de Israel. É aí que o fato a ser narrado acontece. 

Lucas 17,12: «Num dia, em que entrava num povoado, vieram ao seu encontro dez leprosos. Eles pararam a certa distância...»

Esta é outra das indicações que o evangelista (todos os evangelistas na verdade) dá para a compreensão do texto. A aldeia, anônima, nos Evangelhos, tem sempre o significado de incompreensão ou mesmo de oposição e hostilidade a Jesus e à novidade que ele traz. Por que isso? Porque a aldeia – como sabemos – é o lugar onde as modas e as novidades sempre chegam tarde, mas depois se enraízam e quando se enraízam tornam-se uma tradição difícil de erradicar. Portanto, a aldeia no Evangelho significa o lugar do “sempre se fez assim” e onde as coisas novas são vistas com desconfiança. Esta aldeia é anônima, portanto, indica esse tipo de ambiente.

Vieram ao seu encontro dez leprosos”. Isto é impossível. É impossível porque os leprosos, a partir do momento em que foi certificada a existência da lepra, eram expulsos da aldeia, deveriam viver fora da aldeia, num lugar isolado. Por que o evangelista diz que “ao entrar em uma aldeia foi recebido por dez leprosos”? Os leprosos não podem viver numa aldeia. Lucas está nos dizendo que a lepra, essa impureza, se deve justamente ao fato de eles morarem nesta aldeia.

Quem vive na tradição, quem rejeita as novidades que Deus propõe, não tem mais comunicação com o Senhor, pois ser impuro significa não ter mais comunicação. Então essa lepra, essa impureza se devem ao fato de morarem nessa aldeia.

Eles pararam a certa distância.” Os leprosos moram na aldeia, no lugar da tradição, e observam a lei. O livro de Levítico no capítulo 13, versículos 45-46, dá indicações precisas sobre como o leproso deve se comportar:

“O leproso atingido pela infecção andará com as vestes rasgadas, os cabelos soltos e a barba coberta, gritando: ‘Impuro’! Durante todo o tempo em que estiver com infecção de lepra, será impuro. Habitará só, e sua habitação será fora do acampamento”.

Lucas 17,13: «... e gritaram: “Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!”»

Eles, literalmente, o chamam de “líder/chefe”, assim como seus discípulos. Então, por um lado, vivem na tradição e, por outro, veem em Jesus a esperança de salvação que pode existir. 

Lucas 17,14a: «Ao vê-los, Jesus disse: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”.»

Jesus não cura. Por quê? Naquela época, o nome lepra significava qualquer doença de pele. E existem algumas doenças que podem, é claro, ser curadas. Mas, para ser readmitido na aldeia, era necessário ir ao sacerdote em Jerusalém que certificaria o desaparecimento dessa infecção, dessa doença. Desse modo, se obtinha uma espécie de certificado para ser readmitido na aldeia. 

Lucas 17,14b: «E enquanto estavam a caminho, ficaram curados.»

É saindo da aldeia que eles se purificam. Jesus não cura, os leprosos ficam curados quando saem da aldeia. Então é a prova de que essa impureza se devia à sua permanência nesse ambiente de tradição. 

Lucas 17,15-16: «Um deles, ao perceber que estava curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz; prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. Era um homem samaritano.»

Prostrou-se aos pés de Jesus”, atitude típica dos discípulos. Do verbo “agradecer” deriva a palavra EUCARISTIA, que significa, justamente, “ação de graças”. E aqui está a novidade, a surpresa do evangelista: esse leproso era um samaritano. É interessante que, enquanto a doença une esses leprosos judeus, galileus e samaritanos, mais tarde, uma vez curados, o único que mostra um sentimento de gratidão e reconhecimento não é alguém pertencente ao povo de Israel, mas o que era considerado o mais distante, um pecador, impuro desde o nascimento, portanto, excluído de qualquer relacionamento com Deus. Ele era um samaritano.

É uma característica deste evangelista ver que os modelos de fé, neste evangelho, são sempre estrangeiros ou sempre as pessoas mais distantes. Jesus já havia elogiado a fé do centurião, a fé da prostituta, a da mulher com hemorragia e a do cego.

Quanto mais as pessoas são consideradas distantes de Deus, mais há esse sentimento de gratidão nelas; elas percebem imediatamente os sinais de Deus em sua vida.

Lucas 17,17-18: «Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não se achou senão este estrangeiro para voltar e dar glória a Deus?”»

Dar glória a Deus era privilégio de Israel. Bem, este privilégio que era exclusivo de Israel é agora para toda a humanidade, incluindo os samaritanos. É a única vez que o termo “estrangeiro” aparece no Evangelho, e estrangeiro significa o inimigo, o rejeitado, de forma positiva. 

Lucas 17,19: «E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.»

De acordo com Lucas, Jesus continua esse ensinamento sobre o que é a fé. A fé não é um dom que Deus dá a alguns, mas a resposta dos seres humanos ao dom de amor que Deus dá a todos.

Aqueles que percebem esse amor e respondem, isso se chama fé. Aqui, vimos o que o próprio Jesus diz: todos os dez foram curados, mas apenas um voltou, isto é, respondeu a esta cura. E isso é FÉ. Portanto, a fé não é um dom que Deus dá a uns e a outros menos, mas a resposta dos seres humanos ao dom de amor que Deus dá. E o que é fé?

A FÉ é saber responder positivamente aos acontecimentos que a vida nos leva a encontrar.

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“A gratidão é o único tesouro dos humildes.”

(William Shakespeare: 1564-1616 – foi dramaturgo e poeta inglês, reconhecido como o maior dramaturgo de todos os tempos)

Quem se encontra, verdadeiramente, com Deus é alguém que não resiste a adorá-lo, glorificá-lo e render-lhe graças pelo amor e o bem que dele recebeu! Essa é a atitude daquele ex-leproso, que, ao perceber que poderá viver, doravante, uma vida digna e feliz, retorna jubiloso, radiante e agradecido para junto de Jesus. Sua alegria e seu grito de reconhecimento não podem ser detidos, abafados, pois é algo que brota de dentro, espontaneamente. 

Porém, a atitude dos outros nove leprosos nos confronta com uma realidade muito triste e, infelizmente, muito atual entre nós! Em suas origens, as religiões, de modo geral, não destacavam Deus ou outros deuses, mas rituais que visavam integrar as pessoas em um grupo/comunidade, bem como, tranquilizar, dar segurança às consciências dessas pessoas. Disso surgiram, por exemplo, os sacrifícios, tanto de animais como de seres humanos, e os rituais funerários. Por isso, até hoje, os rituais religiosos produzem mais o efeito de fazer a pessoa se sentir um bom cidadão e em tranquilidade com a sua consciência. 

Por incrível que possa parecer, esse apego mais aos ritos, às tradições religiosas faz existir um cristianismo sem Cristo, uma pretensa fé sem o Evangelho! O rito adquire vida própria, importância própria, tornando-se autônomo do motivo pelo qual cremos. Isso representa um enorme perigo para o cristianismo, para ficar em nossa própria religião! Como constatou, muito bem, o teólogo espanhol José María Castillo:

«Aquele que cumpre com a prática e se submete à sua observância, se sentirá tranquilo e verá, a si mesmo, como um bom sujeito social. Porém, sem dar-se conta, incorrerá em atos desumanos, de cuja aberração não é consciente. É o mecanismo de conduta que explica o comportamento da violência da religião. Por isso, existiram e segue existindo, homens muito religiosos que chegam, até, a matar com a consciência do dever cumprido

Portanto, os nove leprosos que foram curados por Jesus, muito observantes da religião judaica, foram apresentar-se aos sacerdotes, em Jerusalém. No entanto, não tinham um coração capaz de gratidão! Será, justamente, o samaritano, alguém sem religião ou de religião “equivocada” (segundo os judeus), que fará aquilo que é extremamente humano: ser grato, ser reconhecido, ser gentil ao que o curou! Essa atitude, que impressionou a Jesus, também, deve servir de exemplo e modelo para todos nós nos tempos atuais! 

Mais vale uma pessoa que seja HUMANA, de verdade, do que muito religiosa e pouco propensa à gratidão, ao amor, à misericórdia! A religião de Jesus, como ele mesmo fez questão de deixar claro, é aquela que valoriza mais a misericórdia do que o sacrifício:

«Ide, pois, aprender o que significa: “Misericórdia eu quero, não sacrifícios”. Com efeito, não vim chamar justos, mas pecadores.» (Mateus 9,13; 12,7 – citando Oseias 6,6)

Ou o cristianismo nos torna mais humanos e, por isso, mais atentos e solícitos uns para com os outros, ou não será a religião de Cristo!

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

« Senhor Jesus, da solidão e do isolamento eu vim para ti, com todo o peso e vergonha do meu pecado, da minha doença. Gritei, confessei, pedi misericórdia a ti, que és amor. Tu me escutaste antes mesmo que eu pudesse terminar minha pobre oração; mesmo de longe tu me conheceste e me acolheste. Tu sabes tudo sobre mim, mas tu não estás escandalizado, tu não me desprezas, tu não te afastas. Tu me disseste, apenas, para não ter medo, para não me esconder. Bastou, apenas, confiar em ti, para abrir um vislumbre do coração e tua salvação já me alcançou, já senti o bálsamo de tua presença. Compreendi que tu me havias curado. Então, Senhor, eu não poderia fazer a menos que voltar para ti, para dizer, ao menos, obrigado, para chorar de alegria. Eu pensei que não tinha mais ninguém, que eu não poderia conseguir, que jamais poderia sair disso. E, em vez disso, tu me salvaste, tu me deste outra chance de recomeçar. Senhor Jesus, graças a ti não sou mais leproso! Joguei fora minhas vestes que estavam em frangalhos e vesti a roupa de festa. Rompi o isolamento da vergonha, da dureza e comecei a sair de mim mesmo, deixando minha prisão para trás. Levantei-me, ressuscitei. Hoje, contigo, estou começando a viver novamente. Amém.»

(Fonte: Maria Anastasia di Gerusalemme Cucca, O.Carm. Contemplatio. 28ª Domenica del Tempo Ordinario. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico C. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 601)

Assista Esta Meditação em Vídeo:


Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXVIII Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 13 ottobre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 03/10/2022).

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