«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

29º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 18,1-8

 Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano

 

Deus faz justiça aos marginalizados

O capítulo 18 do Evangelho de Lucas começa com um ensinamento de Jesus que não é sobre oração, mas sobre fé. Não uma oração insistente, mas a fé. O que significa a fé? Confiar, acreditar profundamente, que Deus realiza o seu plano. E qual é o plano de Deus? Seu reino. Sobre oração Jesus já falara extensivamente aos seus discípulos no capítulo 12 e outros. Ele apresentou Deus como um Pai que cuida do bem de seus filhos, um Pai que não somente atende às necessidades deles, mas se antecipa a elas! Um Pai que, como Jesus disse, sabe o que precisamos.

Portanto, não há necessidade de listar nossos pedidos a ele, porque o Pai já os conhece. E Jesus, concluindo este ensinamento sobre a oração, disse: “Buscai, pois, o seu Reino, e essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Lucas 12,31).

O reino é o objeto da oração. Tanto que Jesus na oração do Pai Nosso o inserirá com o pedido: “Venha a nós o vosso reino”. O que é este reino? Uma sociedade alternativa. Portanto, essa passagem que estamos lendo agora, capítulo 18 versículos de um a oito do Evangelho Segundo Lucas, não é um ensinamento sobre a insistência da oração para um Deus que é surdo e deve ser implorado. Este é o Deus dos pagãos, ele não é o Pai de Jesus. 

Lucas 18,1:** «Jesus lhes propôs uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de orar sempre, sem nunca desistir:»

É um ensinamento sobre a certeza das promessas de Deus que se cumprem, mesmo que, na aparência, possa parecer o contrário. Jesus está se dirigindo aos discípulos, esses discípulos que mostraram que não têm o mínimo dessa confiança. Aqui o ensino não é sobre oração, a oração é um meio, mas o ensino é sobre a justiça.

De fato, o termo justiça, nesta passagem do evangelho, aparecerá quatro vezes. É a justiça do reino, esta sociedade alternativa que Jesus veio propor. 

Lucas 18,2: «“Numa cidade havia um juiz que não tinha temor a Deus nem respeito por homem algum.»

O retrato que Jesus faz do juiz é o de uma pessoa poderosa e soberba. E o anúncio que Maria fez neste Evangelho com seu canto nos lembra imediatamente qual é o plano de Deus para a criação, mas um plano que, para ser realizado, precisa da colaboração das pessoas. Maria havia dito que Deus “dispersou os soberbos... Depôs os poderosos de seus tronos” (Lucas 1,51b.52a). E aqui temos um poderoso que é soberbo, orgulhoso! Prossegue Maria: “exaltou os de condição humilde. Encheu de bens os famintos e despediu os ricos sem nada” (Lucas 1,52b-53). Este é o plano de Deus e é nesta confiança que Jesus insiste. Esta é a fé que seus discípulos devem ter e para a qual devem agir, colaborar. 

Lucas 18,3: «Na mesma cidade havia uma viúva, que procurava o juiz e lhe pedia: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’»

A imagem da viúva na Bíblia representa a pessoa que, não tendo um homem que pense nela, está à mercê de todos, é a pessoa marginalizada, sem proteção, a mais necessitada. E Deus na Bíblia é chamado de “o defensor das viúvas” (Sl 68,5), porque Deus se preocupa com essas criaturas que são marginalizadas.

Esta é a primeira vez que aparece o termo “justiça”, que aparecerá quatro vezes nesta passagem. 

Lucas 18,4-5: «Durante muito tempo o juiz se recusou. Por fim, pensou: ‘Não tenho temor a Deus, nem respeito por homem algum, mas como essa viúva me está importunando, vou fazer-lhe justiça, para que não venha, por fim, a me agredir!”’»

O juiz reconhece que não teme a Deus. O retrato que Jesus faz do poderoso é atroz. Quando o juiz diz: “me agredir”, literalmente é “fazer um olho roxo”! A preocupação dele é que a viúva venha a prejudicar sua reputação. 

Lucas 18,6-8a: «E o Senhor acrescentou: “Escutai bem o que diz esse juiz injusto! E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam dia e noite? Ele os fará esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa.»

Este é um convite aos seus discípulos. E aqui está a lição que Jesus dá. Gritar dia e noite nos salmos do Antigo Testamento é uma imagem do clamor dos oprimidos (cf.: Sl 22,2; 42,3; 77,2; 88,1). Assim, Jesus garante que o plano de Deus para a humanidade, o REINO, uma sociedade alternativa onde os falsos valores do ter, do mandar e do ascender sejam contrastados com os valores justos, aqueles que criam a fraternidade, ou seja, compartilhar, descer e servir. Este é o reino de Deus, a sociedade alternativa. Jesus nos assegura que isso se realiza.

Mas para isso, seus discípulos devem colaborar com ele rompendo com esses falsos valores da sociedade.

Se não o fizerem, este reino não pode ser realizado. 

Lucas 18,8b: «O Filho do Homem, porém, quando vier, encontrará fé sobre a terra?”»

É por isso que Jesus conclui com uma expressão que parece cheia de amargura. O Filho do Homem, isto é, Jesus, vem com a destruição de Jerusalém. Quando Jerusalém é destruída, a vinda do Filho do Homem é anunciada. E na verdade ele não encontra. O Evangelho de Lucas termina amargamente com os discípulos que, apesar de todos os ensinamentos de Jesus, apesar de tudo o que Jesus disse, ainda continuam frequentando o templo.

Aquele covil de ladrões que Jesus denunciou e cuja destruição ele anunciou ainda representa um valor para os discípulos, ou seja, eles não romperam com o passado, com a instituição e o poder.

E então se não rompem com isso, o Reino de Deus, essa sociedade alternativa não pode surgir. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Quando se faz justiça, o justo se alegra, mas os malfeitores se apavoram.”

(Provérbios 21,15 – tradução Nova Versão Internacional – Português)

É impressionante os links, para empregar uma linguagem atual da informática, que o evangelista cria ao redor dessa parábola:

a) oração,

b) fé e

c) justiça.

Tudo isso está interligado, por isso os links. Na base da oração está a , que significa, segundo frei Alberto Maggi: “Confiar, acreditar profundamente, que Deus realiza o seu plano. E qual é o plano de Deus? Seu reino”. E o reino de Deus é, sobretudo, uma sociedade de justiça, uma sociedade onde predomina a partilha, a humildade e o serviço ao próximo! Portanto, uma sociedade contrária a esta em que vivemos, onde o lucro, o dinheiro, o poder e a fama estão acima de todo o resto, inclusive, dos seres humanos! 

A chave de compreensão dessa parábola do juiz injusto e desumano e a viúva explorada está na sede de justiça. Pois era essa vontade de justiça que motivava a viúva em sua luta, em sua insistência e perseverança na busca pelos seus direitos, pela sua dignidade. Esse juiz encarna, perfeitamente, os poderosos que não temem a justiça de Deus, não respeitam a dignidade nem os direitos dos pobres! Enfim, os poderosos não têm FÉ! Não creem, nem buscam realizar a Vontade de Deus, o Plano dele nesta terra! Eles já possuem os seus próprios planos e interesses, os quais visam seu benefício e sucesso pessoais! 

É preciso ficar claro que os tais “escolhidos” de Deus, que clamam por ele dia e noite (Lc 18,7), não são os membros da Igreja, mas os pobres de todos os povos, que gritam pedindo justiça. Como Jesus já lhes havia dito: “vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20). 

Portanto, a fé que deve nos dar alento, nos estimular ao encontro com Deus e o seu Reino é aquela que teve a viúva injustiçada, a qual é:

* modelo de indignação,

* modelo de resistência ativa e

* modelo de coragem...

... para reclamar JUSTIÇA aos poderosos desumanos desta terra! 

O renomado teólogo alemão Johann Baptist Metz (1928 a 2019), certamente tinha razão ao denunciar que:

«Na espiritualidade cristã há demasiados cânticos e poucos gritos de indignação, demasiada complacência e pouca nostalgia de um mundo mais humano, demasiado consolo e pouca fome de justiça».

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Deus, fiel às promessas, quando o cansaço pesa sobre nós e o desânimo nos toma, dá vigor à nossa força. Muitas são as nossas dores, muitas as nossas expectativas, grandes as nossas esperanças: Tu, Pai, venha em nosso socorro e mostra-nos o teu amor, envia sobre nós o teu Espírito de paz e de unidade. Que ele seja a inspiração da nossa oração, o fogo da nossa esperança, o germe da nossa fé, o ardor da gratidão. Por Jesus, nosso Redentor, Tu nos curas da mais terrível lepra: a do pecado; tenha piedade de nós, dá-nos o perdão que nos liberta da opressão do mal porque sempre elevamos a ti o hino de ação de graças e o cântico da nossa gratidão, para dar testemunho aos nossos irmãos e alegrar-nos, junto àqueles que te são gratos, do dom dessa fé viva, que opera nossa salvação. Amém.»

(Fonte: Marino Gobbin. Orazione finale. 29ª Domenica del Tempo Ordinario. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico C. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 609-610)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXIX Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 20 ottobre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 13/10/2022).

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